Por Anthony Santana, Raoni Nunes e Betânia Santana
Do Blog da Folha
Em entrevista exclusiva concedida à Folha de Pernambuco, o prefeito do Recife, João Campos (PSB) falou sobre os principais assuntos que envolveram sua gestão no Recife no ano de 2025, sua visão sobre a polarização que continua dividindo o país e sobre o futuro próximo da política de Pernambuco. Confira abaixo os principais pontos abordados pelo gestor:
Discordância
“Vejo que a forma e o conteúdo são equivocados. Tivemos a votação de um projeto que beneficia diretamente Fernandinho Beira-Mar, Marcola, chefes do Comando Vermelho, do PCC. Como é que se aprova isso na Câmara para beneficiar líder de facção? Não tenho como concordar com isso. Outro ponto, um ex-presidente é preso, o filho dele é lançado candidato a presidente e, de três horas da manhã na mesma semana, o projeto (de dosimetria das penas dos réus do 8 de Janeiro) é aprovado na Câmara de Deputados. Então, discordo do conteúdo e da forma. É um ambiente em que está se perdendo a liturgia, o respeito às pessoas, à divergência, ao contraditório. Uma boa divergência política é algo bom. Ruim é ter um ambiente de desrespeito generalizado, e a sensação que eu tenho é que isso está acontecendo de maneira muito intensa no parlamento, onde as questões não são mais debatidas, tudo vira briga. Isso é a antítese do que eu acredito por política.”
Apoio
“É muito bom você ter Lula presidente enquanto você governa uma cidade ou um estado. Ele é um cara generoso. Você não teve por parte da governadora, uma declaração de voto ou de apoio a ele, por exemplo, na eleição passada, contra (o ex-presidente Jair) Bolsonaro. E ele ajuda como ninguém o estado. E é bom que ele ajude, porque isso é bom para o povo.”
Dois Palanques
“Não estou pensando numa conveniência eleitoral, numa foto, num movimento desse tipo (com Lula). Eu respeito quem tem lado, quem tem posição. Na reeleição, muita gente que não vota em Lula votou em mim. E isso nunca foi uma preocupação para mim, porque tenho convicção de que as pessoas respeitam quem tem posição. Tive, tenho e terei posição, estarei ao lado do presidente Lula.”
Eleição
“Eleição é uma palavra que não está no meu vocabulário de agenda pública. Não está no meu discurso, eu não falo de eleição. Estou exercendo o mandato, trabalhando, 90% do meu tempo é aqui, trabalhando como prefeito.”
Vice-prefeito
“Victor (Marques) está preparado para assumir qualquer função pública porque ele tem muito compromisso com tudo que faz, tem capacidade política, sabe entregar resultados, cobrar às pessoas, ouvir as pessoas, ir para as ruas, tem empatia com as pessoas. Acho que ele é um cara extremamente preparado.”
Ritmo
“A sensação que eu tenho é que sigo acelerado o tempo inteiro. Não é aquela história de estar chegando a eleição, se movimenta e aparece. Trabalho todo dia, ando, entrego. É um governo que não oscila de ritmo, anda acelerado. A gente está sempre rápido, andando, se mexendo, fazendo, entregando. Isso faz toda a diferença. Por isso que não é aquela coisa de acelera, freia, chega eleição, volta, aparece. Estou o tempo todo fazendo. Se tem gente que acha que eu não estou fazendo nada, diminuí o ritmo, é porque não está acompanhando.”
Senado
“Normalmente, as candidaturas majoritárias são construídas não por um desejo individual. Você precisa ter uma plataforma. Primeiro, você tem que ser claro com as pessoas no que você quer fazer. E, segundo, a definição política mesmo dos partidos. Raramente tem uma decisão individual do que fazer. É uma construção que fica clara e que tem um caminho a ser seguido, priorizando quem é que tem o projeto, a força, o resultado, o partido, o trânsito com as demais pessoas. É muito melhor você poder estar em um time que tenha grandes jogadores e jogadoras para poder entrar em campo.”
Arco
“Se meu pai estivesse vivo, o Arco (Metropolitano) já estava 100% pronto. Trechos Norte e Sul. Não tenho nenhuma dúvida disso porque essa é a escola que eu vi, que eu aprendi, que eu vi ele fazendo, eu vi ele discutindo isso. No meio disso, se teve um momento institucional muito ruim até a decisão de fazer um trecho específico dele. O outro trecho o governo federal vai fazer. Então, não se está mirando dois trechos. Está se mirando um trecho porque o outro é competência do Ministério dos Transportes. A sensação que tenho é de que os ciclos de oscilação e instabilidade política nacional, mudança de governo e desafios do projeto fizeram com que as contribuições fossem dadas, projeto feito, licença, tudo.”
Institucional
“Praticamente tudo da cidade roda de uma forma muito autônoma. Naturalmente, a minha orientação a toda a minha equipe é: façam tudo pensando no povo, tenham a melhor relação institucional possível (com o governo do estado), tratem bem as pessoas, não entrem em briga pequena, que isso não vale a pena. As pessoas não votam na gente para a gente estar perseguindo, olhando pelo retrovisor, indo atrás. Não fico falando mal das pessoas, não fico terceirizando culpa, não fico pondo dificuldade. Simplesmente, vou lá e faço.”
Legislativo
“Acredito que quem governa tem que fazer o dever de casa de buscar harmonizar os Poderes. Sempre vai ter motivo para você querer brigar, enfrentar alguém, mas tudo na vida é escolha. Eu podia escolher, ficar brigando com meus adversários, perseguindo, enfrentando, tentando peitar, fazer um enfrentamento político. Vou cuidar bem, ajudar a minha turma e tentar que ela cresça, que tenha mais gente. Tem que pegar a sua energia política e botar para a briga certa.”
Caminho
“Não gasto meu tempo atrapalhando o caminho dos outros. Gasto cuidando do meu caminho, que é o caminho do Recife.”
Ponte Giratória
“(A Ponte Giratória) vai ser inaugurada ainda este ano. A gente tinha a previsão de entrega em março do ano que vem, mas antecipou para fazer a inauguração este ano. A expectativa é, talvez, fazer a inauguração no dia do Natal. É bom explicar para as pessoas que, se a gente não tivesse feito essa obra, a ponte poderia ter caído. Durante a execução dessa obra foi descoberto um novo problema que não tinha como saber se não quebrasse a ponte. Foi identificado que isso foi um erro construtivo da década de 1970. Então, precisou fazer um novo projeto e contratar uma nova obra para esse problema. E isso fez com que, em vez de ser uma obra, fossem duas para requalificar a ponte, e o prazo fosse maior.”
Politização
“A gente não está aqui para tomar uma decisão fácil, está aqui para tomar a decisão certa. O que não dá é a ponte cair. Fechamos a ponte por determinação do projetista. É bom explicar isso porque muita gente quer politizar um debate sobre um cálculo estrutural de uma ponte. Com todo respeito a todo mundo, quem tem que dizer o que é para ser feito numa ponte é um engenheiro calculista estrutural de ponte. Ponto.”
Guarda armada
“No primeiro semestre do ano que vem já vamos estar armando o primeiro grupo (de guardas municipais). E, nesse começo, a expectativa é que no Centro tenha a guarda armada, na Zona Sul do Recife também. Além de outros pontos específicos.”
Parques
“A concessão dos parques desonerou o município em R$ 10 milhões por ano. Se você pegar em 10 anos, são R$ 100 milhões. Em 20 anos, R$ 200 milhões. E, fora isso, tem um plano de investimento que o concessionário tem que fazer. E tudo o que é gratuito permanece gratuito. A gente não está vendendo o parque. O parque tem um administrador privado, mas ele é público. É um patrimônio do município e das pessoas do município.”
Concessões
“São dez prédios na operação que a gente está propondo da Guararapes. Quantos desses prédios são da prefeitura? Nenhum. É o contrário, a gente está comprando. Vai desapropriar do privado, passar a ser da prefeitura, para, sendo da prefeitura, você poder fazer moradia do Minha Casa Minha Vida. Como é que isso é você vender o Centro? Agora, a gente podia ficar de mão cruzada e dizer: ‘Os imóveis da Avenida Guararapes são privados, nenhum imóvel é da Prefeitura do Recife, eu vou esperar que eles façam alguma coisa’. Pronto. A gente botava um banco, ficava sentado e ficava vendo o imóvel. Não ia acontecer nada. Então, temos que ter a capacidade de fazer uma coisa nova. E para fazer uma coisa nova, a gente tem que estudar.”
Críticas
“É muito mais fácil você ir para uma rede social e dizer: ‘Está vendendo o Centro’. Quantas pessoas leram o projeto? A gente abriu consulta pública. Por que vocês não colaboraram na consulta pública? sugerindo na consulta o que é que tinha que fazer? Ou então pode dar uma outra alternativa. O que eu quero é resolver. Agora não é um problema fácil. E eu também não estou aqui para fazer o que sempre foi feito. Eu estou para fazer coisas novas, para inovar, para ser ousado e para ouvir as pessoas”.
Investimentos
“Mais de 70% do que a gente investe está na periferia da cidade. A maior parte do investimento está na infraestrutura. Tem quatro grandes áreas: assistência, saúde, educação e infraestrutura. Essas quatro áreas têm um grande volume de investimento da prefeitura. A gente deve ter algo em torno de R$ 800 milhões de investimento no ano que vem. A gente saiu de um ciclo de R$ 300 milhões de investimento, que era o que tinha, para um ciclo perto de R$ 1 bilhão. Por isso que tem um volume tão grande de obra. Mais de 5 mil obras em área de morro, 16 mil famílias foram retiradas da situação de insegurança no morro. Nunca se investiu tanto na cidade. Não existe nenhum ciclo histórico de tanto investimento na cidade como nós fizemos, majoritariamente na periferia da cidade.”
Creches
“Como você consegue fazer a cidade sair de 6,5 mil para as 16,5 mil vagas de creches que temos hoje? São 10 mil vagas a mais. Em fevereiro, 18 mil vagas. Até o meio do ano que vem, a gente bate mais de 12 mil vagas criadas. Como é que a gente conseguiu fazer isso? Investindo. A gente chegou a ter 200 obras simultâneas na Secretaria de Educação. A gente fez 400 salas de aula novas de creche. Isso faz com que as pessoas vejam. Chegue na ponta. Não é eu prometer que vou fazer: vai lá e está feito, entregue, funcionando. Por isso que as pessoas percebem. Eu não fico falando aos quatro cantos porque as pessoas veem. O que é verdade não precisa convencer.”
Contas
“A gente está dentro de todos os limites do que a lei permite em capacidade de endividamento, de pagamento, de liquidez. Conseguimos fazer o dever de casa de equilibrar as contas, aumentar a capacidade de crédito, pegar o crédito, fazer projetos e executar as obras. Isso é o que faz toda a diferença. Não falta gente na política para prometer e dizer que vai fazer e a coisa não acontece. A gente conseguiu fazer funcionar e o dinheiro público chegar na ponta.”
Entrega
“Eu não vim aqui para ficar usando a prefeitura para ter uma infinidade de operação de crédito, não executar, ter um caixa imenso e as pessoas não verem os investimentos. É a mesma coisa de você ver um banco. A prefeitura é uma prestadora de serviço para o povo. E a gente está prestando um serviço público, entregando obra.”
















