Por Lerin Macedo*
Os pernambucanos fizeram uma grande festa na casa do empresário João Carlos Di Gênio em homenagem à eleição do deputado Inocêncio Oliveira para Presidência da Câmara dos Deputados. Era fevereiro de 1991. A festa rolou solta, o clima era animado e descontraído.
Todos bebiam e comiam à vontade, celebrando a vitória do conterrâneo. Foi quando o então deputado Tony Gel, na época do PFL, pegou o microfone e soltou a voz, cantando a música “Na Feira de Caruaru”, um clássico do seu conterrâneo Onildo Almeida, celebrado no mundo inteiro na voz de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
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Arrancou, claro, aplausos de todos os presentes.
Logo depois, o deputado, engenheiro e empresário Marcelo Luz me fez um convite inesperado. Queria que cantássemos juntos “Petrolina-Juazeiro”, hino da terra que nos viu nascer. Confesso que minha entonação não era lá essas coisas, mas a emoção estava incontrolável.
Enquanto cantávamos a nossa terra, não pude deixar de lembrar do avô de Marcelo Luz, primeiro deputado eleito de Petrolina, Souza Filho, que deixou sua marca na história política de Pernambuco e da Bahia.
Nascido em Petrolina no ano de 1886, Souza Filho estudou no Colégio Carneiro Ribeiro, em Salvador. Concluído o curso de Direito foi morar em Juazeiro, onde fez sua primeira defesa criminal, fundando em seguida o jornal “Correio do São Francisco”.
Casou-se com Daria Padilha, filha do Cel. José Rabelo Padilha, importante líder político de Petrolina na época. Depois de tumultuada separação, levou sua filha Lourdes para estudar em um internato no Colégio Sion, em Paris.
Souza Filho foi eleito intendente e depois deputado estadual pela Bahia. Em 1911, fez um discurso que chamou a atenção de Dantas Barreto, então governador de Pernambuco, a quem ele chamou de “General civilista”. Dantas gostou do discurso e convidou Souza Filho para se candidatar a deputado por Pernambuco, mandato que exerceu com brilho.
No final de seu mandato como governador, Dantas Barreto nomeou Souza Filho Procurador Geral do Estado, sendo demitido na gestão do governador Manuel Borba, com quem havia rompido politicamente.
Dentre os políticos que marcaram história na República Velha, Souza Filho se destacou pelo poder da palavra. Sua oratória fluente cativava a todos que o ouviam, seja nas praças, nas ruas ou nos comícios. Era um deputado mitingueiro na sua essência. Souza Filho tinha uma personalidade muito forte, era vezes polêmico, o que o tornava alvo de críticas e controvérsias.
Sua carreira política teve um fim trágico e abrupto. Em 26 de dezembro de 1929, o deputado Ildefonso Simões Lopes o assassinou a tiros o no plenário da Câmara dos Deputados, o chamado Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro. O crime foi motivado por uma discussão entre os dois, depois que o filho de Lopes quebrou uma bengala na cabeça de Souza Filho.
O assassinato brutal foi um sinal de uma época conturbada, marcada por rivalidades políticas, cuja lembrança deveria ser um incentivo permanente ao diálogo e à tolerância na política. E, mesmo que a voz de Souza Filho tenha se calado, suas palavras continuam ecoando porque são memórias de um tempo que não pode ser esquecido nunca.
*Historiador em Brasília
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