O Globo
Documentos internos da área de supervisão do Banco Central (BC) citam indícios de que o Banco Master pode ter vendido ao BRB as mesmas carteiras de crédito duas vezes. A análise de equipe técnica do BC é feita a partir das carteiras que teriam sido adquiridas pelo Master da empresa Tirreno sem realizar qualquer pagamento e, logo em seguida, cedidas ao banco público, com pagamento imediato.
A Polícia Federal (PF) investiga suspeitas de irregularidades na venda pelo Master – cujo presidente, Daniel Vorcaro, foi preso na terça-feira – para a instituição financeira estatal controlada pelo governo do Distrito Federal. De acordo com a investigação, o BRB transferiu R$ 12,2 bilhões à instituição privada pelas carteiras. Entre julho de 2024 e outubro deste ano, o repasse chegou a R$ 16,7 bilhões devido a operações realizadas entre eles.
Leia maisSegundo o BC, os clientes das operações de cessão de 13, 16, 20 e 30 de janeiro de 2025 coincidem “em larga medida” com os clientes do próprio Master titulares das operações que haviam sido cedidas ao BRB entre julho e dezembro de 2024.
“Os clientes das operações originadas pela Tirreno e cedidas pelo Master ao BRB nesse período coincidem, em larga medida, com os clientes do próprio Master titulares de operações que haviam sido por ele cedidas ao BRB entre julho de 2024 e dezembro de 2024, o que é contraintuitivo, considerando que tais as operações teriam sido originadas pela Tirreno, empresa recentemente constituída (novembro de 2024)”, disse a área técnica do BC.
Os técnicos também destacaram que a cessão realizada em janeiro “evidenciou quantidade expressiva de operações em conjuntos distintos de apenas 12 valores contratados a cada dia. Foram 182 mil operações de crédito com 151 mil titulares.
O banco do Distrito Federal foi procurado a respeito das suspeitas do BC, mas não se manifestou. Em nota divulgada nesta terça-feira, o BRB disse que “sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master”.
O Master também foi procurado, mas não se manifestou. Nesta quinta-feira, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou pedido para soltar Vorcaro A defesa dele disse que recebeu decisão de manutenção da prisão preventiva com respeito, “ainda que acredite inexistirem motivos para isso”. “Continuará a pretender, à luz do devido processo legal e das garantias constitucionais, a soltura de Daniel Vorcaro”, completou.
Impacto sobre liquidez
Como mostrou O GLOBO, a supervisão do BC ainda apontou que o BRB teve que fazer “registros contábeis sem respaldo documental” para se enquadrar em regras do setor financeiro, após comprar carteiras de crédito do Master.
A área técnica do Banco Central apontou, em documentos internos, que o “elevado apetite por aquisições” gerou impactos operacionais na estatal. Houve desenquadramento, por exemplo, no início deste ano do índice de Basileia. Outros requisitos de capital vinham perto do limite mínimo, principalmente em decorrência da aquisição dos ativos do Master.
“Para não desenquadrar, o BRB realizou registros contábeis sem respaldo documental, baseando-se em contrato de venda da participação societária da BRB Financeira, celebrado apenas em março de 2025”, afirma o documento do BC.
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