Corri meus 8 km diários hoje, em Brasília, com a camisa estampando o símbolo do amor: o presente do Dia dos Pais das minhas enteadas Maria Beatriz e Maria Heloísa. Nada mais emocionante! Elas ao meu lado com minha Nayla, que ontem virou cidadã de Arcoverde, minha segunda pátria, onde temos uma choupana.
Naquele dia, eu tinha passado a noite com ele no hospital, mesmo sem ser a minha escala. Era um sábado de manhã. Corri para casa para me arrumar, porque tinha aula de Processo Penal. Dentro de mim, havia uma certeza tranquila: logo, logo, ele iria para casa. Afinal, na minha cabeça, meu avô não ia morrer. Ele é Miguel Arraes.
Voltei e estávamos todos lá. Cada um reagindo à sua maneira. Mas uma cena me marcou para sempre: suas três irmãs – Almina, Anilda (já com um princípio de Alzheimer) e Maria Alice – estavam ao seu lado. Tia Maria Alice, chorando muito, se afastou para um canto da sala. Tia Anilda foi até ela e disse: “Pare com isso e volte. Seu irmão está morrendo e você tem que ficar com ele agora”.
Na valentia da minha juventude, pensei: “Na vida, a gente não pode ser menos firmes do que isso”.
As lembranças da nossa convivência são tão vivas e inesquecíveis que parece que foi ontem. Mas já se passaram duas décadas. Tanta coisa aconteceu desde aquele dia! Governos e figuras públicas, de todos os espectros político-partidários, ascenderam e caíram. Vivemos um golpe de Estado: sem canhões, mas político, jurídico e midiático. Retrocedemos em tantas conquistas da classe trabalhadora, muitas das quais tiveram a mão de Arraes. Lula foi preso. O clima de antipolítica abriu espaço para que uma direita fascista mostrasse a cara. Inacreditavelmente, foi eleito um presidente que defendia a tortura, a ditadura e a subserviência do Brasil ao neocolonialismo.
Mas Lula foi solto, teve sua inocência reconhecida e voltou à Presidência. Quase sofremos outro golpe, mas desta vez os responsáveis estão sendo punidos. Pernambuco cresceu e estagnou. O Brasil ficou parado por um tempo, mas agora voltou a andar. Os Estados Unidos voltaram a atacar nossa soberania, e, dessa vez, estamos reagindo com o povo consciente ao nosso lado. Será que Arraes imaginava tantas idas e vindas na História?
E eu, sua neta mais velha, que tinha 21 anos, agora já completei 41. Ah, como ele iria adorar as bisnetas! Até porque, tinha uma predileção especial pelas mulheres. Tive a oportunidade de me posicionar do lado certo da História, quando a História exigiu isso de nós. Trabalhei, realizei, exerci mandatos. Disputei seis eleições. E todos os dias, na adversidade ou no êxito, lembrei dele. Sempre me perguntei: “O que Arraes faria?”
Se conheço Pernambuco inteiro, é porque, todos os dias, faço um pouquinho mais para ser parecida com ele, que é minha inspiração, meu modelo na política. Em cada canto do nosso Estado, sempre me encontro com Arraes: no rosto sofrido do homem e da mulher do campo; no trabalhador da cidade que luta por dignidade; naquele distrito aonde só se chega depois de uma hora por estrada de chão, mas que tem energia elétrica porque Arraes levou. Quando vejo alguém de cabeça erguida, lutando pelo Brasil e por direitos, em tudo isso vive Miguel Arraes.
No final das contas, a Marília de 21 anos estava certa: claro que meu avô não morreu. Ele é Miguel Arraes.
*Advogada e presidente do Solidariedade em Pernambuco
Polarização derrubou qualidade do Congresso Nacional, diz Vital do Rêgo
Por Larissa Rodrigues – Repórter do blog
O que domina a política é a capacidade de falar. O Parlamento é um local de troca de ideias e de soluções consensuais. Mesmo na divergência, deve-se chegar a consensos. Mas, no Brasil, a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo está impedindo que as casas legislativas cumpram seus papéis de dialogar e de trabalhar pelo povo.
Essa é a opinião do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro Vital do Rêgo. Ele foi o entrevistado de ontem (12) do podcast Direto de Brasília, comandado pelo titular deste blog. Para Vital, a confusão gerada pela polarização levou a extremismos ideológicos, por si só antagônicos, e que apenas atrapalham o País.
O presidente do TCU lamentou que, atualmente, o Congresso Nacional esteja parado. “Não existe pauta no Congresso. Sou de um órgão que tem um respeito enorme pelo Congresso e tenho por ele, minha casa por muito tempo, um respeito imenso, até porque sou presidente de uma Casa que é um braço técnico do Congresso Nacional. Vejo com muita tristeza que nós não estamos fazendo política”, declarou Vital do Rêgo.
O presidente é profundo conhecedor do ambiente legislativo. Entrou para a vida pública aos 25 anos e foi vereador, deputado estadual, federal e senador, pela Paraíba. Em 2014, por indicação do Senado, assumiu o cargo de ministro do TCU, algo que considera o “coroamento” da trajetória. Com a experiência de tantos anos na política, ele salientou que Câmara e Senado estão desalinhados com as necessidades do Brasil.
“É complicado para os presidentes das Casas ter uma agenda positiva para o País, uma agenda que construa teses, reformas e faça melhorias que possam atender ao cidadão. Ao fim e ao cabo, o que eu tenho dito sempre no TCU é: o cidadão é quem importa, é a pessoa que importa”, avaliou.
A politização das taxas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil piorou o cenário polarizado, acredita o ministro, prejudicando algumas cadeias dependentes do comércio com o país comandado, atualmente, por Donald Trump. Entre elas, as mangas e uvas do Vale do São Francisco e o pescado. “Essas cadeias precisam ser apoiadas pelo Governo Federal para que tenham condições de desviar os Estados Unidos de suas rotas e não demitam funcionários”, defendeu.
Vital do Rêgo fez um alerta importante**:** não se deve misturar a economia com a política partidária. “A política vive da economia do momento, define resultados de eleições. Mas a economia não pode se juntar com a política partidária nem com a individualização de pessoas. O ex-presidente Bolsonaro (PL) não precisaria que Trump interviesse aqui para garantir os direitos que ele tem, ao estar sendo julgado”, assinalou.
Obras inacabadas – O presidente do TCU falou sobre o painel de obras federais inacabadas criado pelo Tribunal em 2020. Há construções de mais de 20 anos abandonadas. De acordo com Vital do Rêgo, o levantamento é atualizado a cada seis meses e todo ano o TCU recomenda ao Governo Federal as ações necessárias para diminuir o número de obras inacabadas no Brasil. Atualmente, são 11.500 obras paradas, sendo 70% nas áreas da saúde e da educação. “Muitas vezes, a obra está inacabada por falta de fluxo de caixa. Outras vezes, por desvio doloso, e, em outras, por imperfeições funcionais”, relatou.
João mantém vantagem – O prefeito do Recife, João Campos (PSB), vem mantendo a vantagem nas pesquisas em relação à disputa de 2026 contra a governadora Raquel Lyra (PSD). De acordo com levantamento publicado, ontem (12), pela Paraná Pesquisas, João tem 57% das intenções de voto para governador, contra 24% de Raquel. O bolsonarista Gilson Machado aparece em terceiro com 6,2%.
Mas deve manter pé no chão – Apesar da vantagem, o prefeito deve manter a cabeça fria e o pé no chão, porque faltam muitos meses ainda para as eleições. Não pode se deixar levar pelo clima de “já ganhou”, sob risco de escolher estratégias equivocadas. É bom lembrar que os candidatos que apresentavam vantagens nas duas últimas disputas não venceram (Armando Monteiro, em 2018, e Marília Arraes, em 2022). É continuar trabalhando como se fosse o último colocado.
Saída para exames autorizada – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou, ontem (12), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a deixar a prisão domiciliar, no próximo sábado (16), para realizar exames médicos. A autorização foi solicitada pela defesa de Bolsonaro. Ele tem apresentado refluxo e sintomas de “soluços refratários”, segundo os advogados. Moraes liberou a realização de exames, mas cobrou atestado de comparecimento do ex-presidente ao Hospital DF Star, em Brasília. As informações são do g1.
Mais peritos para Caruaru – O ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT), informou que Caruaru (Agreste), sua cidade natal, receberá quatro novos peritos médicos federais para atuar de forma permanente na agência local do INSS. Segundo ele, as nomeações já estão em processo e integram uma agenda nacional de fortalecimento da Previdência Social, na qual Pernambuco está entre os Estados mais contemplados. O objetivo é reduzir filas, agilizar o atendimento e assegurar direitos.
CURTAS
Contra assédio nos aeroportos – Com o tema “Assédio não Decola”, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (RP), deu início, ontem (12), no Aeroporto de Brasília, à campanha para combater o assédio nos aeroportos nacionais e promover a conscientização de passageiros e profissionais sobre como identificar, prevenir e denunciar esse tipo de violência. O evento contou com autoridades dos Ministérios das Mulheres, Direitos Humanos, representantes de concessionárias e da sociedade civil.
Alepe debate criminalização do Brega Funk – A Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Alepe vai promover audiência pública sobre a criminalização de festas e eventos de jovens, em sua maioria negros, em espaços públicos e privados. Com o tema “A Criminalização do Brega Funk e da Cultura Periférica: Quando a festa incomoda mais do que a desigualdade”, a audiência seria hoje, mas foi adiada porque recebeu mais inscritos do que o auditório Sérgio Guerra comporta. A iniciativa é de Dani Portela (Psol), que vai soltar nova data.
Um alívio para Raquel – A deputada Débora Almeida (PSDB), governista, foi sorteada pela Comissão de Justiça da Alepe para relatar o novo pedido de empréstimo, no valor de R$ 1,7 bilhão, encaminhado pela governadora Raquel Lyra (PSD) ao Poder Legislativo. A escolha foi recebida com entusiasmo entre os aliados do governo, que veem na nomeação um sinal positivo para a tramitação do projeto.
Perguntar não ofende: Será que hoje, finalmente, o administrador de Noronha, Virgílio Oliveira, terá a indicação aprovada no Plenário da Alepe?