Puxa-saquismo em fim de carreira
De tudo que vi nos últimos dias, no estrangulamento do prazo para definição das candidaturas em convenções, o que mais me chamou atenção foi a postura submissa do prefeito de Paulista, Yves Ribeiro (PT). Cinco dias após jogar a toalha, desistindo da reeleição, disse que seu candidato só seria escolhido após combinar com a governadora Raquel Lyra (PSDB).
Tomei um susto e fiquei numa dúvida: Yves não está filiado ao PT, após navegar nas mais diversas searas partidárias? Se é petista, o que uma governadora tucana, cujo partido faz oposição ao Governo Lula, tem a ver com a sua decisão? Fim dos tempos, como está no livro do Apocalipse. Em busca de conveniências, os políticos são capazes de tudo.
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Yves está, na prática, refundando o PT, mas o PT de linhagem conservadora, de direita. Desconheço qualquer tipo de aliança nacional que PSDB e PT estejam juntos por orientação da cúpula nacional petista, na qual Lula dá a última palavra, seja nas capitais, agora nas eleições municipais, seja em municípios de interesses estratégicos, como é o caso de Paulista.
O mais engraçado disso tudo é que não se ouve nenhuma voz ativa do PT em Pernambuco fazendo o contraponto a Yves. Pelo contrário, há petistas históricos vibrando, como é o caso do deputado João Paulo, o mais ardoroso raquelzista de prontidão na Assembleia Legislativa. Tempos esquisitos e bicudos são vistos e testemunhados na política.
O oportunismo e a conveniência são as práticas mais comuns nos políticos em geral, mas também as mais abomináveis. Em fim de carreira, próximo a vestir o pijama, Yves escreve um triste capítulo, o da subserviência e do puxa-saquismo, que deve sangrar o coração dos que acreditavam que estivesse na vida pública por idealismo.
Com essa postura inaceitável, testemunha em público que sabe, como ninguém, compreender as coisas que mais convém.
JACARÉ COM COBRA D ÁGUA – Outro fato, igualmente lamentável, foi o casamento do jacaré com cobra d’água, a aliança que o PT fez em Olinda com um dos mais autênticos representantes do bolsonarismo em Pernambuco: o empresário Celso Muniz, de última hora filiado ao PCdoB, pelo deputado Renildo Calheiros, para compor a chapa como vice do candidato a prefeito pelo PT, Vini Castello. Também sobre a complacência e o silêncio ensurdecedor das principais lideranças estaduais do PT.
Virou moda – A nefasta prática da conveniência também se circunscreve nesta reta final das convenções em Arcoverde, porteira de entrada do Sertão, a 250 km do Recife. Ali, o prefeito Wellington Maciel (MDB), que derrotou Zeca Cavalcanti (Podemos) na eleição passada, desistiu da reeleição e está a passos largos de se abrigar no palanque de Zeca. Somente para se vingar de Madalena Britto (PSB), que o elegeu, com ele rompeu e é candidata na polarização contra Zeca.
Mano também na onda – Em Jaboatão, o prefeito Mano Medeiros (PL), candidato à reeleição, fez a sua convenção, ontem, sem convidar os bolsonaristas raízes do Estado, entre eles o ex-ministro Gilson Machado, pré-candidato a prefeito no Recife. Quer evitar sua imagem associada ao ex-presidente, mesmo sendo o seu padrinho político, o ex-prefeito Anderson Ferreira, presidente estadual do seu partido. Mais uma reprodução da política da conveniência.
E tome vaias! – Mano tem lá suas razões. Embora não convidado, como não foram Gilson e Alberto Feitosa, o deputado federal Coronel Meira, fiel escudeiro da bancada bolsonarista, inventou de discursar na convenção do prefeito de Jaboatão e se deu mal. Levou uma tremenda vaia quando tocou no nome do ex-presidente da República, constrangendo o palanque inteiro, especialmente o prefeito, que foi contrariado com a presença de Meira e de outro deputado bolsonarista – Pastor Eurico.
Douglas tem o melhor perfil – Se não houver atropelos, o vice na chapa do pré-candidato do PDT a prefeito de Caruaru, José Queiroz, será o empresário Douglas Cintra. Filiado ao PSB, Cintra foi senador da República ocupando a vaga de Armando Monteiro Neto quando este se licenciou para ser ministro. Entre outros cargos públicos, foi superintendente da Sudene. Mesmo numa gestão tão curta, Cintra deu uma reviravolta na Sudene. Seu perfil, portanto, une a experiência política com a de empresário bem-sucedido.
CURTAS
LAVOU AS MÃOS – Ao discursar na convenção do candidato do PT a prefeito de Olinda, a senadora Teresa Leitão (PT) lavou as mãos sobre a escolha de um bolsonarista na vice de Vinicius Castello. “Celso foi indicado pelo PCdoB, após um diálogo interno. Poderia ter havido outras indicações, mas nós não interferimos na escolha”, disse.
MAUS LENÇÓIS – Aliados de Lula avaliam que, caso Maduro não respeite o resultado das eleições, o presidente brasileiro ficará em uma situação complicada. Teria de calcular muito bem uma reação que não fosse interpretada como um endosso a uma eventual quebra do processo democrático, mas que também pudesse assegurar a estabilidade política na região.
ENCOLHEU – O PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela encolheu 62,5% ao longo de uma década, sob a presidência de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unidos da Venezuela, esquerda). Em 2021, 68% da população venezuelana estava em situação de extrema pobreza e a taxa de inflação de 190% do país no ano passado foi uma das mais altas do mundo.
Perguntar não ofende: Por que o PT não dá um pio sobre a decisão de Yves em ouvir a governadora sobre o seu candidato?
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