Brasília, poder Central do País, não conseguiu escapar da tradição do Rio, de quem roubou o título de capital. Só tem uma avenida na competição de mídia impressa: em 62 anos, apenas dois jornais disputam a preferência dos seus leitores. Um deles, o Jornal de Brasília, está completando hoje 50 anos de circulação ininterrupta.
Trabalhei nos dois, o JBr, título para intimidade dos seus jornalistas, e o Correio Braziliense, que tem a idade da corte. Tive três passagens pelo jornal aniversariante. Nos anos 80, como repórter. Mais tarde, nos anos 90, como editor de Cidades e colunista político da edição magrinha das segundas-feiras, e nos anos 2000 como editor-geral e editor-executivo, desta feita já tendo como sócio o empresário pernambucano Eduardo Monteiro.
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O Jornal de Brasília fincou suas raízes na corte através de um grupo goiano, sob a liderança de Fernando Câmara. Foi lá que conheci grandes profissionais de um jornalismo romântico, boêmio e envolvente. Meu primeiro chefe foi Oliveira Bastos, uma das maiores feras do jornalismo candango. Era neurótico, agressivo, quase que insuportável quando perseguia um furo.
Vi muitos coleguinhas tremerem feito vara verde diante dele. Virou uma lenda jornalística do Brasil, um dos mais premiados do País. No JBr vi também o Congresso cair de pau no jornalista Gualter Loyola, um baita editor, que provocou a ira dos senadores e deputados com um texto-legenda de uma foto na primeira página sobre um circo que havia se instalado na rampa do Congresso.
Sutilmente, o Congresso, na pena infalível de Loyla, virou picadeiro. Ainda no JBr, enfrentei o primeiro processo por crime de difamação, calúnia e injúria, movido pelo presidente dos Diários Associados, Paulo Cabral. Escalado para ir ao Rio entrevistar Gilberto Chateuabriand, herdeiro de Chatô, que estava em guerra com Paulo Cabral por causa do espólio do pai, produzi uma série de reportagens para o JRr com revelações inéditas sobre a contenda judicial.
Cabral morreu sem me perdoar. Com a sua morte, o processo foi arquivado. O JBr foi um rio que passou em minha vida deixando muita saudade. Tempo que as grandes manchetes eram perseguidas com muito suor e risco, comemoradas depois numa mesa de bar com a edição ainda cheirando a tinta.
É um rio saudoso porque ali aprendi também que Jornalismo é como se fosse um fio, que liga as pessoas ao mundo. O jornalismo nunca fará ninguém rico, mas dá prazer, porque encaro como uma arte, a arte de sintonizar o mundo as pessoas.
Viva os 50 anos do Jornal de Brasília!
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