Enquanto os holofotes iluminavam os palcos da tradicional Festa de São Francisco de Assis, no final de setembro, uma sombra de incerteza e desespero se abatia sobre os servidores municipais de Ibirajuba.
Na gestão da prefeita Maria Izalta, dinheiro para contratar bandas famosas como Conde do Brega e Priscila Senna – com cachês que podem variar entre R$ 60 mil e R$ 250 mil – não faltou.
No entanto, o mesmo não se pode dizer do dinheiro para pagar quem mantém a cidade funcionando. Professores, garis, merendeiras, auxiliares de serviços gerais, motoristas e aposentados estão sem receber seus salários, em um atraso que já ultrapassa 40 dias e viola um decreto da própria gestão.
A situação é caótica e atinge todas as categorias. Os efetivos, que, pelo Decreto Municipal nº 275, de 26 de agosto de 2025, deveriam ter recebido em 10 de outubro, seguem com as contas vazias até esta sexta-feira. A prefeita, que transferiu as datas por lei, é a primeira a não cumpri-la.
Leia maisO paradoxo do Fundeb e a angústia do dia a dia
A situação gera um questionamento profundo entre os professores, categoria que tem uma fonte de recurso específica e previsível – o Fundeb. “Se nosso Fundeb está disponível a cada dia 30 de cada mês, por que foi decretado que iríamos receber no dia 10? E, infelizmente, nem no dia 10 recebemos”, questiona um docente, que preferiu manter o anonimato. A reflexão expõe uma aparente má gestão ou desvio de prioridade, já que o recurso para o pagamento do magistério estaria garantido por lei.
O drama, porém, não é exclusivo de uma categoria. É geral. “Será que amanhã tem dinheiro na conta?”, indagou outra servidora, na véspera de um suposto dia de pagamento, ecoando a angústia que se tornou rotina para dezenas de famílias.
A festa e o furo: o contraste que escandaliza
Enquanto os servidores enfrentam a pressão de credores e o constrangimento da falta de dinheiro para despesas básicas, a Prefeitura não mediu esforços para realizar uma das maiores festas do município. A contratação de atrações de renome no forró e no brega, como Banda Sentimentos, Colo de Menina, Conde do Brega, Forrozão das Antigas e Priscila Senna, consumiu um volume significativo de recursos públicos – valores que, segundo estimativas, variam entre R$ 60.000,00 e R$ 250.000,00 por banda.
O contraste entre a agilidade nos gastos com a festividade e a morosidade no cumprimento da “dívida de honra” com os servidores é o ponto que mais gera revolta. “Dinheiro para fazer festa tem. Enquanto isso, o trabalhador sofre a angústia de ver as contas atrasarem e na incerteza de quando irá receber.”
O impasse coloca Ibirajuba em uma crise administrativa singular. “Se estivesse acontecendo em outros municípios, seria algo generalizado, mas só está acontecendo em Ibirajuba”, observa um servidor, destacando o caráter localizado do problema, que aponta para a gestão municipal como sua única origem.
A pergunta que paira no ar é: haverá dinheiro amanhã? Enquanto a resposta for “não”, a cidade permanece paralisada não por uma greve, mas por uma gestão que, ao que tudo indica, deixou suas maiores responsabilidades em último plano.
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