Pelo cronograma descrito por colaboradores do presidente, Lula deverá iniciar as mudanças na Esplanada nas pastas ocupadas hoje por petistas ou ministros considerados de sua cota pessoal.
Nessa condição estaria a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Para seu lugar, estão cotados dois ex-titulares da Saúde: o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o presidente da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), Arthur Chioro.
O nome de Chioro chegou a ser cogitado para o ministério ainda na montagem do governo, em 2022, quando coordenou o grupo de trabalho dedicado à saúde na transição. Médico sanitarista, foi ministro da Saúde no governo Dilma, de 2014 a 2015.
O período dessa articulação coincide com um momento de desgaste do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT-PI).
A situação do titular da pasta responsável pelo Bolsa Família já era considerada frágil por interlocutores, com sua posição ameaçada. Além disso, na semana passada, ele contrariou o governo ao afirmar que estava à mesa a possibilidade de reajuste do valor do Bolsa Família.
A declaração do ministro gerou ruídos no mercado e levou a Casa Civil a publicar uma nota afirmando que não havia estudos sobre isso no governo. Ele diz à Folha que segue se dedicando “com entusiasmo” ao ministério.
Na avaliação de aliados, o deslize de Wellington poderia ser um empurrão para sua volta ao Senado, até porque colaboradores do presidente defendem reforço da articulação governista na Casa.
Entre as alterações esperadas para a chamada cozinha do presidente está a entrada da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), na Secretaria-Geral da Presidência, hoje ocupada por Márcio Macêdo.
A ministra Cida Gonçalves (Mulheres), por sua vez, pode ser substituída pela ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, do PC do B, que assim abriria caminho para que um partido do centro, como o PSD, comandasse sua atual pasta.
Uma ala do governo também passou a defender o nome da deputada federal Tabata Amaral (PSB) para essa pasta, mas o plano enfrenta entraves dentro do PT e do próprio PSB.
Além dessa resistência, alguns integrantes do governo apostam na permanência do vice-presidente Geraldo Alckmin na pasta do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Como ambos são do mesmo partido, essa situação inviabilizaria a entrada de Tabata no governo.
Lula ainda vai conversar com os ex-presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para discutir eventual entrada deles no governo. O centrão cobiça a pasta da Agricultura, atualmente comandada por Carlos Fávaro (PSD), movimento que enfrenta forte oposição do PSD.
A opção por Padilha para a Saúde abriria um debate sobre o futuro da Secretaria de Relações Institucionais. Enquanto uma ala defende que permaneça com o PT, outro grupo propõe a nomeação de um aliado com trânsito no Congresso.
Nesta hipótese, é cotado o nome de Silvio Costa Filho (Republicanos), atual ministro de Portos e Aeroportos. Líderes partidários chegaram a propor o nome de Isnaldo Bulhões (MDB-AL) para a função.
Um aliado do presidente da Câmara diz que Motta espera a conversa com Lula para, num segundo momento, resolver questões internas da Casa que ainda precisam ser definidas, como a distribuição de postos estratégicos e comissões.
Outro político próximo a Motta diz que é preciso que o governo e aliados do presidente tenham a consciência de que 2025 é um ano preparatório para as eleições presidenciais de 2026 e que é preciso uma “mudança de postura” no Executivo mirando a reeleição.
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