Vice-presidente, Marco Maciel deu aval a União por Pernambuco e ajudou Jarbas a derrotar Arraes

Marco Maciel

Capítulo 5 

Fervoroso macielista, com trânsito livre na esquerda – tinha diálogo até com Miguel Arraes – o então deputado federal José Mendonça Bezerra, pai do ex-ministro Mendonça Filho, articulado com Marco Maciel, o pai de um movimento batizado de União por Pernambuco, promoveu um histórico almoço num sábado calorento de 1993 na sua fazenda, em Belo Jardim, a 180 km do Recife.

A data era simbólica. Se deu um ano após Jarbas Vasconcelos voltar à Prefeitura do Recife numa eleição como dissidente da esquerda, grupo que liderou por muitos anos no Estado ao lado Arraes. Arraes e Jarbas, Jarbas e Arraes, entraram para a história como símbolos do combate à ditadura. Estiveram juntos quando o Congresso foi fechado por Geisel, irmanados no momento em que Arraes foi deposto, preso em Fernando de Noronha e exilado na Argélia.

Mas Arraes e Jarbas, na verdade, eram dois bicudos e o destino marcaria um dia a cisão. Quando Arraes voltou do exílio, queria ser governador, mas Jarbas apoiou Marcos Freire. Arraes guardou na geladeira e se vingou em 1990, quando fez corpo mole na campanha na qual Jarbas foi derrotado por Joaquim Francisco na corrida ao Governo do Estado. Arraes deixou o poder, passou o Governo para Carlos Wilson, rompeu com o MDB de Jarbas, criou o PSB e montou uma chapinha para deputado federal.

Saiu com uma avalanche de votos nunca vista, a ponto de puxar, com a sobra em cima do coeficiente eleitoral, mais cinco federais: Sérgio Guerra, Luiz Piauhylino, Renildo Calheiros, Álvaro Ribeiro e Roberto Franca. Os dois últimos com três mil e poucos votos. Abandonado e derrotado, Jarbas viu também, como consequência da chapinha de Arraes na proporcional, velhos próceres da esquerda não voltarem ao Congresso, como Cristina Tavares, Egídio Ferreira Lima e Fernando Lyra.

Ali, o destino separou Jarbas de Arraes. Dois anos depois, em 1992, romperam definitivamente. O rompimento oficial se deu porque Arraes quis indicar Eduardo Campos, seu neto, candidato a vice do favorável Jarbas que concorria à Prefeitura do Recife. “Como não tinha reeleição, Arraes estava, automaticamente, indicando o sucessor dele. Foi isso o que Jarbas não quis”, relembra o jornalista Evaldo Costa, secretário de Imprensa de Arraes.

O tempo se encarregou de levar Arraes a dar o troco em Jarbas. Dois anos depois, em 1994, Arraes se elege governador derrotando Gustavo Krause como candidato da União por Pernambuco e, portanto, com o apoio de Jarbas. Nesta mesma eleição, Marco Maciel foi eleito vice-presidente da República na chapa de Fernando Henrique Cardoso, que foi apoiado por Jarbas, enquanto Arraes subia no palanque de Lula, mantendo-se fiel aos princípios da esquerda. 

Nas eleições de 1996, a primeira com urnas eletrônicas, já no exercício da Vice-Presidência da República, com a estabilidade econômica sustentada no Plano Real, Marco Maciel convenceu Jarbas a apoiar Roberto Magalhães como candidato à sua sucessão, já que não tinha ainda o direito à reeleição. Jarbas aceitou. Seus planos era ser candidato a governador, dois anos depois, para derrotar Arraes.

O apoio a Magalhães teve um preço. Preterido por se achar o candidato natural de Jarbas, o então secretário João Braga rompeu com o MDB e disputou a Prefeitura em faixa própria por um PSDB rachado ao meio. O apoio do grupo jarbista a Magalhães selou a União por Pernambuco, aliança político-partidária alicerçada dois anos antes quando o PMDB endossou o nome de Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel para a chapa à Presidência.

Na época (1993/1996), Braga era Secretário Municipal de Infraestrutura e conhecido por encampar pelejas ferrenhas para realizar as ações do governo. Uma das mais emblemáticas foi a briga com os camelôs, período em que coordenou as revitalizações dos Bairros de São José e do Recife – obra pensada já na primeira gestão de Jarbas (1986-1988). Ao lado do aliado, Jarbas construiu a Ponte Gilberto Freyre (Imbiribeira) e o Viaduto Ulisses Guimarães (Avenida Recife).

Antes de assumir a pasta, Braga ainda coordenou as duas campanhas de Jarbas à Prefeitura, em 1985 e 1992. Conhecido como “secretário das mil obras”, no PSDB Braga abriu dissidência na ala jarbista. Uma parte do grupo seguiu o prefeito e outra o secretário, que figurou como principal opositor da aliança PMDB-PFL.

“Estávamos bem, o Governo era bem avaliado e a secretaria coordenou todas as ações. Havia entre nós a expectativa que alguns daqueles auxiliares fossem o candidato a prefeito. Aí, por motivos que não me interessam enumerar, Jarbas decidiu apoiar Roberto Magalhães, que, no fundo, era adversário há muito tempo, e nós ficamos insatisfeitos. Então, deixei a Prefeitura e fui ser candidato”, relembra Braga.

Magalhães foi eleito prefeito do Recife com 317.625 votos (50,9%), mais que a soma dos votos recebidos por todos os outros candidatos. Braga obteve 119.539 (19%). Separados por um tempo, Jarbas e Braga se reaproximaram anos depois, quando ele assumiu a Secretaria estadual de Defesa Social.

Após fazer o sucessor, Roberto Magalhães, em 1996, Jarbas passou dois anos com o bloco na rua e venceu Miguel Arraes, que disputava a reeleição, em 1998, por uma diferença de mais de um milhão de votos. Estava selada a vingança. A União por Pernambuco, formada pelo PMDB, PFL, PPS e PSDB, governou o Estado por oito anos. 

Veja amanhã

Beato, Marco Maciel quase teve um chilique com a ameaça do cancelamento da vinda do Papa ao Recife.