Coluna da sexta-feira

Com troca na Educação, Raquel Lyra fecha uma porta com Gilberto Kassab

Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog

A saída de Alexandre Schneider da Secretaria de Educação de Pernambuco, ontem (9), deixou a governadora Raquel Lyra (PSDB) em maus lençóis em vários aspectos. O primeiro deles é que a demissão ocorre em meio à negociação para entrada dela no PSD, de Gilberto Kassab.

Alexandre Schneider é ligadíssimo a Kassab e foi indicação dele para a gestão tucana. Schneider, inclusive, foi secretário de Educação de São Paulo quando Kassab foi prefeito, entre 2006 e 2012.

Um outro ponto é que Raquel Lyra vai para o terceiro secretário de Educação em dois anos à frente do Estado. Antes, havia feito um gesto ao grupo dos Ferreira e entregou a pasta para Ivaneide Dantas, ex-secretária de Educação de Jaboatão dos Guararapes, durante o comando de Anderson Ferreira (PL). Mas Ivaneide passou só um ano e meio no cargo.

Uma terceira questão é o fato de o secretário sair do posto em meio ao processo de matrículas da Rede Estadual e faltando dias para o início do ano letivo, na primeira semana de fevereiro. Seria cômico, se não fosse trágico, o agora ex-secretário informar que vai deixar a secretaria porque está com saudade da família logo durante as matrículas e na iminência da volta às aulas.

Por fim e não menos importante, Alexandre Schneider se junta a uma dezena de secretários trocados em dois anos de Raquel como governadora. Das duas uma: ou há uma imensa dificuldade de Raquel em montar time, ou o pessoal que entra é descompromissado com a coisa pública e com a própria governadora.

ESCÂNDALO ANTECIPADO POR ESTE BLOG – Óbvio que nem o ex-secretário e nem Raquel irão assumir publicamente, mas o que motivou a saída dele foi a dispensa milionária de licitação para compra da merenda escolar, publicada na última quarta-feira (8) por este blog, com exclusividade. Menos de 24 horas depois de o Blog do Magno revelar a dispensa emergencial para a compra da merenda para 135 escolas estaduais, Alexandre Schneider caiu.

Documentos comprovam – Este blog teve acesso a documentos que comprovam que o processo de licitação estava parado por meses na secretaria, dando motivo para a realização da dispensa emergencial sem licitação, na qual o Estado escolhe diretamente as empresas sem concorrência. Sem a nova dispensa emergencial, as escolas ficariam sem merenda a partir de 4 de fevereiro, bem na volta das aulas.

Relação já tinha azedado – Para quem acompanha a política em Pernambuco, não foi bem uma surpresa a saída de Alexandre Schneider. No dia 17 de outubro de 2024, o então secretário recebeu uma ordem para apagar do Instagram uma postagem na qual anunciava a nomeação de 4.600 professores concursados, determinada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). A ordem para apagar o vídeo teria sido da governadora, para que os avisos de convocação fossem feitos somente pelo canal oficial do Estado, ficando apenas ela com a visibilidade e, como de costume na gestão tucana, o secretário evitasse os holofotes.

Pernambuco sem moral – Na época desse desse mal estar, esta jornalista percebeu que, mesmo estando à frente da Secretaria de Educação de Pernambuco há três meses, Alexandre Schneider ainda mantinha como descrição na sua rede social que era “ex-secretário municipal de educação de São Paulo”, o que levantou um questionamento: Pernambuco estava tão sem moral assim? Para o secretário do Estado preferir ser conhecido como ex do município de São Paulo? Mas, minutos depois de postarmos o fato neste blog, o então secretário trocou a descrição e assumiu Pernambuco na rede, mostrando que é um leitor atento do nosso trabalho.

Leitor e comentarista – Ontem, Schneider deu provas mais uma vez de que está entre nossos leitores fiéis. Assim que nossa equipe de redes sociais postou no Instagram a notícia sobre sua saída da Educação, ele foi logo comentando. O curioso é que, ao tentar atacar o titular deste blog, o ex-secretário acabou assumindo que não cuidou da merenda. “Se você fizesse seu trabalho, que é o de apurar, saberia que eu nunca cuidei da merenda em Pernambuco. Não mexa com a honra alheia”, disparou Schneider. Fica a dúvida: de quem é a responsabilidade de cuidar da merenda dos estudantes do Estado, se não for do Secretário de Educação?

CURTAS

Quem vai assumir – Assim que começou a ganhar o mundo a notícia da queda do secretário de Educação, começaram as especulações dos nomes cotados para a substituição. Nos bastidores, existe a dúvida se Raquel vai buscar um nome técnico ou ampliar o espaço de partidos da base, como o PP ou até o próprio PT. Surgiram nomes como João Paulo (PT), Mendonça Filho (União Brasil), Professor Lupércio (PSD) e Mozart Neves, sendo o último um perfil mais técnico e que negou a sondagem.

Funcionários aliviados – Quem também deve sair da Educação, após a demissão de Alexandre Schneider, são as suas auxiliares mais próximas, entre elas a chefe de gabinete dele, Fátima Thimoteo. Os comentários na sede da pasta são de que os funcionários estão aliviados com a notícia.

Alepe de olho – A queda do secretário não passou despercebida pela Alepe. O deputado Waldemar Borges (PSB), presidente da Comissão de Educação e Cultura da Casa, mostrou preocupação com o anúncio. “A gente fica surpreso com essa mudança tão repentina na gestão da educação. O governo já está na metade do mandato e continua sem acertar o passo em uma das áreas mais estratégicas para o futuro de Pernambuco. Com mudanças tão radicais e intempestivas, quebra-se a oportunidade de consolidar qualquer trabalho de longo prazo”, afirmou Borges.

Perguntar não ofende: quem será o próximo secretário de Raquel Lyra a cair?