Coluna da quarta-feira

A era do toma-lá-dá-cá   

Um dia após se filiar ao PSD, a governadora Raquel Lyra deu o start no aliciamento político em troca de cargos. Ao Avante, que hoje tem um cargo sem expressão na gestão de João Campos, o Procon, ofereceu algo mais expressivo: a gestão do arquipélago de Fernando de Noronha, o que teria levado o deputado federal Valdemar de Oliveira, o Dema, a ser seduzido.

O ex-deputado federal Sebastião Oliveira, o Sebá, que disputou a vice na chapa de Marília Arraes, candidata a governadora em 2022, é atualmente o presidente do Avante, mas sem força nem poder de decisão, porque está sem cargo. O acordo do Avante com a governadora foi iniciativa de Dema, o que teria contrariado o irmão Sebá, já comprometido com a candidatura de João Campos a governador em 2026.

O Avante é um partido nanico, não elegeu nenhum deputado estadual, apenas Dema como deputado federal, porque herdou o espólio do irmão. Nas eleições municipais, só emplacou oito prefeitos, mas, no Recife, não elegeu sequer um vereador. A adesão ao governo Raquel não surpreendeu ninguém, porque o que se sabe é que há muito a governadora negociava com Dema.

Entre os prefeitos do Avante está o insatisfeito Padre Joselito, de Gravatá, que acabou de promover o Carnaval sem receber um tostão do governo Raquel, apesar de seu município ser polo oficial. Nem nos festejos juninos, um dos mais animados e procurados do Estado, Gravatá teve direito a incentivos nos últimos dois anos. Os demais prefeitos são de municípios sem importância eleitoral no Estado.

No ato de filiação de Raquel ao PSD, na última segunda-feira, no Recife, a grande surpresa foi a presença do presidente estadual do PL, Anderson Ferreira, que estava rompido com a governadora, mas fez um discurso de juras de amor, prometendo fidelidade até o último dia da gestão dela.

Ninguém entendeu nada. Não se sabe se Anderson voltou a negociar o apoio dos Ferreira ao governo Raquel em troca de cargos ou se teria o aval do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para um apoio formal da legenda. Se essa hipótese vier a ser confirmada, a governadora se abraçará novamente a um dos núcleos bolsonaristas, o que contraria sua decisão de sair do PSDB para o PSD com o intuito de ficar mais próxima do presidente Lula.

GESTO INESPERADO – Quando decidiu romper com o Governo Raquel, lá atrás, ao perder o Detran e a Secretaria de Educação, Anderson Ferreira se reuniu com os deputados Coronel Meira e Alberto Feitosa, além do ex-ministro Gilson Machado, expoentes do PL no Estado, para comunicar a sua decisão. Ao prestigiar a filiação de Raquel ao PSD, porém, Anderson não comunicou nada de forma antecipada a nenhum dos aliados no Estado, o que está intrigando as principais lideranças do PL.

Tiro no pé – Ao incluir Fernando de Noronha no balcão de negócios com o Avante para fortalecer seu processo de reeleição em 2026, a governadora Raquel Lyra deu um tiro no pé. Walber Santana, que estava para ser sabatinado ontem na Alepe e passou pelo constrangimento do cancelamento de última hora, era aguardado na ilha com muita expectativa, porque se trata de um servidor federal qualificado, com formação na área de meio ambiente.

O homem forte de Padilha – Cotado pela ala da senadora Teresa Leitão para disputar a presidência estadual do PT nas eleições de julho, Mozart Neves, auxiliar forte do núcleo de decisões do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi escolhido para ocupar uma das diretorias mais robustas da pasta na distribuição de recursos federais para os Estados e Municípios. Mozart abriu as portas de sua casa, no Lago Sul, em Brasília, na segunda-feira passada, para um jantar em homenagem ao chefe.

Sem bate-chapa – Aliás, na casa de Mozart, tive uma rápida conversa com o senador Humberto Costa, que me confidenciou que não cairá nas tentações de correntes do PT para bater chapa com Edinho Silva, nome preferido do presidente Lula para suceder Gleisi Hoffmann a partir de julho na presidência do partido. “Meu compromisso é com o mandato tampão”, reiterou, adiantando que já tem muitos abacaxis para descascar até a eleição do novo chefe petista.

Indignação no PL – Além de o PL estranhar a presença do presidente estadual, Anderson Ferreira, no ato de filiação de Raquel, o que causou ainda mais indignação ainda foi a fala do dirigente liberal ao prometer fidelidade a um governo no qual o partido não tem mais participação nem responsabilidade. “Estamos juntos até depois do fim”, disse, para espanto até da própria governadora. “Fiz questão de estar aqui, trazer o meu abraço, desejar sucesso nessa nova etapa. Fiquei muito feliz de poder enfrentar um bom combate com você, debater Pernambuco e estar hoje dando uma demonstração clara de que o Estado está acima de partido e de diferenças políticas”, acrescentou.

CURTAS

SAIA JUSTA – A governadora se vangloriou diante do prefeito de Jurema, Branco de Geraldo (PT), de ter destinado três ônibus escolares ao município. “Com recursos próprios, comprei quatro”, disse, de supetão, deixando a gestora sem reação.

EDINHO 1 – O presidente interino do PT, Humberto Costa, esteve ontem com Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e um dos favoritos para assumir a presidência do partido em julho. O encontro serviu para discutir os rumos do partido, que tem tido disputas internas pela sucessão do comando.

EDINHO 2 – Ao futuro presidente nacional do PT, a ser escolhido em eleição marcada para julho, Humberto prometeu acabar com as divergências e construir a unidade. “A fervura está exagerada, tem que ter um freio de arrumação e parar com isso”, disse, acalmando Edinho.

Perguntar não ofende: Depois do Avante, quem vai cair na rede de Raquel?