Por Tonico Magalhães*
Duvido que esta iniciativa consiga apoio semelhante ao dado à construção de uma refinaria de petróleo em Pernambuco. Ela juntou Governo e Oposição. Arraes e Jarbas Vasconcelos. Joãos e Josés. Só os ambientalistas, como agora, ficaram de fora. Prevista para custar quatro bilhões de reais, a refinaria gastou 25 bilhões de reais e não ficou pronta totalmente. Salvaria a economia do Estado de grandes sustos. Nem isso. Enfim, essa é outra história que envolve muita roubalheira e incompetência.
Mas quem diria? Uma usina nuclear em Pernambuco volta a ser tema de discussão no Estado. A iniciativa do então governador Eduardo Campos parecia morta e enterrada depois do acidente em março de 2011 com a usina de Fukushima, no Japão, invadida por um tsunami que inviabilizou três reatores, contaminando com material radioativo uma extensa região em torno da usina.
Leia maisNa época, Eduardo Campos preferiu silenciar, ficar de bem com a opinião pública, depois de uma luta fratricida com o então governador da Bahia, Jacques Wagner, para instalar a usina em Itacuruba, à beira do rio São Francisco, a 467 quilômetros do Recife.
O projeto da usina ficou adormecido durante oito anos, até ser lembrado no mês passado por deputados da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Alberto Feitosa (SD), Antonio Fernando (PSC) Wanderson Florêncio (PSC) e João Paulo (PCdoB) foram até o Centro de Ciências Nucleares do Nordeste, ligado a UFPE, tomar ciência do que é uma usina nuclear, que gera energia térmica a partir da reação do urânio.
A repercussão contra o empreendimento foi imediata. Entidades que se mobilizaram em 2011 contra a usina de Itacuruba desdobraram suas bandeiras, reativaram a Articulação Sertaneja Antinuclear e foram às ruas. Surpreendentemente até o PSB de Eduardo Campos – autor da iniciativa original – apresentou restrição ao projeto por meio da fala do deputado Isaltino Nascimento, líder do Governo na Alepe.
“Não acredito que o governador Paulo Câmara vá se posicionar contra a instalação da usina – disse o deputado Alberto Feitosa. “O governador é um auditor, pragmático quanto a questão do desenvolvimento. Ele não vai abrir mão de um projeto de R$ 30 bilhões para o sertão pernambucano, que gerará cinco mil empregos diretos no funcionamento da usina e 15 mil outros durante a construção, além de transformar aquela região num pólo industrial e comercial”. O parlamentar ainda tenta seduzir Paulo Câmara com a perspectiva de um substancial aumento da receita por conta da usina.
A usina é uma cantoria que soa bem para a sertaneja Itacuruba. Com 5 mil habitantes, a transformação num pólo comercial e industrial é bem vinda para alguns e uma maldição para outros. Para amenizar os efeitos negativos do empreendimento, Feitosa propõe a criação de um fundo de investimentos em obras sociais, ambientais e de infraestrutura em contrapartida à instalação da usina nuclear.
Na verdade, os defensores do projeto pouco falam dos riscos de operação da usina. O físico Heitor Scalambrini, professor aposentado da UFPE, alerta que uma usina nuclear traz sempre a possibilidade de terríveis acidentes, com efeitos que se prolongam por centenas de anos.
“Podemos correr esses riscos com o São Francisco? Um rio que tem uma bacia de 2.700 quilômetros, que corta sete estados e 506 municípios, onde moram 20 milhões de pessoas?”, questionou num site de notícias.
Já o deputado Feitosa é um otimista, entende que as usinas mais modernas não apresentam qualquer risco na operação. Em relação aos efeitos colaterais da usina nuclear, inclusive o chamado “lixo radiativo”, que tem que ser armazenado em lugar seguro para sempre. “Há estudos que apontam a possibilidade de reciclagem desse rejeito”, disse o parlamentar. Um caso a conferir.
Ele também já prepara uma proposta de emenda constitucional (PEC) para mudar a lei maior de Pernambuco. O artigo 216 afirma que é inconstitucional a instalação de usinas nucleares no Estado. “Uma questão dispensável, uma vez que esse tema é tratado com exclusividade pela legislação federal”, completou.
Essa é uma discussão que só está começando e transcende os aspectos meramente técnicos. Não há, pelo menos até agora, uma convergência sobre a necessidade deste empreendimento. Diferentemente da mobilização estadual pela refinaria de petróleo. Decisões como essa levam anos. Até lá podem surgir opções menos arriscadas para gerar energia e angariar votos de olho num futuro distante. A ver.
*Integrante da Cooperativa de Jornalistas de Pernambuco
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