Rueda, que já trocou farpas publicamente com Lula, é um dos nomes mais próximos a Bacellar, que foi preso pela PF na operação “Unha e Carne”, deflagrada na quarta-feira. Amanhã, a Alerj terá sessão para votar se mantém ou revoga a prisão.
Ainda que ocorra a soltura, a operação gera desgaste para o União Brasil no Rio, cujo diretório estadual é presidido por Bacellar. Rueda planeja se candidatar a deputado federal no estado em 2026 e já deu outras amostras de alinhamento ao chefe da Alerj. No mês passado, o jornal Valor revelou que Rueda pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o partido ser admitido na defesa de Bacellar no julgamento do caso Ceperj — em que o deputado estadual pode ser cassado por abuso de poder econômico na última eleição. Procurado pelo Globo, Rueda não retornou os contatos.
O próprio Rueda, embora não seja formalmente investigado, foi citado no âmbito das operações Carbono Oculto, deflagrada em agosto, e Poço de Lobato, de novembro, nas quais a PF investiga indícios de fraude e sonegação no setor de combustíveis.
Na primeira ação, um piloto de aeronaves declarou à PF que Rueda seria o verdadeiro dono de aviões usados por integrantes de uma facção criminosa. Já a segunda atingiu a empresa Refit, cujo dono, Ricardo Magro, já atuou como DJ em um evento familiar de Rueda, como noticiou o colunista do Globo Lauro Jardim. O dirigente do União Brasil já disse não ser dono das aeronaves e negou qualquer envolvimento com irregularidades investigadas nas operações.
Outras gestões do PT já tiveram turbulências com partidos do Centrão devido ao avanço de investigações policiais. No entanto, o cientista político Marco Antônio Teixeira, professor da FGV, enxerga circunstâncias distintas na atual tensão com o União Brasil.
“Dilma (Rousseff) perdeu apoio do Congresso quando veio a Lava-Jato. Lula está conseguindo não ficar emparedado. O União Brasil, que já não apoiava efetivamente o governo, é que tem saído menor, até porque essas operações atrapalham a formação da federação com o PP”, avaliou.
Caso Master
A influência do União Brasil em institutos de previdência estaduais também atingiu dirigentes da sigla após o Banco Central, no mês passado, liquidar o Banco Master por suspeita de gestão fraudulenta. No mesmo dia, a PF deflagrou a operação “Compliance Zero”, que prendeu o dono do Master, Daniel Vorcaro — ele obteve um habeas corpus da Justiça Federal e foi solto no último fim de semana.
Fundos de previdência sob a alçada do partido aparecem entre os principais compradores de papéis do Master, desde o fim de 2023. O maior comprador foi o Rioprevidência, que aportou R$ 970 milhões sob a gestão de Deivis Antunes, considerado próximo a dirigentes do União Brasil no estado. Antunes, que é advogado de formação, já atuou em outro fundo de previdência e em processos judiciais ao lado do ex-secretário estadual de Transportes, André Nahass, outro indicado pelo União ao governo do Rio.
Também houve investimentos relevantes em papéis do Master nos fundos do Amapá, com R$ 400 milhões, e do Amazonas, com R$ 50 milhões. O instituto amapaense é dirigido por Jocildo Lemos, integrante da executiva estadual do União Brasil e aliado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O senador nega ter relação com esses investimentos. E o instituto de previdência do Amapá diz que os aportes “seguiram rigorosamente as normas do sistema financeiro nacional”.
Já o aporte do Amazonas recebeu o aval do ex-presidente do fundo, Ary Renato Vasconcelos, também membro do diretório do União no estado. Antes disso, Ary foi contador da campanha eleitoral, em 2022, do governador Wilson Lima, que comanda o partido no Amazonas. O governo estadual afirma que o aliado de Lima tinha “capacidade técnica” para fazer os aportes.
Investigações sobre emendas parlamentares também atingem pessoas próximas a dirigentes do União Brasil. Uma das ações da PF, a operação “Overclean”, chegou a prender um primo do deputado federal Elmar Nascimento durante apuração sobre desvio de recursos destinados a Campo Formoso (BA). A cidade é reduto eleitoral de Elmar, que faz parte da executiva do partido na Bahia.
O caso corre no Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por julgar políticos com foro privilegiado, como Elmar. O deputado nega envolvimento em quaisquer irregularidades.
Elmar foi sucedido na liderança do União Brasil na Câmara, neste ano, pelo deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), também citado em uma investigação da PF sobre destinação de emendas. O inquérito foi aberto em novembro, por determinação do STF, após reportagem do Globo revelar que recursos destinados pelo deputado ao município de Arari sumiram do caixa da prefeitura. Pedro Lucas, que é o presidente do União no Maranhão, afirmou não ter conhecimento sobre a aplicação das verbas, e disse que cabe à prefeitura “prestar contas” sobre o uso.
Fogo amigo
Outro caso na alçada do STF é uma apuração sobre irregularidades na compra de kits de robótica em Alagoas com verba do orçamento secreto. A PF fez operação, em 2023, contra o presidente do diretório local do União Brasil, Luciano Cavalcante. No mesmo ano, a Corte enxergou nulidades e arquivou o inquérito. Posteriormente, no entanto, o ministro Flávio Dino enviou à Procuradoria-Geral da República um relatório do Tribunal de Contas da União sobre o caso, para avaliar a abertura de nova investigação. O Globo não conseguiu contato com Cavalcante.
Em Sergipe, o ex-deputado André Moura, presidente do diretório estadual do União, costurou um acordo de não persecução penal com o STF para extinguir uma pena de oito anos de prisão por desvio de recursos públicos na prefeitura de Pirambu (SE). O acordo envolveu a devolução de R$ 300 mil ao município, para “reparar os danos causados pelo crime perpetrado”.
O caso, no entanto, segue tendo desdobramentos no município, uma das bases eleitorais de Moura — que pretende se candidatar ao Senado por Sergipe em 2026. No mês passado, o juiz Rinaldo Nascimento pediu ao STF o compartilhamento da denúncia contra Moura, para dar prosseguimento a um processo no Tribunal de Justiça do estado.
O caso gerou desgastes a Moura no governo do Rio, onde ele está lotado como secretário do governador Cláudio Castro. O advogado Victor Travancas, ex-assessor da Casa Civil, pediu demissão há duas semanas e acusou Moura de cometer atos ilícitos.
“Os crimes de Bacellar são até de juizado de pequenas causas, perto dos crimes cometidos pelo André Moura. Ele deveria ter sido preso, mas fez acordo com o Ministério Público”, diz Travancas.
Procurado pela reportagem, Moura não respondeu.
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