PSD desbanca MDB no número de prefeitos eleitos, mas está menor

A lei no Brasil permite que prefeitos troquem de partido. Dessa forma, há duas maneiras de uma sigla ganhar o comando de cidades: vencendo nas urnas ou cooptando prefeitos insatisfeitos e que estejam dispostos a mudar de legenda.

Depois das eleições municipais de 2020, o PSD (Partido Social Democrático) foi o que mais cresceu fora das urnas. A sigla que tem como presidente nacional o político paulista Gilberto Kassab, 64 anos, elegeu 660 prefeitos em 2020. Em novembro de 2023, já estava com 968 prefeituras.

Agora, em 2024, retrocedeu: conquistou 882 cidades (número que pode aumentar um pouco depois do 2º turno, marcado para 27 de outubro). Tornou-se a agremiação partidária com maior número de cidades –ultrapassando o MDB, que foi durante décadas o 1º colocado. Só que está menor do que há 1 ano.

O cálculo de crescimento do PSD e de outros partidos (de 2020 para 2024) não é o único que pode ser feito. Quando se consideram os prefeitos que várias siglas cooptaram nos últimos 4 anos, a sigla de Kassab encolheu agora nas urnas. Na lista dos 5 maiores partidos em número de prefeitos, só o PSD ficou menor nos últimos 12 meses.

Em novembro de 2023, o Poder360 fez um amplo levantamento sobre quantos prefeitos cada um dos partidos políticos tinha naquele momento. Trata-se de estudo de difícil execução, pois é necessário checar cidade por cidade –não há uma lista consolidada e atualizada na Justiça Eleitoral.

Na lista dos 5 maiores partidos, só o PSD perdeu prefeitos de 2023 para 2024. Legendas grandes como MDB, PP, União Brasil e PL seguiram crescendo –de 2020 para 2023 (cooptando prefeitos) e, depois, de 2023 para 2024 (melhorando o desempenho nas urnas).

O Partido dos Trabalhadores, sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve uma trajetória ascendente nos últimos 4 anos –ainda que a legenda esteja longe de seu desempenho passado, como quando em 2012 elegeu 635 prefeitos. O PT elegeu só 182 em 2020. Passou para 227 em 2023. Nas urnas, em 2024, foi a 248.

PSD E PSDB

O PSD se beneficiou de um fenômeno registrado na política brasileira: a “débâcle” do PSDB. O partido dos tucanos teve seu auge nos anos 1990 e parte da década de 2000. Em 1994, elegeu Fernando Henrique Cardoso presidente da República e os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Por essa razão, chegou a eleger na casa de 1.000 prefeitos na virada do milênio. Nos últimos 24 anos, foi ladeira abaixo.

Os 531 prefeitos eleitos pelo PSDB em 2020 desidrataram para apenas 345 em novembro de 2023. A sangria continuou acelerada. Foi nesse período que Gilberto Kassab pescou os prefeitos que engrossaram o PSD, sobretudo no Estado de São Paulo, berço dos tucanos.

Ex-vereador paulistano, ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-prefeito de São Paulo (de 2006 a 2012) e ex-ministro de Estado (de diferentes governos), Kassab se dedica exclusivamente a construir seu partido –lançado em 13 de abril de 2011, num auditório da Câmara dos Deputados, quando foi assinada a ata de fundação da legenda. Kassab não disputa eleições desde 2014, quando tentou ser senador por São Paulo, sem sucesso. Sua vida política é circunscrita a fazer o PSD crescer.

O Partido Social Democrático elegeu apenas 66 dos 645 prefeitos de São Paulo em 2020. Em maio de 2024, já estava com 312 cidades paulistas. Caiu para 205 prefeitos no Estado agora nas urnas, mas ainda tem um crescimento expressivo em relação há 4 anos.

MAIOR DO BRASIL

Apesar do revés nas urnas em relação ao número de prefeitos que tinha há 1 ano e também em maio de 2024, o PSD desbancou nos últimos anos o MDB e se tornou o partido com mais cidades governadas no Brasil. Foram 882 candidatos vitoriosos da sigla no 1º turno ante 856 dos emedebistas.

O MDB ocupava o topo do ranking de prefeitos eleitos no Brasil pelo menos desde 2000. Agora, perde o status. Conquistou 63 prefeituras a mais que em 2020, mas caiu uma posição no ranking.

O PT (Partido dos Trabalhadores) emplacou 248 nomes nos executivos municipais. A legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fica em 9º lugar na lista. Elegeu 66 prefeitos a mais na comparação com 2020. 

Do Poder360

O candidato a prefeito de Olinda, Vinicius Castello (PT) , divulgou neste domingo (13) um vídeo ao lado do presidente Lula (PT), reforçando a sua candidatura no município. “É muito emocionante ouvir do presidente Lula que Olinda pode ser reconstruída através das eleições desse ano. Sabemos o que é pobreza e lutamos em nome das pessoas que mais precisam”, escreveu Vinicius.

Confira o vídeo

No segundo dia após forte temporal, cerca de 900 mil pessoas continuam sem luz ou com serviço instável na Região Metropolitana de São Paulo, segundo comunicado da concessionária Enel.

O Procon-SP anunciou que notificará a empresa para que explique os motivos da demora para restabelecer o fornecimento, e que monitore relatos de problemas em cidades do interior, atendidas por outras concessionárias, com atenção especial ao fornecimento para hospitais e instalações médicas e de saúde, incluindo residências em que haja equipamentos de suporte à vida.

Segundo o Governo do Estado, no interior, 2.668 consumidores estão sem luz na área atendida pela CPFL Paulista; 594, na da CPFL Piratininga; e 99, na da CPFL Santa Cruz. Esses números representam 0,05% do total atendido pelo grupo. Já a Elektro possui 6 mil clientes sem energia, sendo 91% dos casos restabelecidos. 

O questionamento do Procon-SP repetirá pedidos anteriores, quando o órgão pediu esclarecimentos sobre como a concessionária realizou o atendimento ao consumidor e o aumento pontual das demandas, como o fenômeno impactou os equipamentos da ENEL e quais as medidas adotadas para reparos necessários à retomada da distribuição dentro do prazo regulamentar, além de informações sobre as equipes de atendimento de emergência disponíveis. Também serão cobradas as medidas estruturantes adotadas desde os últimos apagões.

A Enel paulista informou que atua com cerca de 1,6 mil técnicos em campo, inclusive com efetivo de outras concessionárias do grupo, atuantes no Rio e no Ceará. Além da capital, com cerca de 552 mil clientes impactados, as cidades mais afetadas no momento são: São Bernardo do Campo com 60,4 mil unidades, Cotia com 59 mil e Taboão da Serra com 55,5 mil. 11% da base de clientes da empresa segue afetada, com previsões de restabelecimento que se estendem até quarta-feira (16). 

Falta de água

O apagão afeta também a distribuição de água na região. Segundo a Sabesp, concessionária que distribui água e coleta esgoto em toda a região metropolitana, no momento, o serviço está prejudicado em regiões de São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo, Cotia e Cajamar. A distribuidora recomenda uso controlado nas áreas afetadas.

A Prefeitura de São Paulo informou ter mobilizado 4 mil trabalhadores para zeladoria e apoio ao tráfego, entre outras medidas de recuperação de áreas afetadas.

As chuvas da última sexta-feira (11) tiveram mais de 500 registros de ocorrências, segundo a Defesa Civil estadual, que contabilizou principalmente quedas de árvores. No estado, sete pessoas morreram, sendo três em Bauru, duas em Cotia, uma em Diadema e uma na Capital. Em Taboão da Serra, cerca de 30 pessoas estão desalojadas, recebendo apoio com ajuda humanitária da Defesa Civil e das equipes municipais. A prefeitura de Taboão decretou situação de emergência.

Hotéis e restaurantes

A Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) informou por meio de nota à imprensa que acionará a ENEL na Justiça por ressarcimento de prejuízos ao setor. Segundo a entidade, cerca de 250 mil estabelecimentos filiados foram atingidos pelo apagão, principalmente bares e restaurantes. Em novembro do ano passado, o blecaute que atingiu a capital de São Paulo e a região metropolitana provocou para o setor um prejuízo de R$ 500 milhões.

Da Agência Brasil

Projeto em tramitação no Senado altera o Código Eleitoral para estabelecer novas exceções para a prisão de eleitores durante as eleições. Do senador Cleitinho (Republicanos-MG), o PL 3.913/2024 determina que sejam permitidas prisões preventivas para indiciados ou acusados de crimes hediondos, além da execução de mandados de prisão já em aberto.

Atualmente, o Código Eleitoral (Lei 4.737, de 1965) proíbe a prisão de qualquer eleitor entre cinco dias antes e dois dias após a votação, exceto em casos de flagrante delito ou sentença penal condenatória por crime inafiançável.

“Não se justifica a ausência de ressalva para o cumprimento de mandado de prisão aberto e decretação de prisão preventiva no caso de crimes hediondos, que correspondem às mais repugnantes condutas delituosas, ou de organização criminosa”, argumenta o senador. Depois que for lido na próxima sessão plenária, o projeto seguirá para análise das comissões temáticas.

Por Delmiro Campos*

Desde sua implementação pelo Banco Central do Brasil em novembro de 2020, através da Resolução BCB nº 1 e da Instrução Normativa BCB nº 20, o PIX revolucionou o sistema financeiro nacional. Surgiu como uma resposta à necessidade de modernização e inclusão financeira, permitindo transferências instantâneas e gratuitas a qualquer hora do dia. Essa inovação tecnológica rapidamente se integrou ao cotidiano dos brasileiros, alterando o perfil do mercado financeiro, inclusive no mercado informal.

No entanto, essa eficiência trouxe preocupações no âmbito eleitoral. Relatos, especialmente no interior do estado de Pernambuco, apontam para o uso do PIX como meio de compra de votos. A velocidade e a discrição dessas transações complicam a fiscalização imediata, ainda que a rastreabilidade inerente às operações possa fornecer pistas mínimas para investigação.

Para quem vem desejando enveredar cenários de judicialização em torno do assunto, importante destacar que assim como as Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJEs), as Representações Eleitorais em decorrência do 41-A (captação ilícita de votos) exigem um conjunto probatório robusto (provas concretas e detalhadas), como destacado de forma reiterada pelo Tribunal Superior Eleitoral, afinal, a procedência de ações do estilo implicam a cassação do registro ou do mandato do(a) representado(a) vide Ac. de 25/4/2024 no RO-El n. 060187290.

A modernização tecnológica, representada pelo PIX, é um avanço inegável, mas também impõe desafios na fiscalização de crimes eleitorais. A compra e venda de votos é uma grave violação à Lei das Eleições nº 9.504/1997, sujeitando os infratores a penalidades severas, razão porque é fundamental que a Justiça Eleitoral, em colaboração com instituições financeiras, adote mecanismos eficazes de controle e rastreamento dessas operações.

É imperativo que a inovação tecnológica não seja deturpada, comprometendo a integridade do processo eleitoral. A sociedade e as instituições devem estar atentas para garantir que o PIX sirva ao desenvolvimento do país, preservando o respeito às leis eleitorais.

*Advogado

A Prefeitura de Arcoverde, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, deu início na última segunda-feira (07) às obras de revitalização e requalificação geral da primeira etapa dos canteiros da antiga Rua Barbosa Lima, atualmente denominada de Avenida Professora Luiza Herculano da Silva, no centro da cidade.

A obra tem duas etapas e previsão de entrega para ainda este ano. Trata-se, portanto, de mais uma promessa cumprida na gestão do Prefeito Wellington Maciel. Sem falar da acertada e justa homenagem à memória dessa emblemática e querida Mestra que foi Luiza Herculano, que por muitos anos manteve no local o histórico Externato Silva Jardim, o qual formou e moldou o caráter de muitas crianças e jovens da terra do primeiro Cardeal do Brasil.

Confira como deve ficar

Raquel Kirlien*

O Brasil é rico em diversidade cultural e belezas naturais, com o Nordeste se destacando por seu charme singular. A região atrai cada vez mais pessoas em busca de qualidade de vida, combinando lindas paisagens, clima ensolarado e uma cultura vibrante. Escolher a cidade ideal para viver pode ser um desafio, portanto, vamos explorar algumas das melhores opções que o Nordeste oferece.

Recife, conhecida por sua rica história e cultura, é também sinônimo de modernidade e desenvolvimento. Com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,772, a cidade se destaca por sua excelente infraestrutura urbana e serviços de qualidade. Segundo o Ranking Connected Smart Cities de 2021, Recife está entre as 30 cidades mais inteligentes do Brasil, destacando-se nas áreas de tecnologia e inovação.

A cidade oferece um equilíbrio entre a vida urbana moderna e as belezas naturais, com manguezais e praias deslumbrantes. A cultura vibrante de Recife, impulsionada por eventos como o Carnaval e o São João, proporciona experiências culturais únicas para seus habitantes.

Salvador, primeira capital do Brasil e conhecida como “Terra da Alegria”, desempenha um papel crucial na economia nordestina, possuindo o maior PIB do Estado da Bahia. Com um IDH de 0,759, Salvador combina sua importância econômica com um patrimônio cultural rico e diversificado.

A cidade é famosa por suas festividades, arquitetura colonial e praias que atraem turistas de todo o mundo. Aos que aqui vivem, Salvador oferece um ambiente acolhedor com uma forte identidade cultural e uma vida social ativa.

Lauro de Freitas: Tranquilidade perto da metrópole

localizada na Região Metropolitana de Salvador, Lauro de Freitas atrai aqueles que buscam uma vida mais tranquila, mas que desejam a proximidade de uma grande cidade. A apenas 20 minutos do aeroporto de Salvador, a cidade oferece belíssimas praias e uma ampla gama de serviços, garantindo conforto e bem-estar aos seus residentes.

Com infraestrutura de qualidade, incluindo shoppings, universidades e hospitais, Lauro de Freitas promete uma vida prática e prazerosa, sem perder o contato com as belezas naturais típicas do litoral baiano.

Fortaleza: Desenvolvimento e Tradição

Uma das cidades mais desenvolvidas do Nordeste, Fortaleza apresenta uma excelente qualidade de vida com sua infraestrutura moderna. A cidade, famosa por sua vibrante vida noturna, faz da Avenida Beira-Mar um ponto convergente de cultura e lazer.

A presença de feiras, restaurantes e uma diversificada oferta cultural faz de Fortaleza um local dinâmico e atraente não apenas para turistas, mas também para aqueles que buscam um local para se estabelecer.

Natal, capital do Rio Grande do Norte, é reconhecida por seu equilíbrio entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental. A cidade é um verdadeiro paraíso natural com suas praias e dunas que compõem paisagens impressionantes.

Ela se destaca como um lugar propício para quem procura qualidade de vida, oferecendo desde modernos centros comerciais até aconchegantes áreas residenciais, sempre mantendo a hospitalidade típica nordestina.

Outras Cidades em Destaque

Além das capitais, cidades como São Luís, João Pessoa, Aracaju, e Teresina também oferecem ótimas condições de vida, com infraestrutura adequada e uma rica herança cultural. Estas cidades são destinos igualmente atrativos para quem busca qualidade de vida no Nordeste.

Viver no Nordeste brasileiro é, sem dúvida, uma experiência enriquecedora, com cada cidade oferecendo seu próprio atrativo único. Qualquer que seja a escolha, as melhores cidades do Nordeste têm muito a oferecer para aqueles que desejam chamar essa região de lar.

*Jornalista da Tupi FM

Angelo Castelo Branco* 

O Bolsa Família e programas sociais similares têm sido ferramentas importantes no combate à fome e à pobreza no Brasil, especialmente nas regiões mais carentes. Contudo, se esses programas não vierem acompanhados de uma estratégia clara de capacitação profissional para os beneficiários em idade produtiva, corre-se o risco de perpetuar a dependência e transformar tais iniciativas em instrumentos de manipulação política, servindo como uma ferramenta para compra de votos, especialmente em regiões onde as populações são mais vulneráveis e dependem desses auxílios.

Sem a criação de oportunidades de inserção no mercado de trabalho, o ciclo de pobreza e exclusão social não será rompido.  O compromisso do Estado deve ir além da simples transferência de renda; ele precisa incluir, de forma paralela e indissociável, um compromisso bilateral de oferecer capacitação técnica e educacional para que as famílias possam conquistar autonomia e melhorar sua qualidade de vida a longo prazo. 

Caso contrário, o benefício tende a se perpetuar como uma medida assistencialista, sem perspectiva real de mudança estrutural para a sociedade.

É urgente que a gestão desses programas seja realizada por uma organização suprapartidária, livre de influências políticas que possam comprometer sua função social. 

Assim como ocorre com as agências reguladoras, uma entidade independente, com foco exclusivo na promoção da segurança alimentar e na erradicação da miséria, seria mais eficaz na execução dessas políticas. 

A politização excessiva de iniciativas voltadas ao combate à pobreza tende a desvirtuar seus objetivos, tornando-se um instrumento de barganha eleitoral em vez de uma resposta sólida às demandas humanitárias da população.

Uma abordagem suprapartidária seria mais transparente e justa, além de promover o alinhamento com os interesses do conjunto plural da sociedade contribuinte.

Essa estrutura teria o potencial de criar uma rede de proteção social mais robusta, onde a oferta de capacitação seria um pilar essencial, proporcionando às famílias beneficiadas meios para conquistar dignidade e autonomia, e ao país, um caminho mais sustentável para erradicar a pobreza e a fome.

*Jornalista

O PT voltou à Presidência da República com a vitória de 2022, mas o número de prefeituras conquistadas agora pelo partido está longe de alcançar o que foi no passado, e as demais siglas de esquerda também viram a capilaridade nos municípios reduzir ao longo dos anos.

De 2012 para cá, o volume de cidades comandadas no País pelas principais legendas do campo caiu pela metade — resultado que suscita o debate sobre valores do eleitorado e os dilemas da esquerda. Na esteira do recado das urnas, até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu na sexta-feira que é preciso “rediscutir” o papel eleitoral do PT.

No Brasil de 12 anos atrás, o governo Dilma Rousseff desfrutava de alta popularidade, e as emendas parlamentares ainda não tinham reconfigurado a dinâmica política entre congressistas e prefeituras. As ruas também não davam sinais da eclosão que aconteceria em junho de 2013 e transformaria o debate nacional. Com as urnas fechadas, PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL fizeram juntos 1.468 prefeitos, a maior parte pelos petistas. Na semana passada, foram 724. O montante é menor do que o que PSD, campeão de prefeituras, conquistou sozinho: 878.

“Houve um erro de leitura, como se a vitória do Lula fosse uma revanche do PT. Não foi. Muitos eleitores do Lula são conservadores”, afirma o jornalista Thomas Traumann, ex-ministro da Secretaria de Comunicação e autor do livro “Biografia do Abismo”, sobre a polarização brasileira. 

Thomas reforça que “o Lula é muito maior que a esquerda. Na eleição de São Paulo, isso fica claro com o percentual de transferência de votos dele para o Guilherme Boulos. Boa parte dos eleitores do Lula não se vê no Boulos”.

Novos anseios

Ao derrotar, com ares de frente ampla, um rejeitado Jair Bolsonaro (PL) há dois anos, parte da esquerda considerou que os valores caros a esse lado do espectro político haviam prevalecido, quando na verdade a sociedade permaneceu conservadora. Não se trata de uma “jabuticaba”, aponta Traumann, e sim de um fenômeno que o campo progressista enfrenta em vários países. No Reino Unido, os trabalhistas voltaram ao poder depois de 14 anos ao redirecionar o discurso para temas do dia a dia da população, deixando para trás uma fase marcada pelas pautas identitárias.

“Os partidos de esquerda não responderam a uma série de questões, como o novo mercado de trabalho ou como conseguir defender direitos das minorias sem que isso pareça ameaça aos valores de uma parcela da população”, avalia.  “Agora que não tem mais o fantasma Bolsonaro, as coisas voltam mais ou menos ao normal, e todos os problemas que a esquerda enfrentou em 2016, 2018, 2020 e 2022, com exceção da vitória do Lula, voltam à tona”, complementa.

No caso do PT, até houve um aumento no número de prefeituras de quatro anos para cá, mas muito tímido: de 183 para 248. Também não foram conquistadas capitais, e a aposta está agora nas quatro eleições com segundo turno que o partido ainda disputa em Fortaleza, Goiânia, Natal e Porto Alegre.

As eleições municipais de domingo passado tiveram índice recorde de reeleição: 81%. Reflexo, em parte, da bonança de prefeituras irrigadas por emendas parlamentares. Se a eleição de 2020 já havia sido desfavorável à esquerda, a deste ano foi de manutenção do que já está posto — e a esquerda quase não faz parte desse cenário.

Em outra frente, com a entrada em cena de pautas alheias às que costumam conduzir eleições majoritárias, os partidos se encontram numa encruzilhada. A direita se sai melhor quando a polarização é alimentada, dada a ressonância de ideias conservadoras no eleitorado. É mais nas demandas “reais” da população, e menos na ideologia, que a esquerda deveria se concentrar, avalia o fundador do instituto Locomotiva, Renato Meirelles.

Diante de um Brasil que passou a alimentar valores empreendedores, com mudanças nas relações de trabalho, criou-se um descompasso entre os partidos progressistas e a população, um caldo cultural também temperado pelas igrejas neopentecostais.

Se os caminhos passam por aí, o partido do presidente Lula tem um exemplo bem-sucedido em Contagem, Região Metropolitana de Minas Gerais. É de lá a prefeita petista que mais governa pessoas no País, Marília Campos, que assumiu o posto depois que o partido, em 2020, ficou sem capitais pela primeira vez na história. Agora, Marília foi reeleita em primeiro turno com 60%, apesar de Bolsonaro ter vencido Lula por mais de dez pontos de diferença na cidade em 2022.

Psicóloga, a prefeita ajudou a fundar o partido na região, mas hoje não poupa críticas à forma como a sigla tem se comportado

Vencedora com uma aliança que reuniu 14 partidos, Marília diz que chegou a registrar 80% de avaliação positiva na prefeitura e que, se fosse de um partido de centro, possivelmente converteria todo esse percentual em votos. Como é petista, mesmo parte de quem vê a gestão com bons olhos não quis apertar o 13.

A fim de sair da encruzilhada, a prefeita prega um discurso mais “municipalista” e “universalista” à legenda.

“O PT tem hoje uma predominância do discurso identitário, que faz com que dispute apenas uma bolha. É pouco universal. Diria também que, como não faz um discurso universal, que dispute o cidadão comum com seus problemas no transporte, na saúde, no território onde vive, o partido faz esse voto ser disputado ou pelo centro ou ficar muito refém dos votos conservadores, das igrejas”, afirma a eleita.

Do O GLOBO

Corri hoje meus 8 km diários na Jaqueira, no Recife, ouvindo música ao vivo. Vinha do saxofone de Miro do Sax, um senhor de 78 anos, que, aos domingos, sai cedo da sua Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, para alegrar as manhãs dos que andam e correm no parque da Jaqueira. 

Me deu um estalo e resolvi criar o quadro “Crônica domingueira”, para falar de gente, do cotidiano, das coisas simples da vida, que inauguro com “seu” Miro. A vida sem música é um exílio, uma tarefa cansativa, escreveu Nietzsche, pensador, poeta, crítico cultural e compositor alemão. 

A música tem o poder de nos levar a lugares onde as palavras jamais chegariam. A música nos ensina a dançar com o coração. Cada acorde é uma janela aberta para a alma. A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende. É um fio invisível que nos conecta com o que é eterno e belo. 

Miro vive hoje da música e para a música, depois de tirar o sustento para educar três filhos como motorista de táxi por muitos anos. Além do sax, toca trombone. Aperfeiçoou sua vocação para instrumentos de sopro no Liceu de Artes de Pernambuco. A Jaqueira virou um ponto semanal, aos domingos, que lhe rende uns trocados. 

Chega cedo, às seis da matina já é possível caminhar no parque ouvindo suas canções. Para cada momento, uma canção. Parece se inspirar na velha máxima de que há uma canção em cada momento, esperando para ser descoberta por quem sabe ouvir. Mas nem todos sabem ouvir. 

Tem muita gente que entra e sai do parque sem o menor senso de humor, sem a menor sensibilidade. Não sabem estes que quando as notas de uma canção encontram o coração, a música se transforma em poesia para a alma. O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes não tem alma. 

Para seu Miro, a música é a linguagem do seu espírito. Ele me contou que a vida, para ele, é como a música: deve ser composta de ouvido, com sensibilidade e intuição, nunca por normas rígidas. Victor Hugo tinha razão: a música é o barulho que pensa. Onde há música as coisas ruins não se aproximam. 

Clarice Lispector abordou a música em várias obras de sua autoria. Em Água Viva, comparou a escrita automática de seu texto ao jazz, e disse que ouvia música apoiando levemente a mão na eletrola e a mão vibrava espraiando ondas pelo corpo todo. 

Cora Coralina já profetizou: “Não morre aquele que deixou na terra a melodia do seu cântico na música de seus versos”.

Confira o vídeo: