“Brasil é uma democracia e candidato que perde não pode querer dar golpe”, diz Ricardo Cappelli
Por Larissa Rodrigues – Repórter do blog
No dia 8 de janeiro de 2023, durante os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em Brasília, 44 policiais militares ficaram feridos após as agressões dos vândalos que não aceitaram o resultado das eleições de 2022. O relato é pouco comentado porque a ênfase, quando se fala daquele dia fatídico, é no ataque às instituições e à democracia. Mas pessoas poderiam ter perdido suas vidas, a exemplo dos policiais em serviço.
Os bastidores dos atentados golpistas estão registrados no livro O 8 de janeiro que o Brasil não viu, de Ricardo Cappelli (PSB), atual presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Cappelli foi o entrevistado de ontem (5) do podcast Direto de Brasília, comandado pelo titular deste blog.
Leia maisDurante 23 dias daquele janeiro, Ricardo Cappelli foi o interventor da Segurança Pública do Distrito Federal e descreve, na obra, diversos fatos ocorridos no período com o objetivo de deixar o registro histórico “para que jamais se repita”.
“Tem diálogos importantes ainda não revelados. Tem o contexto em que se deram várias decisões que nós tomamos. É um livro de história, mas também de gestão de crise. Naquele momento, era preciso administrar uma crise inédita na história do Brasil, um ataque às sedes dos Três Poderes por vândalos que destruíram tudo”, destacou o autor.
Cappelli tocou em uma questão central absolutamente ignorada pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): o Brasil é uma democracia. Ponto. Não há o que espernear quanto a isso. “Todo mundo pode votar em quem quiser. Pode votar na direita, na esquerda, no centro. Agora, você não pode, porque o seu candidato perdeu, querer dar um golpe de Estado. Não pode, porque o seu candidato perdeu, querer quebrar tudo, agredir as pessoas”, enfatizou.
Na opinião do ex-interventor, há indícios suficientes para que o ex-presidente Bolsonaro seja condenado. Ele reforçou a necessidade de aguardar a decisão da Justiça e o devido processo legal, para que Bolsonaro tenha direito a apresentar sua defesa e o contraditório. Mas frisou: “Pelo conhecimento que tenho, há elementos de sobra para a sua condenação.”
Tarifaço e “postura de bandido” – Ricardo Cappelli condenou a postura dos filhos de Bolsonaro, sobretudo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), no episódio do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Quando vi aquele vídeo do Eduardo Bolsonaro, a impressão que tive foi a de estar diante de um bandido, de um sequestrador, porque ele falava ‘ou vocês fazem isso, ou vai piorar; ou me dão isso, ou vai piorar’. Isso é papo de bandido, de sequestrador. Uma situação lamentável, que demonstra que eles não têm compromisso com o Brasil”, avaliou.

Condução equilibrada – Para Cappelli, a condução brasileira nas negociações com os Estados Unidos tem sido equilibrada e tem mantido a firmeza para garantir a soberania nacional. “O Brasil tem conduzido bem, usando o binômio equilíbrio e firmeza. Equilíbrio para que esse atrito não escale e firmeza para defender a soberania nacional e o interesse das empresas e dos trabalhadores brasileiros. Acho que esse é o segredo. Porque nos interessa a paz, a harmonia com um parceiro comercial tão importante quanto os Estados Unidos, mas ao mesmo tempo mantendo equilíbrio e firmeza.”
Zero mágoa com Lula – O agora ex-gestor da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Danilo Cabral (PSB), afirmou, em conversa com este blog ontem, ter mágoa zero do presidente Lula (PT). Lula cedeu à pressão do Ceará e demitiu Danilo da função. Mas Danilo continua totalmente comprometido com o projeto político da reeleição de Lula em 2026, e também com a eleição do prefeito do Recife, João Campos (PSB), ao cargo de governador de Pernambuco. Danilo disse que saiu grato, mas espera que seja mantido o padrão de gestão que fortaleceu a Superintendência nos últimos dois anos.
Desunião do Nordeste é ruim – Danilo Cabral ainda comentou sobre o movimento cearense que culminou na sua demissão. Na opinião dele, é ruim para o Nordeste quando os Estados se dividem. “Acho que o Nordeste se fortalece quando constrói unidade”, frisou. Ainda falando em união, o socialista comentou sobre a omissão da governadora Raquel Lyra (PSD) diante da ofensiva cearense. “Raquel não tem obrigação de me defender. Mas tem a obrigação de defender os interesses de Pernambuco”.

Festão em São Bento do Una – A deputada Débora Almeida (PSDB) não faz questão de esconder que vai mudar de legenda assim que a janela partidária for aberta em 2026. Deixará o ninho tucano para integrar o PSD, sigla presidida pela governadora Raquel Lyra em Pernambuco. Promete fazer um festão na sua terra, São Bento do Una, no Agreste, para anunciar a mudança. “Quero estar junto do meu povo neste momento”, contou. Na Alepe, Débora é uma das mais aguerridas defensoras de Raquel e também falou sobre a CPI que a Casa vai instalar para investigar possíveis irregularidades na licitação da publicidade do Estado. “Pura narrativa”, considerou.
CURTAS
Renato Antunes também na defesa – O deputado Renato Antunes (PL), também defensor da gestão Raquel Lyra, apontou que vê na CPI da Alepe “uma tentativa de capitalização política às custas da institucionalidade do Estado”. Para ele, a oposição “tenta, de forma desesperada, construir uma narrativa e criar pirotecnia em cima de algo que sequer tem prova ou qualquer processo legal em curso”.
Já Gleide Ângelo subiu o tom – Oposicionista, a deputada Gleide Ângelo (PSB) fez um discurso duro ontem na Assembleia, cobrando orçamento para a segurança das mulheres em Pernambuco. Ela apontou que a gestão estadual não fez uso dos cerca de R$ 8,4 milhões para políticas de enfrentamento à violência de gênero. A verba é do Ministério da Justiça, que determina que 10% do orçamento total de segurança pública de cada Estado seja destinado especificamente a políticas voltadas à segurança das mulheres.
Sobre a CPI, Barroso deu prazo – O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu não conceder a liminar imediata requerida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para suspender a execução do contrato de publicidade da gestão Raquel Lyra (PSD). O STF vai ouvir a empresa interessada no mandado de segurança e a Procuradoria-Geral da República antes de decidir.
Perguntar não ofende – Danilo Cabral continua na gestão de Lula ou entra na gestão de João Campos?
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