Coluna da segunda-feira

A história sepultada

No fim de semana, em duas postagens seguidas neste blog, trouxe à tona a situação do lamentável abandono do histórico prédio do Diário de Pernambuco, localizado na chamada Pracinha da Independência. Felizmente, despertou a atenção de muita gente importante e sensível.

Já há, inclusive, a iniciativa de um advogado que anunciou uma ação popular contra o Governo do Estado (era Jarbas Vasconcelos), que pagou R$ 2 milhões pela compra com o propósito de transferir para o local o novo Arquivo Público Estadual, projeto que nunca se viabilizou e não se sabe até hoje a destinação dessa montanha de dinheiro na época (2004).

Descobri, entretanto, que o Estado continua sem preservar sua memória, porque existem outros símbolos culturais igualmente abandonados, como o prédio do Antigo Liceu, de 1880, no centro do Recife. Iniciativa da Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, nasceu para reunir profissionais ligados às artes. Situado entre o Palácio do Campo das Princesas e o Teatro de Santa Isabel, o imóvel de estilo classicista imperial foi tombado, mas está fechado desde 2007, quando as atividades foram transferidas para o prédio do antigo Colégio Nóbrega.

Também às moscas está a torre de atração de zeppelins, provavelmente a última que ainda permanece de pé no mundo, no Recife, mais precisamente no Parque do Jiquiá, na Zona Oeste. A estrutura foi construída para receber o dirigível, que aportou no Recife pela primeira vez no dia 22 de maio de 1930. A torre foi a primeira estação aeronáutica voltada para este tipo de transporte na América do Sul.

Também abandonado, permanece o Conjunto Fabril da Tacaruna. Ali, em 1890, um imóvel histórico para o Estado passou a ser construído: a Usina Beltrão, tornando-se o empreendimento que seria considerado a primeira e mais moderna refinaria da América do Sul. As obras foram concluídas em 1895. A usina de açúcar pouco tempo depois fechou as portas e deixou o prédio inativo por 27 anos. Em 1925 passa a funcionar como indústria têxtil, a Fábrica Tacaruna, que funcionou até 1955.

Igualmente, a casa em que Clarice Lispector viveu durante a infância e parte da adolescência no Recife tornou-se mais um dos inúmeros símbolos de abandono da capital pernambucana. Localizada em frente à Praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, o imóvel está com a porta principal bloqueada por tijolos, a fachada foi tomada por lixos e pichações, além dos danos à estrutura, como furos no telhado e buracos nas paredes.

Outro prédio histórico abandonado é o Palácio Frei Caneca, antiga sede da Vice-Governadoria do Estado. O imóvel também serviu de dependência oficial de vice-governadores por mais de cinco décadas. Está fechado e degradado há muitos anos, com pichações e mato na fachada. 

Construído em 1967, o prédio dá nome a um dos principais baluartes da Revolução Pernambucana de 1817. Joaquim do Amor Divino Rabelo, conhecido por Frei Caneca. O nome teve origem por causa da infância modesta, quando vendia canecas nas ruas do Recife, no período do Brasil Colônia.

GOVERNO INSENSÍVEL – No início do mês passado, a governadora Raquel Lyra (PSDB), ao invés de restaurar um patrimônio, anunciou a construção de um habitacional de interesse social no terreno do tradicional Edifício Frei Caneca, destinado aos moradores da comunidade de Santa Terezinha. A iniciativa, segundo argumentou, faz parte das ações do Morar Bem Pernambuco. O primeiro estágio do projeto irá contemplar 48 famílias que moram em palafitas e conta com um orçamento estimado de R$ 6,7 milhões, oriundos do Governo do Estado. Se o prédio é tombado, símbolo do poder, da história e da cultura, o projeto é uma agressão à memória dos pernambucanos.

Pacto pela Morte – A Polícia Civil divulgou, ontem, um relatório estarrecedor sobre a violência em Pernambuco. Só neste ano, em cinco meses, já ocorreram 1.577 homicídios, uma média de 315 assassinatos por mês. Se isso for verdadeiro, Pernambuco voltou a ser, proporcionalmente, por grupo de cada mil pessoas, o Estado mais violento do País. Se Eduardo Campos criou o programa Pacto pela Vida, Raquel Lyra Mandacaru (PSDB) inovou, fez uma revolução do mal, instituindo o “Pacto pela Morte”.

O maio mais sangrento – No levantamento da Polícia Civil, com base nos crimes disponíveis no site oficial da Secretaria de Defesa, os números apontam que maio somou 266 assassinatos, se tornando o mês com menor registro de Mortes Violentas Intencionais (MVI), neste ano no Estado. O interior continua sendo a região mais violenta, com 149 homicídios. Já na Região Metropolitana foram 83 e na capital 34. Na estatística oficial da Secretaria de Defesa Social (SDS), em janeiro foram registrados 355 Mortes Violentas Intencionais, em fevereiro 310, em março 324 e em abril 322.

Sinpol desmoraliza o Governo – Na semana passada, a governadora anunciou uma redução de 11,6% no número de homicídios, apontando o último mês de maio como o melhor de toda a série histórica do levantamento, iniciada em 2004, com 266 MVIs. No Recife, segundo ela, se deu o menor resultado dos últimos cinco anos, com 33 MVIs, número 34% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado. Mas o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), Áureo Cisneiros, contestou os números oficiais. Segundo ele, de janeiro a maio deste ano, foram 1584 MVI e no mesmo período, em 2023, ocorreram 1468 MVI.

PEC barrada – A PEC das Praias, um dos maiores absurdos do Congresso nos últimos anos, felizmente está com seus dias contados. Depois da repercussão negativa e do debate polarizado sobre o tema, sairá de pauta. A avaliação de líderes partidários é que a proposta precisa ser mais amadurecida e debatida. A possibilidade de fazer uma sessão de debates no plenário sobre o tema tem sido avaliada, a fim de esclarecer pontos que causam discussão nas redes sociais. Um requerimento de autoria do senador Jorge Kajuru (PSB-GO) solicitando a sessão, ainda sem data definida, foi aprovado na última semana. O assunto tomou as redes sociais depois de uma audiência pública na Casa Alta a respeito da PEC.

CURTAS

ESVAZIAMENTO – A chegada das comemorações juninas deve, a partir da próxima semana, diminuir o ritmo das atividades parlamentares no Congresso. Os festejos movimentam a economia, sobretudo em cidades do Nordeste e, em ano de eleições municipais, a presença de deputados e senadores em seus redutos eleitorais é imprescindível.

RECESSO – Já na próxima quinta-feira, comemora-se o dia de Santo Antônio. Na última semana do mês, os dias de São João (24/6) e de São Pedro e São Paulo (29/6) costumam esvaziar ainda mais as comissões e plenários do Legislativo. Algumas pautas prioritárias podem ser prejudicadas, tendo em vista que os congressistas só têm, aproximadamente, um mês antes do recesso parlamentar, que começa em 17 de julho.

PAUTA – Ao sair da reunião de líderes partidários do Senado Federal na última semana, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) citou projetos importantes para a pauta dos próximos dias, mas resumiu: “Tem muita coisa aí pra acontecer nessas próximas duas semanas e o São João também, no Nordeste”. O senador Carlos Portinho (PL-RJ) também relembrou que junho “é um mês muito prejudicado”.

Perguntar não ofende: O gato comeu os R$ 2 milhões do Estado na compra da sede abandonada do DP?