Bolsonaro se achou esperto demais, mas deu de cara com a Justiça e a democracia
Por Larissa Rodrigues – Repórter do blog
A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus por tentarem dar um golpe de Estado no Brasil é algo inédito em um país que optou, no passado, por perdoar outros agentes que articularam a derrubada de governos.
Por quatro votos a um, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Bolsonaro, ontem (11), e deu fim a um histórico de impunidade, de maneira corajosa e sem ceder às pressões internas e externas a respeito do assunto.
O fato é, acima de tudo, simbólico, porque marca uma virada de página na democracia brasileira e é a comprovação de que ela, a democracia, venceu. O maior erro de Bolsonaro foi subestimar as instituições que, ao longo de sua trajetória como presidente, tanto tentou deslegitimar.
Leia maisBolsonaro se achou esperto demais. Deu de cara com a Justiça, com a resistência aos seus ímpetos autoritários e surpreendeu-se com a solidez, ainda que recente, da democracia brasileira. Talvez o ex-presidente tenha sido motivado pela própria história do país, marcada pela anistia a golpistas.
A mais recente delas foi aprovada em 1979 e perdoou os crimes políticos de agentes de Estado da ditadura militar (1964-1985) e de guerrilheiros opositores. É possível que o capitão tenha acreditado que não seria o primeiro a enfrentar a Justiça no Brasil por tentar, de forma ilegítima e violenta, se manter no poder, em detrimento da vontade popular, que escolheu o presidente Lula (PT) nas eleições de 2022.
Bolsonaro e seu grupo político, incluindo membros das Forças Armadas agora também condenados, não esperavam que o Brasil fosse finalmente seguir o exemplo de outros países da América do Sul, onde houve golpes na segunda parte do século 20.
Os vizinhos Uruguai, Argentina e Chile puniram os agentes de Estado que promoveram ditaduras militares. Nesse contexto, a condenação do ex-presidente, defensor e entusiasta da ditadura militar brasileira, é histórica e serve de exemplo para conter outros arroubos golpistas.
Pegou 27 anos – A Primeira Turma do STF decidiu condenar Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses no julgamento da trama golpista. Desses, 24 anos e 9 meses são de reclusão (ou seja, pena para crimes que preveem regime fechado) e 2 anos e 9 meses de detenção (pena para crimes de regime semiaberto ou aberto). As informações são do portal g1. Como a pena total é superior a 8 anos, Bolsonaro terá que começar a cumpri-la em regime fechado.

Humberto contra a anistia – O senador Humberto Costa (PT-PE) defendeu, na última quarta-feira (10), que não haverá anistia aos condenados pelo crime de tentativa de golpe. O parlamentar também reprovou as articulações de congressistas alinhados a Bolsonaro para aprovar a proposta. “Independentemente de qualquer movimento político de porão, como acontece por parte de alguns aqui no Congresso, não haverá anistia. É muito pacífico entre os maiores constitucionalistas deste país que não há o menor lastro jurídico que preveja indulto àqueles que atentaram contra o regime democrático e tentaram um golpe de Estado. A democracia não anistia aqueles que querem derrubá-la”, afirmou.
Trump “decepcionado” – O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump (Republicano), disse, ontem, que está “surpreso” e “decepcionado” com a condenação de Jair Bolsonaro (PL). “Eu assisti ao julgamento. Eu o conheço muito bem. Acho que ele foi um bom presidente do Brasil e é muito surpreendente que isso tenha acontecido. É muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas não conseguiram”, afirmou Trump, no jardim da Casa Branca.
Estados Unidos anunciam retaliação – Já o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou, ontem, que o seu país vai “responder adequadamente” ao que definiu como “caça às bruxas”. Em publicação nas redes sociais, Rubio acusou o ministro Alexandre de Moraes de ser um “violador de direitos humanos”. “As perseguições políticas por parte do violador de direitos humanos Alexandre de Moraes continuam, uma vez que ele e outros membros do Supremo Tribunal Federal do Brasil decidiram injustamente prender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos responderão adequadamente a esta caça às bruxas.” As informações são do jornal O Globo.

Aprovação de Lula sobe – Em meio ao acirramento da polarização no país, com o julgamento de Jair Bolsonaro e os ataques de Donald Trump em defesa do aliado, a aprovação do governo Lula (PT) subiu para 33%, melhor índice do ano, e se aproxima da reprovação, de 38%. Outros 28% acham a gestão regular. É o que revelou nova pesquisa do Datafolha, feita na última segunda-feira (8) e na terça (9). Foram entrevistadas 2.005 pessoas com mais de 16 anos em 113 cidades, gerando um resultado com margem de erro global de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
CURTAS
Nova tucana – O PSDB filiou, ontem, a educadora Ângela Coutinho, representante da oposição de Paudalho (Mata Norte). Ex-candidata a prefeita em 2024, Ângela conquistou 8.825 votos, mesmo enfrentando a máquina pública municipal. Agora, se apresenta como pré-candidata a deputada federal e mantém a defesa da educação e do desenvolvimento de Paudalho como bandeiras.
Emancipação de Ribeirão – O presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Álvaro Porto (PSDB), participou, ontem, em Ribeirão, na Mata Sul, de cerimônia em comemoração aos 97 anos de emancipação do município. Ao lado da prefeita Carol Jordão, do deputado federal Fernando Monteiro, vereadores e secretários municipais, Porto acompanhou desfile cívico de estudantes e homenagens de moradores à terra natal.
MIMO quase pronto – A prefeita de Olinda, Mirella Almeida (PSD), recebeu, ontem, a CEO do MIMO Festival, Lú Araújo, para alinhar os últimos detalhes da edição que promete movimentar a cidade com música, cinema e experiências culturais. O evento, reconhecido nacionalmente, terá apoio da prefeitura e será realizado em diferentes pontos do município, reunindo moradores e turistas em uma grande celebração artística.
Perguntar não ofende: A oposição vai ter fôlego para tentar pautar a anistia no Congresso?
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