Folha de São Paulo
Nikolas Ferreira (PL-MG) conta que, ao nascer, sua mãe o “consagrou para Cristo”. É Ruth quem hoje pede que ele tenha “cuidado com esse povo da esquerda” antes de postular: “Deus te abençoe”.
A batalha contra “esse povo da esquerda” fez do fiel da Comunidade Evangélica Graça e Paz, um vereador de primeiro mandato em Belo Horizonte, o candidato a deputado federal mais votado em todo o país, com 1,49 milhão de votos. A marca anterior no estado era de Patrus Ananias (PT), com 520 mil votos em 2002.
Aos 26 anos, Nikolas se firmou como uma das maiores potências do bolsonarismo, a ponto de ser cogitado nos bastidores como uma carta na manga para futuras eleições presidenciais – a idade mínima para disputar a Presidência é ter 35 anos na data da posse.
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Ele é de direita desde que se entende por gente. Na família, só um avô votava no PT. O neto começou a ler Olavo de Carvalho aos 13 anos. Impressionou-se com aquele homem que “traduzia em uma frase o que eu queria dizer”, contou a Cíntia Chagas, professora-influencer queridinha de bolsonaristas por opiniões como a de que o uso de pronomes neutros na linguagem inclusiva – como “todes” – são uma “histeria coletiva”.
Nikolas dilatou seu capital político com críticas ao que chama de doutrinação ideológica à esquerda em escolas e faculdades. Um “antro de ativismo” que diz ter visto de perto, ao cursar direito na PUC mineira.
Orgulha-se de ter chamado a polícia quando uma professora de filosofia, segundo ele, aplicou uma prova que deveria ser feita em dupla por todos na sala, menos pelo aluno crente. Sugeriu que ele fizesse par com Deus. Ele conta à Folha que outro docente, para debochar de sua fé, o apelidou de “Jesus me ama”. Teve ainda um que teria usado tempo da aula para defender o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Nikolas tremula várias das bandeiras do bolsonarismo. Diz se interessar por pautas “em defesa da vida desde a concepção” e que prestigiem as forças de segurança pública. Também defende que “homem use banheiro de homem, e mulher, de mulher”, fórmula usada por conservadores para se opor a transgêneros.
O Ministério Público abriu uma investigação, hoje em andamento, após o vereador expor uma aluna trans menor de idade que foi ao toalete feminino do colégio. A irmã do agora deputado eleito filmou a colega, e ele compartilhou o vídeo. “Não preciso nem falar que dentro da sala de aula, com relação à matéria de história, ocorre doutrinação. Travesti no banheiro da escola da minha irmã”, afirmou à época.
No dia seguinte à eleição, ofendeu no Twitter a trans Duda Salabert (PDT), a mulher mais votada para a Câmara em Minas Gerais. Nikolas disse que esse mérito era da segunda mais bem colocada, Greyce Alias (Avante). “Quando mudarem a biologia, aí vocês dão o título para outro. Até lá: parabéns, Greyce.”
Antes, gravou vídeo exibindo um rifle e, em setembro de 2021, foi barrado ao tentar visitar a estátua do Cristo Redentor, no Rio. Não tinha comprovante de vacinação contra Covid. O episódio foi usado para viralizar nas redes. Ele depois tomou sua dose, para poder viajar à Europa a trabalho. Em solo inglês, foi a um ato antivacina. Disse na ocasião ser contra a imunização imposta pelo Estado.
Uma vez na Câmara, estará de olho nas comissões de Constituição e Justiça, a mais poderosa, e na de Direitos Humanos, por querer “mostrar que a pauta social não é monopólio da esquerda”. Clique aqui e confira a matéria na íntegra.
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