Coluna da sexta-feira

Prefeitos vão cair na real

Os novos prefeitos e os reeleitos estão sendo convocados pela Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) para o primeiro encontro da categoria pós-eleição, segunda e terça, em Gravatá. Na prática, os gestores vão se deparar com uma dura e cruel realidade, diga-se de passagem. “A lua de mel acabou”, diz o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski.

Falando para prefeitos no primeiro treinamento com os novos gestores, no início desta semana, Ziulkoski fez alguns alertas aos que vão governar seus municípios pela primeira vez. Disse que as dívidas previdenciárias, precatórios e a extensão das novas regras trazidas pela Reforma da Previdência federal aos funcionários municipais se constituem num dos maiores problemas.

“Quanto vocês acham que é a dívida dos municípios que estão no Regime Geral?”, perguntou Ziulkoski. Segundo ele, 4,2 mil Prefeituras devem R$ 250 bilhões ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). “Essas dívidas são impagáveis”, alertou. Os municípios estão encalacrados, muitos não conseguem pagar os parcelamentos já feitos”, afirmou ao contar um caso de uma Prefeitura que deve R$ 200 milhões e tem apenas R$ 100 milhões de receita corrente líquida anual.

Ele mostrou que 4,9 mil municípios têm precatórios, dívidas de R$ 100 bilhões e prazo final para liquidar em 2029. Segundo ele, o tema Reforma Tributária e a mudança em relação aos cinco impostos cobrados no consumo também preocupam. “Essa PEC está na pauta e os novos gestores devem entrar nessa luta, porque estamos falando de mais de R$ 400 bilhões. Isso não é pouca coisa, pode viabilizar o mandato”, apontou ao dizer que 38% dos municípios estão no vermelho.

ROYALTIES – Um imbróglio que se arrasta há mais de uma década foi mostrado, a luta por justiça na distribuição dos royalties do pré-sal, também fez parte da apresentação ocorrida na parte da manhã. Ganharam destaque o intenso trabalho do movimento municipalista para aprovar a distribuição dos royalties de petróleo, das plataformas em alto mar, pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Os valores são enormes, quase R$ 100 bilhões. E é uma excrescência, um município com 80 mil habitantes receber bilhões de royalties e os outros não”, exemplificou ao reclamar da liminar monocrática sem julgamento do plenário há mais de 11 anos.

Parcerias na folha – Uma preocupação específica foi compartilhada, a normativa federal que inclui os valores destinados a parcerias nos limites da despesa com pessoal. Segundo Ziulkoski, os prefeitos foram incentivados a promover parcerias e agora esses gastos serão considerados na folha. Mas a CNM tem trabalhado para garantir a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 141/2024 – antigo PLP 98/2023 – e retirar os valores de parcerias ou de contratações do cômputo dos limites de despesa com pessoal. A matéria tramita no Senado Federal, assim como a PEC 66.

Fichas sujas amanhã – “Se não votar isso, todos os prefeitos serão ficha suja e podem ser condenados”, prevê Ziulkoski. Ao longo da apresentação para os novos prefeitos no encontro da CNM, especialistas e consultores fizeram apartes importantes e Ziulkoski abriu espaço para perguntas. Ele fez questão de reforçar: “Todos os que estão aqui serão ex-prefeitos amanhã, então temos que nos unir e nos ajudar”, reforçou ao lembrá-los da falta de estrutura de defesa para quem exerceu o cargo.

Novo imposto sobre serviços – Em meio ao treinamento que prefeitos eleitos estão fazendo na Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o presidente da instituição, Paulo Ziulkoski, anunciou a criação do “Pré-Comitê Gestor” do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Trata-se de uma saída que a entidade encontrou para garantir que os Estados, Distrito Federal e Municípios tenham direito de editar o regulamento do IBS proposto na reforma tributária. A estrutura administrativa contará com representantes dos Estados e dos Municípios para assegurar uma gestão eficiente do tributo.

Raquel participa, João fica de fora – Batizado de “Gestão que transforma”, o primeiro encontro dos prefeitos de Pernambuco, iniciativa da Amupe, segunda e terça, será realizado no hotel Canarius. A abertura será feita pelo presidente da instituição, Marcelo Gouveia (Podemos). Segundo ele, a governadora Raquel Lyra (PSDB) confirmou presença, mas não se sabe ainda se na instalação, na segunda-feira, ou se no encerramento, no final da tarde de terça-feira. Já o prefeito do Recife, João Campos (PSB), estará fora do Estado e por isso não confirmou sua presença.

CURTAS

POSSE – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, ontem, que pedirá ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que o autorize a comparecer à posse de Donald Trump (Partido Republicano) como presidente dos EUA. A cerimônia está marcada para 20 de janeiro nos Estados Unidos.  “Se o Trump me convidar, eu vou peticionar ao TSE e ao STF”, disse.

POSTE – O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não será preso. Mas afirmou que, caso aconteça, conseguiria eleger “até um poste” para a Presidência em 2026. “Eu não acredito que o Bolsonaro seja preso. Se for preso, elege até um poste de dentro da cadeia. Eles não vão fazer isso com ele. Não há motivos para isso. Bolsonaro não é uma pessoa normal, é diferente de todos nós”, disse, em entrevista ao portal UOL.

CONFLITO – Muitos ministros têm reclamado da relação difícil e conflituosa com Fernando Haddad (Fazenda). “Haddad “quer estourar o champanhe com a garrafa dos outros” a fim de mostrar resultados para Lula e para o mercado, sem combinar com os ministérios afetados”, revelou um ministro do grupo dos descontentes.

Perguntar não ofende: Qual novo prefeito em Pernambuco irá receber a maior herança maldita do antecessor?