O motivo: o governo Bolsonaro furou o teto de gastos, ou seja, fez despesas acima do previsto no Orçamento desde o início de 2020. Os gastos extras para conter os efeitos do coronavírus somaram R$ 524 bilhões em 2020, R$ 21 bilhões em 2021 e R$ 19 bilhões em 2022.
Além disso, a Constituição foi alterada para acomodar outros gastos extras. Em 2021, o Congresso, com a ajuda do governo, criou um limite para o pagamento de dívidas judiciais da União (precatórios) e mudou o cálculo do teto, abrindo um espaço para despesas superiores a R$ 100 bilhões no Orçamento.
O dinheiro custeou o Auxílio Brasil de R$ 400, a compra de vacinas anticovid, a correção de benefícios previdenciários e a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia.
GASTO EM ANO ELEITORAL
Em 2022, com a guerra na Ucrânia pressionando os preços de commodities agrícolas e energia e a proximidade da eleição, outro furo foi feito no teto.
O Congresso aprovou uma emenda constitucional que declarou estado de emergência e permitiu mais R$ 41 bilhões em gastos extras até o final de 2022. A medida:
- elevou o programa de transferência de renda para famílias de baixa renda para R$ 600 por mês e aumentou a lista de beneficiários;
- duplicou o vale de gás de cozinha existente (para R$ 130 a cada 2 meses);
- estabeleceu um vale-diesel de R$ 1.000 por mês para caminhoneiros autônomos e taxistas; estabeleceu compensação para governos locais pelo uso gratuito de transporte público por idosos;
- compensou as prefeituras pela redução do ICMS do etanol;
- e aumentou os fundos para um programa de segurança alimentar.
O governo justifica que a alta dos preços das commodities, provocando maior arrecadação, ajuda a compensar os gastos extras.
Por outro lado, as medidas irão, em alguns casos, conduzir a uma má alocação de recursos na economia e poderão ter um impacto duradouro nas finanças públicas. Há incerteza sobre os gastos futuros.
Até o momento, o Orçamento apresentado pelo Ministério da Economia não tem números reais para 2023. O texto enviado ao Congresso não apresenta o auxílio de R$ 600 para o próximo ano –o que já foi prometido pelo atual presidente e seus adversários na eleição.
A previsão é gastar R$ 105,7 bilhões no Auxílio Brasil de R$ 400 e atender 21,6 milhões de famílias. Faltariam R$ 52 bilhões para bancar os R$ 200 extra.
O governo ainda quer dar R$ 14,2 bilhões para reajuste salarial dos funcionários públicos, o que representa menos de 5% para os empregados. Haverá pressão por maiores aumentos, visto que a inflação na pandemia corroeu mais de 20% dos salários.
Até a projeção do teto de gastos está subestimada. O governo usou um IPCA de 7,2% nos cálculos. Analistas do mercado consultados pelo Boletim Focus esperam 5,7%. O Banco Central, 5,8%.
Se usasse números mais realistas, o Executivo teria que fazer projeções menores do que as apresentadas, mas haveria maior desgaste político. Não valeria a pena (para o governo).
Além disso, essa e outras medidas de estímulo fiscal dificultam a busca do Banco Central para desinflar a economia. A autoridade monetária está com dificuldade em melindrar a dosagem da Selic. A inflação prevista para o fim do ano mudou bastante nos últimos 3 meses com as medidas fiscais pré-eleição e o juro real caminha para atingir 8% ao ano.
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