Gastar mais causa insegurança e o país cresce menos, diz Meirelles

Por Houldine Nascimento

Do Poder360

Henrique Meirelles, 79 anos, ex-presidente do BC (Banco Central) e ex-ministro da Fazenda, avalia que o estímulo à expansão dos gastos públicos para impulsionar o PIB (Produto Interno Bruto) provoca o efeito oposto: a queda do crescimento.

Em entrevista ao Poder360, ele afirma que as consequências são danosas à atividade econômica e cita o aumento da dívida em períodos diversos da história do Brasil como um fator adverso.

“Existe uma corrente de pensamento econômico que acha o contrário, que para crescer mais, o governo tem que gastar mais, que vai impulsionar o crescimento. O problema é que isso gera insegurança, aumenta a dívida, a taxa de risco, os juros e [o país] acaba crescendo menos. Às vezes até leva à recessão, como é o caso de 2016”, declara.

Meirelles também fala sobre o forte crescimento nos anos 1970 – quando o país estava sob uma ditadura militar (1964-1985) – que se deu depois de o governo recorrer a empréstimos vultosos, alavancando o crescimento da economia brasileira naquele momento. De 1968 a 1973, o PIB (Produto Interno Bruto) do país cresceu, em média, 11,1% ao ano.

Esse período ficou conhecido como o “milagre econômico brasileiro”. Meirelles lembra que o país entrou em crise nos anos 1980, quando a autoridade monetária dos EUA decidiu elevar a taxa de juros norte-americana a grande patamar.

As consequências foram drásticas por causa do endividamento do Brasil. O país mergulhou numa hiperinflação e patinou do ponto de vista econômico. O período foi chamado de a “década perdida”.

Na avaliação de Meirelles, o período de alto crescimento e as dificuldades que vieram depois foram consequências da situação global que o país não conseguiu usar favoravelmente.

Meirelles esteve à frente do Banco Central, de 2003 a 2010, nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Afirma que os resultados positivos do governo naquele período se deram por dois motivos:

• austeridade fiscal;

• controle da política monetária

“Uma das grandes vantagens do primeiro mandato de Lula é exatamente isso, uma disciplina fiscal forte, que permitiu ao país crescer bastante”, diz o ex-chefe do BC.

Ao Poder360, ele também fala sobre a decisão de criar o teto de gastos no governo Michel Temer (MDB), o atual momento da economia brasileira e as dificuldades de controlar despesas para conter a trajetória da dívida pública, que terminou 2024 em 76,1% do PIB.

Leia a entrevista abaixo:

Poder360 – Houve avanços consideráveis nos indicadores sociais durante a redemocratização, mas, ao mesmo tempo, o Brasil apresenta uma dificuldade quanto ao crescimento da economia. Em contrapartida, durante a ditadura militar, o crescimento se deu em patamar elevado. A que isso se deve? Qual é o balanço que a gente pode fazer disso?

Henrique Meirelles – O Brasil está inserido no contexto global. A década de 1970 foi uma época em que o Banco Central americano manteve os juros muito baixos. Na época, o presidente do Banco Central, Arthur Burns, atendia os pedidos do então presidente [Richard] Nixon [Partido Republicano] para baixar a taxa de juros, não subir. Foi um período de alta liquidez mundial.

Nesse período, o Brasil, o governo – notadamente o endividamento público –, mas também um pouco o setor privado, tomaram empréstimos em volumes elevados, aproveitando um período de alta liquidez. Ao optar por esses empréstimos, de fato houve um crescimento forte durante uma década. De 1970 até 1980.

Nessa época, mudou a política do Banco Central americano. Assumiu lá o Paul Volcker, o presidente já era o Jimmy Carter [Partido Democrata], e o Paul Volcker subiu fortemente a taxa de juros para controlar a inflação alta nos Estados Unidos, uma inflação para os padrões americanos muito alta, mais de 7%. O Paul Volcker elevou a taxa de juros a patamares impensáveis nos Estados Unidos – a 20% a taxa básica do Banco Central americano, equivalente à Selic aqui.

Isso gerou uma crise no início da década de 1980, em diversos países altamente endividados, inclusive o Brasil. Em função disso, o governo brasileiro optou por pagar os vencimentos dessa dívida. Na medida que não existia mais, a partir da década de 1980, a disponibilidade desses recursos, muita liquidez, taxa de juros baixa. Então, o país entrou num período difícil e a solução achada pelo governo brasileiro foi fazer uma expansão monetária, a autoridade monetária da época, fazer uma expansão monetária e pagar com isso as parcelas da dívida – eram volumes enormes. [Isso] fez com que o país entrasse numa hiperinflação.

Nós tivemos 10 anos de alto crescimento e depois um período mais de uma década de crescimento baixo e inflação elevada acima de 100% ao ano. Uma parte disso ainda no regime militar até 1985 e depois entrou o governo de [José] Sarney, na medida que morreu o presidente que tinha sido eleito pelo colégio eleitoral, o Tancredo Neves, mas o fato é que a política continuou. Uma política de emissão de moeda para pagamento da dívida e inflação elevada.

O governo tentou controlar a inflação por meio de diversos planos de congelamento de preços: Plano Cruzado, Plano Verão, plano feijão com arroz etc. Isso não funcionou até 1994, quando Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, implementou o Plano Real e aí, de fato, controlou a inflação, mas ancorou o real no dólar para poder sustentar. Isso durou até 1999, quando o Banco Central não conseguiu mais segurar o real no dólar, a cotação 1 para 1, e foi quando houve a situação do câmbio e criou-se o sistema de metas de inflação e metas fiscais.

Foi uma crise, mas foi um momento em que se modernizou muito a economia brasileira, a administração da economia brasileira, os funcionamentos, isso aí no final da década de 1990, no segundo governo do Fernando Henrique. Aí, nós tivemos um período de crescimento estável, mas com um endividamento público subindo devagar. Isso até o término do governo de Fernando Henrique etc.

Entrou o governo de Lula, quando aí houve a implantação de uma novidade que foi a austeridade fiscal, na época do primeiro mandato dele, e um controle da política monetária pelo Banco Central. Foi o período em que eu fui presidente do Banco Central por 8 anos, em que o Brasil cresceu muito: em média, 4% ao ano. Criou 11 milhões de empregos.

Depois, nós entramos no governo da Dilma [Rousseff] em 2011. A economia estava crescendo razoavelmente. Tinha crescido muito em 10%, 7,5% ao ano, mas depois foi baixando devagar até estar aqui. Entrou em recessão nos anos de 2015, 2016, em função da insegurança fiscal. Então, a partir daí, fui para o Ministério da Fazenda, quando Michel Temer assumiu a Presidência, e nós fizemos aí a implantação do teto de gastos que estabilizou a economia, e ela entrou na normalidade.

O Brasil crescendo em média ao redor de 2% e pouco, às vezes um pouco mais. Basicamente é isso: foi um período bastante longo, com diversas fases na economia, mas com um saldo muito positivo, porque no final temos aí uma economia robusta, funcionando com alguns princípios muito importantes, como a responsabilidade fiscal, que é o teto de gastos agora, o arcabouço fiscal, e também com a evolução no que diz respeito à produtividade, com algumas coisas, algumas reformas que foram feitas na época do Temer, como a Trabalhista, a Lei das Estatais, a reforma das transações financeiras digitais etc.

Agora, houve a aprovação da Reforma Tributária e a economia começou a, digamos, evoluir normalmente durante esse período. Acredito que sumariza a economia brasileira durante esses quatro tempos.

Até que ponto o componente político atrapalha para um crescimento econômico no Brasil mais consistente?

O problema agora é o aumento da dívida pública, que gere possibilidade ou desconfiança, da sustentabilidade disso. Então basicamente é isso, mas tem funcionado normalmente dependendo do governo, como o governo Lula 1, por exemplo, o último mandato do Fernando Henrique, o primeiro mandato também foi um crescimento médio, o Lula 1 cresceu bastante, Lula 2 ainda continuou crescendo. No período da Dilma, houve um declínio da taxa de crescimento e nos dois últimos anos, uma recessão, que foi corrigida por meio do teto de gastos. Então, isso é normal. Quer dizer, reflete as mudanças em política econômica dos diversos governos do período.

A parte fiscal é uma preocupação. O mercado está sempre fazendo um alerta sobre o tema e a necessidade de cortar gastos. Gostaria que o senhor comentasse esse ponto também. Como isso interfere no crescimento econômico?

Isso é muito importante, porque, evidentemente, no momento em que a dívida pública começa a crescer muito, devido ao aumento dos gastos públicos, isso gera um aumento dos prêmios de risco.

A gente fala de inflação, o Banco Central tem que subir os juros. Isso de fato influencia. Uma das grandes vantagens do primeiro mandato de Lula é exatamente isso: uma disciplina fiscal forte, que permitiu o país crescer bastante, ancorado, portanto, numa disciplina fiscal sólida, o que permitiu que o setor privado investisse, crescesse e contratasse um período bastante positivo para a economia brasileira.

No momento em que há uma maior disciplina fiscal, o país tende a crescer mais e de uma forma mais sustentável. Evidentemente, existe uma corrente de pensamento econômico que acha o contrário, que para crescer mais o governo tem que gastar mais, que vai impulsionar o crescimento. O problema é que isso gera insegurança, aumenta a dívida, a taxa de risco, os juros e [o país] acaba crescendo menos. Às vezes até leva a recessão, como é o caso de 2016.

E hoje o senhor avalia que essa corrente de elevar os gastos públicos para impulsionar a economia está prevalecendo?

Eu não diria prevalecendo. Eu diria que ela tem uma ala de um governo forte que defende muito isso. O ministro Fernando Haddad [Fazenda] não é dessa tese, mas ele tem que administrar um governo que é formado dessas correntes. Então, tem que equilibrar entre essa corrente que acha que gastar mais vai crescer, e a necessidade da disciplina fiscal etc. Então, fica no meio-termo.

Do Metrópoles

O deputado estadual Gil Diniz (PL) “lançou” o presidente da Assembleia Legislativo de São Paulo (Alesp), André do Prado (PL), como candidato ao Governo do Estado durante a eleição da Mesa Diretora da Casa neste sábado (15), na qual Prado foi reeleito para a presidência.

Ao proferir seu voto para a recondução do correligionário ao comando da Alesp, o parlamentar bolsonarista defendeu o nome de Prado para a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, “excluindo” o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) do pleito.

“Hoje voto no deputado André do Prado para a Presidência dessa casa, mas num futuro não muito distante para governador do estado de São Paulo”, disse Diniz.

Questionado, o presidente da Alesp desconversou e afirmou que Tarcísio deve ser candidato à reeleição ao governo paulista. O deputado, no entanto, não negou que tenha intenção de integrar a chapa do governador e disse que as conversas serão feitas em 2026.

“O deputado Gil Diniz se empolgou. Ele sempre faz esses comentários, é um grande amigo meu. Me sinto honrado quando um parlamentar dá uma notícia dessa. Porém, isso não me envaidece em nada. Temos que ter pés no chão. Fui eleito para ser presidente da Assembleia pelos próximos quatro anos. Essa conjuntura política de sucessão para governador, vice-governador e outros cargos será discutida no ano de 2026”, disse André do Prado.

O Metrópoles mostrou que o deputado, que é pupilo do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, tem se articulado de olho nos postos mais altos do governo paulista. Segundo aliados, André do Prado tem ventilado o próprio nome para ser o vice de Tarcísio.

“Nós do PL seremos protagonistas com certeza, é o maior partido do Estado de São Paulo e do Brasil. Estaremos na mesa de discussão nos próximos dois anos. Hoje temos o governador Tarcísio, que deve ser o candidato à reeleição. E depois, o restante das vagas será discutida com a aliança que é formada por vários partidos no momento oportuno. Seria muita audácia da minha parte já falar em sucessão nesse momento”, afirmou Prado neste sábado.

Nos bastidores, o deputado já alertou na Alesp que pretende aprovar projetos de interesse do governo neste ano, com ainda mais rapidez para não deixar pendências para o ano que vem – e, com isso, reforçar a Tarcísio que ele é merecedor de sua confiança.

Investindo na expansão da sua base eleitoral no Agreste, o pré-candidato a deputado federal Gabriel Porto conquistou hoje o apoio dos vereadores de Panelas Joelmo do Alfaiate e Zé Júlio. Os dois se juntam ao ex-vice-prefeito Genilson Lucena, que já integra a aliança, e passam a reforçar, no município, o projeto de reeleição do deputado Álvaro Porto, presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco.

“A chegada destes apoios fortalece nossa caminhada e nosso compromisso com Panelas. Ao lado de Genilson e dos vereadores Joelmo e Zé Júlio e demais lideranças locais, vamos ampliar nosso compromisso e atuação em favor do desenvolvimento do município”, afirma Gabriel. “Nossa parceria tem sido produtiva e vamos trabalhar para atrair novos parceiros e assegurar um representante do Agreste na Câmara dos Deputados”, avalia Álvaro Porto.

Da Agência Estado

O presidente do Partido Verde (PV) na Bahia, Ivanilson Gomes, foi sequestrado ontem, após bandidos invadirem a sede da legenda no bairro Rio Vermelho, na capital baiana. Os funcionários que estavam na hora do crime foram roubados.

Até o momento, a Polícia Civil da Bahia e o partido não se manifestaram. De acordo com a Rádio Sociedade, da Bahia, os criminosos entraram em contato com familiares de Gomes e pediram dinheiro para libertá-lo. O valor ainda não foi divulgado.

Gomes foi levado pelo bando que invadiu a sede do partido à Rua João Gomes, número 160. Em um primeiro momento, as vítimas pensaram se tratar apenas de um roubo, mas logo evoluiu para o sequestro do presidente da legenda.

Soldados da Polícia Militar e investigadores da Polícia Civil estão na sede do partido em buscas de pistas que possam levá-los ao cativeiro.

A vereadora Aladilce (PCdoB) se manifestou nas redes sociais sobre o sequestro do aliado. “A política não deve ser um espaço de insegurança para ninguém. Envio minha solidariedade ao presidente estadual do Partido Verde (PV), Ivanilson Gomes, e aos seus familiares (…) Espero que ele retorne em segurança e ileso. É fundamental que haja uma investigação minuciosa e que os responsáveis sejam devidamente punidos”, afirmou, por meio de nota.

Da CNN Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), descreveu a democracia como um “princípio básico” e “inegociável” ao comentar os 40 anos da redemocratização no Brasil, celebrados hoje.

Relembrando o dia 15 de março de 1985, quando José Sarney tomou posse como vice-presidente para ser, ainda interino, o primeiro presidente civil depois de 21 anos de ditadura militar, Hugo falou sobre sua própria responsabilidade enquanto parlamentar.

“Nasci depois desse marco. Carrego a responsabilidade de representar uma geração que tem a democracia como um princípio básico”, escreveu em sua conta no X.

“Podemos celebrar, mas nunca esquecer: a democracia é um bem inegociável. Seguirei usando a carta magna como uma bússola na defesa do Brasil e dos brasileiros”, completou.

Durante a ditadura, o Congresso Nacional foi fechado três vezes. Na Câmara, 173 deputados tiveram seus mandatos cassados pelo regime militar.

A eleição de Tancredo Neves, que não chegou a assumir o cargo devido a progressão da doença que resultou em sua morte, e José Sarney em 1985 consagrou, então, o início do processo que culminaria no período democrático mais duradouro da história republicana brasileira. De lá para cá, o país não vivenciou em mais nenhuma ocasião um estado de exceção.

O transformador de energia gigante acaba de chegar em Paratibe, em Paulista. O trajeto teve início às 6h15, saindo da cidade do Cabo de Santo Agostinho, passando por Jaboatão, Recife, e finalizando em Paulista.

A previsão de chegada ao Km 53 em Paulista era às 17h deste sábado (15), mas, devido à operação realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Pernambuco, o trabalho foi concluído mais cedo, por volta das 13h30.

O transporte deve ser concluído amanhã, ao alcançar a divisa com a Paraíba.

Confira!

Da CNN Brasil

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carmén Lúcia, participou do evento em celebração aos 40 anos da redemocratização do Brasil, que foi realizado hoje na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

A ministra falou sobre processo do fim da ditadura no país: “Cada dia é um dia de recomeço”. Ela também citou a importância de se proteger a democracia.

“A democracia nunca está fora de eventuais tentativas de ser derrubada e fragilizada. Tiranos existem em todos os lugares e em todos os tempos”, afirmou Carmen Lúcia.

A ministra também citou o fato dos mais jovens não conhecerem os riscos de um regime autoritário.

“É bom que a gente fique atento a isso, porque a geração que me sucede não viveu as agulhas de um momento autoritário, de você não ser livre. De você se esconder para ler um decreto de um governo”, indagou.

“Uma sociedade em que se mata uma mulher por ser mulher a cada seis horas não é uma democracia plena porque não há democracia de desiguais, de pessoas que se comportam como se fossem menos do que as outras. Não só mulheres, os negros, os indígenas. É preciso que isso seja superado. 40 anos não é pouco tempo.”

O evento também contou com a participação do escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda Estou Aqui”, que narra a história de sua família após o desaparecimento de seu pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva, pela ditadura, na década de 1970.

O livro deu origem ao filme que ganhou, na edição deste ano do Oscar, o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro – a primeira conquista da história do Brasil na premiação.

Em meio à repercussão do filme, o STF decidiu que vai levar à julgamento no plenário uma revisão na Lei da Anistia que permitiria que crimes permanentes – como ocultação de cadáver, como ocorreu com Rubens Paiva, que jamais teve seu corpo localizado – podem render punições a militares envolvidos nos crimes.

Da CNN Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que é necessário defender a democracia de quem planeja a volta do autoritarismo.

A declaração foi publicada neste sábado (15), data em que se comemora os 40 anos da redemocratização brasileira. A data marca o dia em que o ex-presidente José Sarney assumiu o comando do Brasil, em 1985, após 21 anos de ditadura militar.

“Temos enormes desafios pela frente, mas o Brasil é hoje o país que cresce com inclusão social. Que combate a fome e as desigualdades. Que gera empregos, aumenta a renda e melhora a qualidade de vida das famílias. Que cuida de todos, com um olhar especial para quem mais precisa”, disse em publicação no X.

“Sem a democracia, nada disso seria possível. Por isso, é preciso defendê-la todos os dias daqueles que, ainda hoje, planejam a volta do autoritarismo”, completou.

O presidente afirmou que as novas gerações precisam saber como era a vida do brasileiro durante a ditadura e imaginar como seria viver com “todos os direitos negados, inclusive o direito à vida”.

Lula também elogiou José Sarney ao dizer que o ex-presidente governou com “extraordinária habilidade e compromisso político” sob a constante ameaça dos “saudosos da ditadura”.

Em texto publicado neste sábado (15) no portal da CNN, o ex-presidente afirma ter orgulho de dizer: “A democracia não morreu em minhas mãos; ao contrário, floresceu”.

O petista completa a nota relembrando que a data celebra a democracia. “Hoje é dia de lembrar e homenagear todos os brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do Brasil”, afirmou.

Por Marcelo Tognozzi

Colunista do Poder360

Faltando pouco mais de um ano e meio para a campanha de 2026, um ator político relevante vem marcando posição de forma discreta, porém eficaz. O ministro Flávio Dino foi para o Supremo em 2024, depois de comandar o Ministério da Justiça. Entre os 11 integrantes do STF, ele é de longe o mais bem preparado para o exercício do poder. Tem no DNA aquilo que Maquiavel define como “virtú” (talento para conquistar e manter o poder). Seu apetite é imenso.

Dino começou a carreira na política estudantil da Universidade do Maranhão e participou da campanha de Lula em 1989, coordenando a jovem guarda. Foi filiado ao PT, ao PC do B e ao PSB. Aprovado em 1º lugar no concurso de juiz federal em 1994, ficou na magistratura até ser candidato a deputado federal em 2006, eleito com mais de 120 mil votos. Em 2014, foi eleito governador e reeleito em 2018. Depois, eleito senador em 2022, ministro da Justiça e, agora, ministro do Supremo.

Sabe tudo de poder o doutor Flávio, cuja família está na política há 200 anos. Dono de uma habilidade incomum para seduzir e comandar, foi indicado por Lula como sendo o primeiro comunista a ocupar uma cadeira no Supremo. Um comunista de sangue azul, de uma família tradicional na política maranhense, cujo patriarca Manoel Antônio Monteiro Tapajós, rico proprietário de terras, combateu a revolta da cabanagem ao lado das tropas do então governo imperial comandado pelo regente Diogo Antônio Feijó.

Ao derrotar os líderes da cabanagem, revolta que explodiu no Pará em 1835 e durou até 1840, Tapajós angariou enorme prestígio na Corte e era chamado de herói por Feijó. Dino tem no DNA essa mesma capacidade de comando e de exercício da força. Não é pouca coisa.

Adversário figadal da família Sarney no Maranhão, ele encontrou na esquerda o espaço para crescer que não teria no centro ou na direita. Antes dele, Edson Vidigal, ex-ministro do STJ, tentou um caminho pelo PSB até o Palácio dos Leões e acabou em 3º lugar, atrás de Jackson Lago e Roseana Sarney.

Dino foi construindo sua rota até o poder tijolo por tijolo. Eleito deputado federal em 2006, foi candidato a prefeito de São Luiz em 2008 e perdeu para João Castelo, oriundo do grupo de Sarney. Em 2010, derrotado por Roseana Sarney na disputa pelo governo, ganhou de Dilma a presidência da Embratur como prêmio de consolação. Nesta época, perdeu um filho adolescente, morto depois de passar mal na escola. A dor imensa não passou nunca.

Em 2014, finalmente chegou ao governo do Maranhão, derrotando o grupo da família Sarney. A partir desta eleição, foi consolidando seu poder no Estado, ocupando a pista toda, como é do seu feitio.

Neste mesmo ano, depois de deixar o Senado e a vida pública, o ex-presidente Sarney montou um escritório no Setor Hoteleiro Norte, em Brasília. Era um local até modesto para o tamanho e a importância política de Sarney. Correu forte o boato de que Dino mandou alugar uma sala ao lado, na qual teria montado escutas para monitorar o ex-presidente. Verdade ou não, o fato é que Sarney mudou seu escritório para um shopping algumas quadras adiante.

Dino enfrenta problemas de saúde causados pela obesidade e tem procurado se cuidar mais desde que assumiu sua cadeira no Supremo. Assim que Lula bateu o martelo para sua nomeação, tratou de procurar o ex-presidente José Sarney a quem pediu apoio. Sarney, cuja sabedoria é um ativo valioso, deu sinal verde a Dino. De adversário, passou à condição de credor.

Nesta semana, políticos da esquerda e do centro com bom trânsito no Congresso e na Faria Lima, mencionaram Dino como potencial candidato que joga parado de olho na Presidência. Desde que chegou ao STF, o ministro tem se pautado pela discrição e atuação firmes. Numa rara derrapada, se meteu no caso das tarifas dos cemitérios de São Paulo, miudeza incompatível com seu tamanho.

Nascido em 1968, em 30 de abril completará 57 anos. Ninguém no Supremo tem seu currículo ou talento semelhante para o exercício do poder, como reconhecem até seus adversários mais robustos. Ele quer ser candidato, deseja, sonha, mas em silêncio. Seu timing depende de uma definição de Lula. Nesta semana, ouvi de deputados da esquerda que essa história de candidatura é espuma fabricada pelo próprio Dino.

Creio ser improvável que, nesta altura do calendário, ele esteja dedicado a esse tipo de movimento. Dino sabe que o presidente Lula enfrenta uma crise, tem perdido popularidade e soltar balões de ensaio sobre sua possível candidatura pode ser visto, no mínimo, como traição. Diferentemente da intriga, o ministro é leal ao presidente.

A realidade política tem mostrado um Lula com popularidade claudicante, sem o encanto dos mandatos anteriores, como escrevi aqui outras vezes. Por toda sua trajetória, o presidente não merece destino semelhante ao de Joe Biden, defenestrado pela realidade.

Também não estou defendendo a candidatura do ministro Flávio Dino, embora reconheça seus méritos como profissional do direito e homem público. Creio que o mais provável é Lula manter sua candidatura à reeleição, mesmo que para isso tenha de fazer das tripas coração ou escolher Dino seu vice.

A esquerda tem enfrentado um problema crônico de renovação, embora tenhamos alguns oásis como o prefeito João Campos (PSB), a deputada Tabata Amaral (PSB) ou Camila Jara (PT). A renovação na esquerda se tornou urgente, porque seus quadros estão cada vez mais velhos e menos conectados com o eleitorado jovem, diferentemente da direita.

Lula quer e pode tentar um quarto mandato. Terá 81 anos na eleição de 2026. Se agora, prestes a completar 80 anos em outubro, demonstra pouca ou nenhuma paciência para o dia a dia da política, imagine daqui a dois anos. Qualquer um depois dos 80, sabe que cada dia a mais de vida é lucro. São raros líderes como Konrad Adenauer. Chegou ao poder com 73 anos, em 1949, governou até os 87 e morreu aos 91 reverenciado como o grande líder do pós-guerra.

No atual cenário, Dino é o quadro mais qualificado da esquerda, o único a transitar nos 3 Poderes. Por isso, é difícil imaginá-lo como carta fora do baralho da sucessão. Numa conversa há poucos dias, um político experiente opinou que dificilmente o PT abriria mão da cabeça de chapa e que, se candidato fosse, Dino teria de sair pelo PT. Não vejo problema nisso, porque ele já foi filiado ao PT antes de ir para o PC do B. Seria como voltar para suas origens.

Por enquanto, uma eventual candidatura de Dino é tratada como mera especulação. Mas qualquer observador razoavelmente atento enxerga que o ministro joga parado, tem ocupado espaço positivo na mídia, não deixa de ser lembrado e segue fazendo política no Maranhão, sua fonte primária de poder.

Em fevereiro Dino mostrou ao governador Carlos Brandão (PSB), eleito com seu apoio, quem é que manda. Brandão esboçou desafiar o poder de Dino e perdeu três vezes.

Não conseguiu nomear um advogado seu amigo para o Tribunal de Contas e amargou uma decisão de Dias Toffoli, que suspendeu o foro privilegiado para diretores da Assembleia Legislativa, entre eles o irmão do governador, Marcus Brandão. Na sequência, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a nomeação de Marcus para o cargo de secretário de Assuntos Legislativos do Maranhão.

Ao colocar Brandão no seu devido lugar, Dino mostrou que continua firme e forte jogando o jogo do poder.

Por Marlos Porto*

Hoje, 15 de março de 2025, completam-se 40 anos do fim do Regime Militar, com a posse do civil José Sarney como vice-presidente, eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional. Sarney, nesse mesmo dia, assumiu a Presidência da República interinamente, devido à impossibilidade, por motivo de saúde, da posse do presidente eleito, Tancredo Neves. Pouco depois, em 21 de abril de 1985, com o falecimento de Tancredo, Sarney assumiu definitivamente a presidência.

A data de hoje é significativa. Quarenta anos se passaram e, apesar de tantas conquistas, muitas das mazelas daquela época ainda perduram. Penso que a democracia não foi plenamente consolidada. As elites tinham e ainda têm medo das massas, medo da vontade popular ser manifestada livremente. Escastelaram-se em estruturas de poder do novo regime criado e urdem contra iniciativas de emancipação e de participação popular. O processo político é corrompido e viciado. Hoje, ainda mais grave, atenta-se até mesmo contra a livre manifestação do pensamento. A própria Constituição Federal de 1988 se vê conspurcada.

Hoje, sente-se falta do saudável espírito de rebeldia que esteve presente nas várias formas de luta contra a Ditadura Militar. Inaugurada em 31 de março de 1964, com a deposição ilegal do presidente Jango pelos ministros militares, no que entrou para a história como o Golpe de 64, mas que foi tratado pela historiografia oficial da época como “Movimento Cívico-Militar” e mesmo como “Revolução”, o golpe contou com tanques nas ruas, fechamento de órgãos de imprensa e prisões arbitrárias, feitas pelo Exército, de possíveis opositores e pessoas comuns, simplesmente suspeitas de serem comunistas (o que não era, nem é, crime).

Em Recife, Gregório Bezerra foi torturado, amarrado pelo pescoço e arrastado, ensanguentado, pelas ruas de Casa Forte, por ordem do famigerado Coronel Villocq. A longa luta contra a Ditadura culminou na campanha das “Diretas Já” e na eleição indireta de Tancredo e Sarney, em 15 de janeiro de 1985, fruto de uma brilhante articulação política, em que teve destaque o pernambucano Fernando Lyra, derrotando os acólitos do decadente regime de 21 anos, que queriam Paulo Maluf na presidência.

*Marlos Porto é bacharel em Direito.