Mulher-onça, ida a Paris e cidadão milionário: memes e gafes do debate

O primeiro debate entre os candidatos a presidente da República já rendeu gafes e memes: ironia sobre viagem a Paris, mulher que vira onça, mulher que arruma a casa e “cidadão comum” milionário.

Promovido pelo UOL, Folha de S.Paulo, Band e TV Cultura, o debate conta com a participação dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas. Em fala direcionada a Ciro Gomes (PTB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ironizou a viagem do concorrente a Paris após o primeiro turno das eleições 2018. As informações são do UOL.

“Eu espero que o Ciro nessas eleições não vá para Paris. Eu espero que o Ciro fique aqui no Brasil, e que a gente sente para conversar”, disse Lula.

O petista fazia referência à ida de Ciro Gomes à França depois de ter ficado de fora do segundo turno. A menção de Lula fez “Paris” ir para os assuntos mais comentados do Twitter.

A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) disse que “vira onça” ao rebater o ataque do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra a jornalista Vera Magalhães. Ao comentar uma pergunta sobre vacinação, o presidente usou todo seu tempo para desqualificar a jornalista.

“Lá no meu estado tem mulher que vira onça. Eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e xingamento”, falou Soraya, senadora pelo Mato Grosso do Sul, estado onde se passa a novela Pantanal. Uma das principais personagens, Juma Marruá, vira onça.

“Eu sou muito tranquila. Só que, quando eu vejo o que aconteceu agora com a Vera [Magalhães], eu fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchucas com outros homens, mas vem para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava sim”, declarou a candidata do União Brasil, em tom de indignação.

A citação também lembra episódio recente em que Bolsonaro foi chamado de “tchutchuca do centrão” por um youtuber.

Já Simone Tebet (MDB) escorregou nas palavras ao fim de uma fala de defesa das mulheres: “Nós precisamos de uma mulher para arrumar a casa”. A frase é considerada machista por atribuir às mulheres o trabalho doméstico.

Nas redes sociais, o candidato Luiz Felipe D’Ávila (Novo) virou meme por se apresentar como “um cidadão como você”. D’Ávila declarou o maior patrimônio entre os presidenciáveis: R$ 24,6 milhões. “Eu gostaria de me apresentar. Eu sou Felipe, um cidadão como você, que vive do trabalho, de empreender, é dono do negócio, não vive da política, não vive do governo”.

O ex-presidente Lula (PT), ao ser questionado sobre se comprometer a indicar mulheres para metade de seu ministério, afirmou que não assumiria esse compromisso.

Ele afirmou que indicará “as pessoas que tem capacidade para assumir determinados cargos”.

“O que não dá é para assumir o compromisso numericamente. […] Não vou assumir compromisso, porque se não for possível passarei por mentiroso”, disse ele.

Já Simone Tebet (MDB) assumiu o compromisso. Disse ainda que pessoas envolvidas em corrupção, mesmo do seu partido, não serão ministras. (Carolina Linhares e Victoria Azevedo)

“Nunca tivemos tanto dinheiro de fora do Brasil investido aqui”, Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição, no debate realizado por Band, Folha de S.Paulo, TV Cultura e UOL no dia 28 de agosto de 2022

FALSO

No último levantamento da United Nations Conference on Trade and Development, o Brasil atraiu US$ 50,3 bilhões em investimentos internacionais em 2021. O ano com maior investimento na série histórica disponível foi 2011, quando o Brasil recebeu US$ 97,4 bilhões.

“[Bolsonaro] Votou contra direito de empregadas domésticas”, Simone Tebet (MDB), candidata à Presidência da República, no debate realizado por Band, Folha de S.Paulo, TV Cultura e UOL no dia 28 de agosto de 2022

VERDADEIRO

Então deputado pelo PP, Bolsonaro votou contra a PEC das Domésticas (PEC 478/2010) no no segundo turno da votação. A proposta foi aprovada por 347 a dois na ocasião. No primeiro turno, ele não estava presente.

Após ser questionado por Simone Tebet sobre a questão das mulheres, Bolsonaro devolveu a pergunta a Ciro Gomes, com foco na criação de empregos para as eleitoras. Ao responder, Gomes disse que Bolsonaro não respeita “com a devida delicadeza, profundidade, essa grave questão feminina”. O pedetista disse que já foi criticado várias vezes pela jornalista Vera Magalhães, mas que não a atacou, como Bolsonaro fez no debate. Lembrou que seu adversário já disse que ter uma filha mulher foi ato de “fraquejada”. Sobre a pergunta, Ciro destacou que 78 de cada 100 mulheres “estão no limite recorde de endividamento e que elas não sairão desse cenário sem política pública”. Afirmou não ser razoável o país manter esse atual cenário. “Não sou daqueles críticos que esquecem a realidade e os limites. Apenas o seu governo não conseguiu responder nem a questão econômica trágica que herdou do PT, nem conseguiu mudar aquilo que foi promessa […] o senhor está filiado ao partido do Valdemar Costa Neto”, declarou Gomes. Jair, por sua vez, se desculpou pela fala da fraquejada, e lembrou que o pedetista já disse o papel de sua ex-esposa, Patrícia Pillar, era “dormir” ao lado dele e que, por isso, ele deve se desculpar. O presidente ressaltou que o Auxílio Emergencial na pandemia tinha o foco de atender inicialmente as mulheres, o que se repetiu no Auxílio Brasil, bem como a titulação de terras. Ciro Gomes afirmou que cometeu “a infelicidade” de proferir fala machista contra Pillar, mas que não fala sobre isso, e sim sobre a “falta de escrúpulos” de Bolsonaro, O pedetista disse que Jair “corrompeu” todas as suas ex-esposas e também os filhos.

“É importante deixar claro que nós fizemos o Portal da Transparência (…)”, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência da República, no debate realizado por Band, Folha de S.Paulo, TV Cultura e UOL no dia 28 de agosto de 2022

VERDADEIRO

O Portal da Transparência foi criado pela CGU (Controladoria-Geral da União) em 2004, no primeiro mandato de Lula. O portal permite que qualquer cidadão consulte informações sobre gastos públicos do governo federal.

Ciro Gomes disse que milhões de brasileiros estão “humilhados” com dívidas no SPC e que quer resolver essa problema. D’Avila disse que o PT deixou o governo com maior escândalo de corrupção do mundo e com recessão econômica histórica, e que se a sigla voltar a gerir o país a chance de crescimento “é zero”. Ciro Gomes destacou que há 11 anos o país “cresce perto de zero”. O candidato do Novo voltou a discursar em defesa da privatização das empresas estatais e que é preciso dialogar com o setor privado”. “O estatismo é uma doença no país”, afirmou, salientando que é preciso deixar de existir dependência de programas sociais

Soraya diz que Lula já governou o país e volta “sem propostas” e quer saber o plano econômico dele. O petista, por sua vez, disse não saber se a candidata sabe que quando ele tomou posse em 2003, o Brasil “estava quebrado, com inflação de 12%, desemprego de 12% e dívida pública de 60,4%”. Ressaltou que ele resultou a dívida pública líquida, reduziu a inflação para dentro da meta, que ele gerou 22 milhões de empregos e conseguiu uma reserva internacional que garantiu estabilidade inédita ao Brasil. “Não posso voltar e fazer menos do que fiz. Quero voltar para ver se esse país voltar a gerar empregos, se o salário mínimo volta a aumentar, se consegue fazer a reforma tributária”, destacou, ressaltando que é possível “consertar o país”. Soraya, porém, disse que o PT é um partido “corrupto confesso” e que esse “mundo lindo que o senhor fala só existe na propaganda eleitoral”. Afirmou que os economistas do PT “são todo mofados”. O petista, por sua vez, disse que a candidata, embora não tenha visto “esse Brasil que eu fiz acontecer”, os funcionários dela viu, porque seu governo melhorou a vida dos mais pobres. “Os pobres efetivamente cresceram nesse país e conquistaram cidadania”, afirmou. “O pobre deste país vai voltar a ser respeitado, ele vai ter emprego com descanso semanal remunerado, com direito a férias, porque esse país acabou a escravidão em 1888. Não é possível que o entregador de comida sinta o cheiro da comida sem conseguir comprar o que comer. É preciso que a gente legalize a vida desse cidadão, transformá-lo num pequeno empreendedor é dar cidadania a ele. É isso que nós vamos fazer”, completou.

A previsão de Orçamento de 2023 reserva recursos para pagar um Auxílio Brasil de R$ 400. Não há previsão orçamentária para os R$ 600 prometidos por Bolsonaro. Não está na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e não está no PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual). O governo Bolsonaro, aliás, sempre se opôs aos R$ 600. Ele reduziu o valor do Auxílio Emergencial para R$ 400 ainda em 2020. E depois cancelou os R$ 400 para 2021. Demorou para perceber o tamanho da crise e restituir os R$ 400, a partir de abril de 2021. Bolsonaro só abraçou os R$ 600 no meio da campanha eleitoral. (Alexa Salomão)

Simone Tebet disse que Bolsonaro é “misógino” e “agride” as mulheres brasileiras, que defende torturador de mulheres e, por isso, quer saber por que ele sente “tanta raiva das mulheres”. Ao responder, Jair afirmou que Simone o acusa “sem provas nenhuma”. Disse que seu governo foi o que mais sancionou leis em defesa das mulheres, e cumprimentou sua esposa, a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Afirmou que esse “discurso barato” de que ele agride mulheres “não cola mais”. “Chega de vitimismo, somos todos iguais. Tenho certeza que uma grande parte das mulheres brasileiras me amam porque defendo a família”, falou, ressaltando que, ao defender o porte e posse de armas, é uma forma de que as mulheres “possam se defender”. Bolsonaro disse que foi agredido foram os empresários bolsonaristas que defenderam, em conversas no WhatsApp, aplicar golpe de Estado caso ele saia perdedor nas urnas. Ao tomar a palavra novamente, Tebet disse que Jair falou mentiras. “Lugar de presidência é exemplo, coisa séria. Não podemos ter um presidente que mente, agride a família, age de forma desrespeitosa”, completou.