Com a maior votação já registrada no Estado, Eduardo Campos (PSB) foi reeleito com folga. Obteve 3.450.874 (82,84% votos contra 585.724 votos de Jarbas (14,06%). Além de eleger os dois senadores da sua coligação, o socialista fez da sua mãe, a hoje ministra do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes, a quinta deputada mais bem votada do Brasil, com 387.581 votos – 8,8% dos votos válidos. Marco Maciel teve apenas 934.720 votos ( 11,86%) e Raul Jungmann 599.937 – 7,61% dos votos válidos.
Uma biografia como a de Marco Maciel, visto como um dos principais responsáveis pelo processo de redemocratização do País, jamais poderia ser derrotada por um motivo único, essa tradição de governador puxar o senador. Na adversidade, com Jarbas Vasconcelos, mito no passado, quando impôs a Miguel Arraes a maior derrota da sua história, mas já enfraquecido devido ao favoritismo de Eduardo, Maciel fez a primeira eleição de sua vida estando na oposição.
Na eleição anterior, em 2002, ele vinha com a força do Governo Federal, do qual foi vice-presidente por oito anos. E embalou com a campanha majoritária de Jarbas Vasconcelos, que seria reeleito governador de Pernambuco. Em 2010, Eduardo Campos, derrotando Jarbas, vingou a derrota do avô Miguel Arraes, em 1988. Não sabia que a história havia reservado a ele, também, o fim da trajetória política de Marco Maciel.
Agora, pela primeira vez, Marco Maciel havia disputado uma eleição sem o apoio de nenhum governo. O da capital estava nas mãos do PT e o estadual na de Eduardo Campos, do PSB, reeleito com uma das maiores votações proporcionais entre todos os governadores. Mesmo com duas vagas de senador, Maciel, embora tenha partido na frente em todas as pesquisas, mesmo com Jarbas em baixa, chegou, como se esperava, baqueado na reta final.
O neto de Miguel Arraes festejou a vitória com um sabor a mais: a revanche. Seu avô, falecido em 2005, havia perdido para Jarbas Vasconcelos num percentual de 4 a 1. Agora, ele, o neto querido, que impunha uma frente de 2,5 milhões de votos sobre Jarbas. Em 1998, Arraes teve 26,3% na disputa pelo Governo do Estado, sendo derrotado por mais de um milhão de votos pelo mesmo Jarbas, que conquistou 64,1% da votação.
A história se repetia ao contrário. Com uma vitória tão expressiva, Eduardo se consolidou no Nordeste e se fortaleceu como liderança nacional, com cacife para vir a conquistar sua meta, a Presidência da República, a partir de 2014, sonho frustrado com a morte num acidente aéreo na largada da campanha presidencial.
Isolado, Jarbas considerou “previsível” a vitória do adversário, mas lamentou a exclusão do senador Marco Maciel, que, segundo ele, só tentou a reeleição a seu pedido. “Me sinto culpado”, declarou Jarbas, em meio ao tombo da derrota. “Maciel foi vítima de um novo fenômeno eleitoral, Eduardo”, disse o ex-ministro Gustavo Krause, acrescentando: “Jarbas foi de uma dignidade enorme. Faltando 15 dias para a eleição, reconheceu a derrota e disse que faria um esforço para pelo menos salvar a eleição de Marco, mas não deu”.
Dois anos depois, se confirmou o fenômeno eleitoral a que se refere Krause. Eduardo elege Geraldo Julio, um técnico completamente desconhecido, verdadeiro poste, prefeito do Recife, deletando o PT do poder na capital. Geraldo obteve 448,2 mil votos, o que equivale a 51,14% da preferência do eleitorado. O candidato do PSDB, Daniel Coelho, ficou em segundo lugar, com 27,72% dos votos. O senador do PT Humberto Costa acabou o pleito em terceiro lugar, com apenas 17,46% dos votos.
Além do fator histórico, de o governador eleger senador, Marco Maciel cometeu erros ao longo da campanha, clicada no seu passado, como se o eleitor padrão tivesse gratidão por obras e ações de gestões passadas. Chegou a lembrar até sua luta para tirar Suape do papel e consolidar o porto. Caiu na armadilha dos adversários que o acusaram com insistência de ter sido omisso com Pernambuco.
Lula, então mito em Pernambuco, veio ao Estado durante a campanha para ajudar a derrotar Marco Maciel. Em comícios e no guia eleitoral chegou a dizer que ele era o senador do Império, para realçar as diferenças com Armando e Humberto. Na despedida de Marco do Senado, Jarbas não deixou passar em branco o que Lula fez na campanha para atingir o seu companheiro de chapa.
“Quem agrediu Marco Maciel foi nada mais nada menos que o presidente da República – que, na maioria das vezes, se torna uma figura pequena, tacanha. E foi assim que ele se comportou no centro do Recife Antigo quando o agrediu, dirigindo-lhe palavras grosseiras, chulas, impróprias, sem o mínimo de respeito a um parlamentar, ex-governador, ex-ministro, ex-vice-presidente da República, presidente da República – pois vossa excelência tantas vezes ocupou a Presidência”, protestou Jarbas, da tribuna.
Derrotado pela primeira vez, Marco Maciel havia construído uma bela história. Aos 21 anos de idade, quando atuava nos movimentos estudantis,foi eleito presidente da União Metropolitana dos Estudantes, numa gestão marcada pela ruptura com a União Nacional dos Estudantes, a UNE, que à época, em meio às tensões políticas do governo João Goulart, tinha mais força que muitos partidos.
De lá para cá, construiu uma carreira pública de meio século na qual foi uma vez deputado estadual e duas vezes deputado federal, incluindo uma vitoriosa eleição que o transformou no mais jovem presidente da Câmara, aos 36 anos de idade. Teve ainda um mandato de governador, três de senador e dois de vice-presidente da República de Fernando Henrique Cardoso.
Foi um dos principais articuladores da chamada Frente Liberal, a dissidência do PDS, partido do regime militar, que garantiu a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985. Pelo trabalho, foi escolhido ministro da Educação e, depois, deslocado por José Sarney para a Casa Civil.
Mesmo sentindo o cheiro da derrota, Marco Maciel nunca perdeu a esperança. No dia da eleição, em outubro de 2010, entregou ao jornalista Otávio Veríssimo, que saiu de Brasília para ajudá-lo na campanha em Pernambuco, duas versões de discursos para se pronunciar após o resultado. Uma, falando da derrota, outra conjecturando a vitória do impossível.
Discreto, para não chamar a atenção da família e demais assessores, entregou as duas versões por escrito a Veríssimo dentro do elevador, quando o levou até o térreo do prédio onde morava. “Na despedida no Senado a linha do discurso reconhecendo a derrota se repetia”, lembra Veríssimo.
“Desejo iniciar minhas palavras expressando o meu agradecimento a Deus, que me permitiu, com resignação e humildade, aceitar os seus elevados desígnios. E ao povo pernambucano, igualmente agradeço o privilégio de, nos últimos 40 anos, tê-lo representado nos mais altos fóruns do País”, discursou o senador.
Para acrescentar: “Decidiram os eleitores não renovar o mandato que pleiteei. Isso não significa que deixarei de lutar por seus direitos, propugnar por sua ampliação e combater violações. Pernambuco e os pernambucanos são a razão de minha total dedicação. Mais do que uma vocação, a vida pública que abracei há quase meio século é um compromisso com o nosso povo e suas instituições.
Não tenho como agradecer pessoalmente a quantos sufragaram o meu nome nessas eleições, transmito o penhor do meu reconhecimento e a expressão de minha gratidão, reafirmando-lhes o compromisso de continuar trilhando o caminho que sempre percorri em defesa da ética na política e do aprimoramento da democracia”.
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