Por Paulo Edson*
Há vidas que não se medem em anos. Medem-se em coragem, em lágrimas que ensinaram, em sorrisos que resistiram, em sonhos que, mesmo cansados, nunca deixaram de caminhar. A vida de Célia Almeida Galindo é uma dessas – feita de passos firmes, quedas superadas e uma fé que nunca se apaga.
Hoje, ela comemora algo maior que um aniversário. Celebra o primeiro ano do seu recomeço – o tempo que Deus e a medicina lhe devolveram para continuar escrevendo, com o mesmo brilho no olhar, a história de uma mulher que nasceu para vencer.
Leia maisAs verdades de uma mulher nem sempre cabem em números. A idade é uma delas. O que importa não é quantos anos se vive, mas como se vive. E Célia viveu com intensidade.
Menina, aos 8 anos, deixou o cheiro da terra molhada de São Domingos, em Buíque, e veio com a mãe, Dona Judite, e as irmãs, para Arcoverde – a cidade grande que seria palco de sua história.
A infância, que deveria ser brincadeira, virou trabalho cedo. Aos 10 anos, já era faxineira. Aos 14, comerciária. Aos 18, dona de loja. Entre vassouras, tecidos e contas a pagar, Célia aprendia que a vida não é feita de facilidades, mas de coragem.
E foi com essa coragem que se encantou pela política. Nos palanques, entre discursos e bandeiras, descobriu que queria mais que vencer na vida — queria transformar vidas. Admirava a firmeza e a seriedade de líderes como Giovanni Porto, e, inspirada, decidiu trilhar seu próprio caminho.
Em 1988, desafiando o machismo e os costumes de uma época em que mulher não “pertencia” à política, Célia entrou para a história: foi a primeira mulher eleita vereadora de Arcoverde, com 651 votos.
Célia escreveu, com mãos firmes, capítulos fundamentais da história da cidade.
Foi constituinte, ajudou a criar a Lei Orgânica que guia os poderes, aprovou o plano de cargos e carreiras dos professores, código tributário, de postura, leis e mais leis. E sempre com o mesmo espírito: ora oposição, ora governo – mas sempre fiel a si mesma, à sua consciência, ao povo e à sua palavra.
Nos bastidores das vitórias, a vida também lhe impôs provas duras. A dor de perder dona Judite. A aflição diante da doença do neto Matheus – hoje recuperado. E o golpe mais difícil: o diagnóstico de câncer. Mas quem conhece Célia sabe – ela não nasceu para recuar.
Lutou como quem reza, acreditou como quem ama, enfrentou cada dia com a fé de quem sabe que a vida ainda lhe devia muitos amanheceres. E venceu.
Deus lhe deu o maior presente: mais tempo. Tempo para sorrir, para agradecer, para continuar sendo quem é – símbolo de força, resiliência e amor por Arcoverde.
Hoje, Célia não apaga velas, reacende luzes. Luzes de esperança, de novos caminhos, de uma nova versão de si mesma. Porque há renascimentos que são mais bonitos que qualquer juventude.
E se alguém perguntar sua idade, que se diga apenas isso: Célia tem o tempo exato de uma mulher que venceu, caiu, se levantou e recomeçou.
O tempo de quem aprendeu que a vida é um milagre diário – e que recomeçar é o maior dos presentes. Porque há vidas que não envelhecem. Apenas recomeçam.
*Jornalista
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