Por Betânia Santana – do Blog da Folha
Religião e política se misturam no caminho até o Santuário do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, desde o início da festa em homenagem à santa, no fim de novembro. Nas ladeiras, casas e pontos comerciais, a devoção à padroeira afetiva da cidade se junta às centenas de faixas e banners com nomes e fotos de pré-candidatos, ainda mais frequentes em ano pré-eleitoral. A festa ganha força no fim de semana, tendo seu ápice na próxima segunda-feira, feriado na capital.
Cientista político e titular da Cátedra Unesco/Unicap de Direitos Humanos Dom Helder Camara, o professor Manoel Moraes avalia que muitos políticos se aproveitam de uma das festas mais populares do estado para ampliar a base eleitoral. “É muito comum, não só no Brasil, mas no mundo, que se tente utilizar de mecanismos para ampliar a base eleitoral mais dispersa”, observa.
Leia maisFé e política
O motorista Renato Aguiar discorda do uso eleitoreiro da fé do povo. “Acho errado botar a política no meio da religião. Não concordo com isso”, afirma. Para ele, nem mesmo os que contribuem com a festa podem se valer de usar o espaço com objetivo político. “Realmente não é o momento de fazer campanha. Não é pra ter política no meio da nossa fé”, enfatiza.
O professor Manoel Moraes reconhece que o voto religioso é importante, mas concorda com o motorista Renato Aguiar. “Eu diria que é uma atitude que depõe contra o político, seja ele de qual matriz política for, tentar utilizar-se de uma manifestação popular para divulgar a própria imagem e capitanear o voto. A tendência da sociedade, cada vez mais crítica, é ver esse tipo de exposição como algo não correto. Não do ponto de vista jurídico, porque não há nenhum impedimento jurídico nesse sentido. A questão, de fato, é ética”, pontua.
A vendedora Fabíola Francelli avalia que só deveria ter espaço para publicidades de quem contribui com a festa religiosa. “Qual foi o político que ajudou? Acho que só o prefeito (do Recife, João Campos, do PSB) e a governadora (Raquel Lyra, do PSD). E os outros? É só campanha política”, observa. Atenta à movimentação, ressalta que a comunidade sabe quem só aparece na época da festa. “Aqui esse tipo não ganha voto não. A gente já conhece esses políticos. A gente sabe quem vem aqui pra fazer politicagem”, alerta.
Efeito
O cientista político Manoel Moraes questiona se é efetiva a estratégia de usar o espaço de comoção popular, de mobilização em torno do sagrado para campanhas políticas.
“As pessoas que vão ao Morro querem buscar, querem se aproximar do sagrado. É interessante você expor a imagem ou tentar se associar ao sagrado com o objetivo de votos? Essa é uma pergunta que a sociedade vai responder nas urnas. Ano que vem, eleições”, relembra.
Reitor do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, o pároco Emerson Borges enfatiza que independentemente de ser político ou não, todos são acolhidos no Morro.
“Muitos, claro, estão vinculados às nossas necessidades da festa, são parceiros do santuário, colaboram, ajudam, outros nem tanto. Mas não temos nenhum controle sobre as manifestação fora dos nossos muros”, justifica o religioso.
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