Por Antonio Magalhães*
Que ninguém se engane. As ações do crime organizado espalham-se pelo país. O epicentro das facções é o Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas elas se ampliam para o Norte e Nordeste e estão mais visíveis na Bahia e no Ceará. E podem chegar logo, com força, em muitos estados. Não há vacina até agora para conter esta atividade que inclui a submissão das comunidades, o tráfico de drogas, assaltos a bancos, infiltração nos meios políticos e empresariais e no serviço público. E elas contam ainda com a simpatia de segmentos da sociedade pelos bandidos que são tratados como vítimas, enquanto criminalizam as verdadeiras vítimas.
Hoje, as favelas cariocas, paulistas e de outras capitais não tem moradores, mas, sim, reféns de criminosos. São usados como escudo humano para deter as investidas da polícia. As balas perdidas que os matam são sempre de fuzis policiais. É comparável a organizações terroristas, como os islâmicos Hamas e Hezbollah, ao controlar a população, o cotidiano dela, a cobrar e roubar os parcos ganhos do comércio da comunidade e ainda são beneficiadas financeiramente por “caridosas” ONGs que impõem o conteúdo ideológico à atividade criminal.
Leia maisA megaoperação policial na terça, 28, em duas favelas do Rio de Janeiro, controladas pela organização criminosa Comando Vermelho (CV), foi um freio de arrumação de curta duração. O próprio CV e outros grupos de bandidos vão continuar aterrorizando a população favelada e de fora da comunidade. Hoje, cerca de 8 mil km quadrados, 20% do território do Rio de Janeiro, está ocupado pelo crime organizado. E curiosamente as principais lideranças de facções encontram-se presas e dos presídios comandam seus territórios e as atividades criminosas em todo o país.
O balanço oficial da megaoperação desta semana, na Zona Norte do Rio, aponta o registro de 119 mortes, das quais 115 foram classificadas pela Secretaria de Segurança Pública como “narcoterroristas” e 4 policiais. O número de mortos, contudo, pode aumentar, porque moradores têm trazido cadáveres da mata próxima à favela. E para dar ideia midiática de uma chacina de jovens inocentes, parentes e colegas do tráfico foram flagrados em vídeo, disponível no YouTube, retirando uniformes de guerra camuflados dos mortos.
A operação resultou ainda em 113 prisões, incluindo 33 lideranças criminosas de outros estados, conforme informou o secretário de Segurança Pública, Felipe Curi. Foram apreendidos 10 adolescentes, 119 armas, entre elas a maioria sendo fuzis, além de milhares de munições, drones bombardeiros e toneladas de drogas, que ainda estão sendo contabilizadas.
O combate ao crime organizado tem sido um festival de irresponsabilidades. O governo federal vem adiando a reação às organizações criminosas – não se sabe se quer mesmo reagir – com a ilusória promessa da aprovação no Congresso de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que mudaria o perfil da ação policial no país, diminuindo a autonomia dos estados e centralizando tudo em Brasília, o que seria uma temeridade diante da expansão do autoritarismo governamental e o já péssimo gerenciamento da área de segurança pública federal. Principalmente num país que tem uma Educação gerida por incompetentes e uma Saúde que provoca mais doenças.
O jogo de ‘empurra com a barriga’ entre governo central e estados terminou esta semana no Rio de Janeiro, quando o governador Cláudio Castro agiu e promoveu a operação policial por conta própria. Na entrevista à imprensa, ele disse que o Rio ficou sozinho nesta batalha. A ajuda federal não veio. E por isso foi criticado, na própria terça-feira em meio à operação, pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que reagiu informando que nada foi pedido, uma lorota desmentida por fatos anteriores à operação policial que foi planejada por um ano de investigações.
Ontem, 29, de cabeça baixa, o ministro Lewandowski passou recibo do descaso com o Rio. Levou uma comitiva da segurança pública federal e anunciou uma ação integrada contra o crime organizado. Com o semblante sério, o governador aceitou o apoio tardio.
Sabe-se que a espera pela aprovação e implementação proposta pela PEC da Segurança expõe a população ao crime incontido em conluio, muitas vezes, com autoridades que deveriam combatê-lo. A iniciativa do governador do Rio foi exemplar. Mostrando que não se deve esperar muito do governo federal – a polícia ou o exército -. E essas ações estaduais têm dado certo em outros locais com problemas de menor dimensão, como Goiás, onde o governador Ronaldo Caiado conseguiu vitórias importantes contra o crime, como informou em Podcast deste blog. “O bandido ou deixa o estado ou muda de profissão”, afirmou. Melhorou muito a segurança dos goianos.
Por sua vez, o governo federal vem resistindo a classificar o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações terroristas, como pediu ao Brasil o governo de Donald Trump. O pedido foi negado por Lula. Há o temor entre os governistas de que policiais americanos venham atuar diretamente no combate a esses criminosos. Para encobrir a recusa, os petistas alegaram a combinação de razões jurídicas, políticas e diplomáticas. Segundo eles, a Lei Antiterrorismo (Lei nº 13.260/2016) define que atos terroristas tenham, entre outros fatores, motivação ideológica, política, religiosa ou xenofóbica, além de intenção de provocar terror generalizado na população.
Ora, mas não é o que fazem essas organizações criminosas nacionais. Aterrorizam todos. Mantêm a população nas favelas submetida à extorsão, ameaçada de morte pela força das armas contrabandeadas, assediando jovens para participarem do tráfico de drogas. Isto é a imposição violenta dos bandidos sobre o cidadão comum. Não seria uma luta de classes, senhores juristas, o criminoso opressor contra o morador oprimido? A interpretação jurídica é livre nesses tempos togados. E assim o crime avança. É isso.
*Jornalista
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