Eduardo herdou o brilho do pai que tanto amou
Dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX, Bertolt Brecht escreveu uma pérola que vi pela primeira vez nos bancos escolares: “Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.
A ideia de homens eternos que ficam ou não pode ser interpretada como aqueles que deixam um legado duradouro, marcando a história de forma permanente. E há outros que são apenas passageiros. Armando Monteiro Filho, o Doutor Armandinho, como era tratado o pai do meu amigo Eduardo Monteiro, dirigente do Grupo EQM, do qual a Folha de Pernambuco faz parte, está na classificação dos imprescindíveis, na visão de Brecht.
Leia maisSe vivo fosse, festejaria hoje seu centenário ao lado dos filhos, netos e bisnetos. Mas Deus precisava dele lá em cima e o chamou em 2 de janeiro de 2018, aos 92 anos. Convivi pouco ou quase nada com ele, mas quando o conheci mais de perto, voltando ao território movediço da política partidária como candidato a senador, um detalhe me chamou atenção: a forte e apaixonante relação dele com o filho Eduardo.
Duas almas gêmeas entrelaçadas. Nunca vi nada igual! Compreendi, entretanto, que pai e filho tinham a mesma excelência, a excelência do bom caráter. Não há maior orgulho para um pai ouvir de outros, alheios a qualquer relacionamento familiar mais profundo, a carimbada frase: “Tal pai, tal filho”. Armando pai, Eduardo filho, eram assim: nos afagos, na determinação, na coragem cívica, na mão estendida, no abraço fraterno.
Enquanto esteve cumprindo sua missão na terra como pai, o saudoso Armandinho parece que teve dois corações – um para pulsar a sua própria vida, outro para tocar a vida do filho amado. O coração de Armando batia fora do corpo dele diante do filho. Seus olhos e seu sorriso o entregavam. Amor de pai é o mais sincero de todos, se revela num simples abraço, se manifesta no colo, nos gestos, se reflete no espelho. É perene, nunca morre.
Com Armando, Eduardo aprendeu a bondade, a andar com suas próprias pernas. Descobriu o significado da palavra amor. Vivenciou a sublime sensação de ser amado verdadeiramente – e para sempre. Armando, não tenho dúvida, foi um pai que enxergou o filho com o coração, com a pureza da sua alma, a amplitude do seu espírito. A ligação deles era maior do que o mundo, maior que a imensidão do mar, maior até do que a lua cheia.
Armando pai leu Cora Coralina e soprou no ouvido de Eduardo filho o segredo da vida: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada”. Caminhando e semeando, colheram juntos. Fizeram a escalada da montanha da vida, removendo pedras, plantando flores. Quando Eduardo viu seu velho amado partir, o mundo não parou nem tampouco acabou, mas com certeza perdeu o seu brilho.
MISSA PELO CENTENÁRIO – Hoje, ao meio-dia, na igreja Madre de Deus, no Recife Antigo, a família de Armando Monteiro Filho celebra seu centenário com uma missa. Genro do ex-governador Agamenon Magalhães, Armando Monteiro Filho conciliou a vida empresarial com a política. Foi deputado estadual e federal pelo PSD, além de ministro da Agricultura no governo João Goulart, após votar a favor da emenda que instituiu o regime parlamentarista em 1961. Como empresário, esteve à frente da Usina Cucaú, do Banco Mercantil e da Fiação e Tecelagem Ribeirão, consolidando sua atuação em defesa do setor produtivo em Pernambuco e no País.

Fora do rótulo – Ninguém, principalmente o mundo jurídico, foi pego de surpresa com o voto do ministro Luiz Fux, do STF, pela anulação do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Fux incendiou os bastidores do Supremo. Para a defesa de Bolsonaro, foi motivo de euforia: Fux apontou a incompetência do STF para julgar o caso, acendendo a esperança de anulação do processo. Na narrativa dos advogados, o ministro passa a ser visto como o único “independente” da 1ª Turma. A lógica deles é conhecida: Flávio Dino teria a marca de ex-ministro do governo Lula, Cristiano Zanin carrega o passado de advogado do petista e Alexandre de Moraes é considerado inimigo declarado de Bolsonaro. A leitura é que apenas Fux escapa desse rótulo.
Por que aceitou? – A reação dentro da Corte foi outra. O voto provocou perplexidade entre alguns colegas. A pergunta que ecoa nos corredores do tribunal é simples: se o STF é incompetente, por que o próprio Fux aceitou julgar centenas de processos dos chamados “peixes pequenos”, réus envolvidos nos atos de 8 de janeiro? O próprio Fux havia acompanhado Moraes e Dino no julgamento que recebeu a denúncia da PGR contra Bolsonaro e outros sete acusados, tornando-os réus por tentativa de golpe de Estado.
Só pelo plenário do STF – Fux sustentou seu argumento sob o entendimento de que os réus são pessoas sem prerrogativa de foro privilegiado. O ministro acrescentou que, se mesmo assim o STF tiver que julgar a ação, a Primeira Turma — composta por cinco ministros — não seria a mais adequada para fazê-lo, mas, sim, o plenário do Supremo — composto por 11 ministros. “Sinteticamente, ao que vou me referir é que não estamos julgando pessoas que têm prerrogativa de foro, estamos julgando pessoas sem prerrogativa de foro”, afirmou Fux. “Meu voto é no sentido de reafirmar a jurisprudência dessa corte. Concluo, assim, pela incompetência absoluta do STF para o julgamento desse processo, na medida que os denunciados já havia perdido seus cargos”, afirmou.

Rorró comemora PEC 66 – Presente na sessão do Congresso em comemoração a sanção da PEC 66, que deu uma folga no caixa das prefeituras, que passarão a ter um prazo mais elástico e prestação bem mais em conta do débito previdenciário, a prefeita de Floresta, Rorró Maniçoba (PP), comemorou com muita euforia. Segundo ela, o pagamento mensal do passivo previdenciário desequilibrou as finanças do município. “Agora, vamos ter uma folguinha de caixa para tocar obras”, disse a gestora, que aproveitou a passagem por Brasília para destravar projetos na Codevasf.
CURTAS
Podcast – No podcast Direto de Brasília da próxima terça-feira, em parceria com a Folha, entro no debate da CPMI do INSS. Nosso convidado é o senador Izalci Lucas (PL-DF), autor da proposta de convocação de Frei Beto, irmão do presidente Lula, vice-presidente de uma instituição envolvida no escândalo.
Em Sertânia – Na próxima segunda-feira estarei em Sertânia para uma noite de autógrafos do meu livro Os Leões do Norte. Está agendada para a Câmara de Vereadores, a partir das 18 horas, com apoio da prefeita Pollyana Abreu (PSD). De lá, sigo para Tabira, onde faço igual evento na Câmara, às 19 horas, com apoio do prefeito Flávio Marques (PT).
No Cabo – Já na sexta-feira, às 11 horas, levou Os Leões do Norte para o Cabo, na Região Metropolitana do Recife. Será no centro administrativo da Prefeitura, com a presença do prefeito Lula Cabral (SD).
Perguntar não ofende: Foi justo o voto do ministro Luiz Fux?
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