Por Aline Moura – Tribuna Online
Há bebidas que apenas passam pela garganta. E há aquelas que passam pela história. A Pitú é dessas – clara e intensa como o meio-dia de Vitória de Santo Antão, onde nasceu. É o fogo que o Nordeste aprendeu a domar, a energia engarrafada de um povo que resiste sorrindo.
O gosto do Brasil em outra língua
Eu era mais jovem quando viajei para a Argentina com dois amigos. Não esperava que o meu sotaque despertasse tanta curiosidade. “Brasil?”, perguntavam, e logo emendavam: “Seleção e caipirinha!”.
Leia maisPorém, o que mais me surpreendia era o detalhe: eles falavam “caipirinha com Pitú”, como quem cita algo muito especial. Fiquei emocionada. Lá, a milhares de quilômetros do Recife, descobri que a cachaça da minha terra já tinha atravessado fronteiras antes de mim.
Eu, que nunca fui de bebidas quentes – já me bastam os dois sóis do Recife e a perda da vesícula –, guardo um ritual simples para os dias frios da Várzea, onde moro: Pitú gelada, pura, com limão. Sem pressa, de gole em gole. Para mim, também é a chave que abre a roda de samba (ou da ciranda), ou bebida certa para as vitórias do Santa Cruz.
Sabe o Soju, bebida destilada tão comum entre as dorameiras do Brasil? Pois bem, acho a Pitú mais gostosa, além de ser a bala de prata da alegria.
Quando o orgulho veio de fora
Entre 2023 e 2024, participei de uma reunião com o então cônsul-geral britânico no Recife, Graham Tidey, um visionário e cidadão de Pernambuco. Entre conversas sobre economia e cultura, ele comentou com o então secretário Alberes Lopes que o gosto da nossa Pitú era melhor que o de bons uísques europeus.
Saí daquela sala sentindo o peso leve do orgulho. Durante anos, vi a cachaça ser tratada como bebida menor – coisa de boteco de esquina. Ouvir um diplomata inglês exaltá-la como joia foi como ver o mundo corrigindo um equívoco antigo. É no boteco e na mesa do trabalhador, aliás, que os melhores sabores são descobertos.
A nascente e o nome
A história da Pitú começa onde a cana encontra a água. Nos anos 1930, um riacho chamado Pitú cortava as terras férteis de Vitória de Santo Antão. O nome vinha do crustáceo abundante na região – símbolo de vida, movimento e resistência.
Foi ali que as famílias Ferrer de Morais e Cândido Carneiro decidiram transformar a cana em herança. O que começou artesanalmente virou império, mas sem pressa: a mesma água, o mesmo cuidado, o mesmo brilho dourado.
Quase um século depois, a empresa segue nas mãos das novas gerações, produzindo mais de 90 milhões de litros por ano. Cada garrafa carrega o cheiro da terra, o barulho dos engenhos e um tanto da luz que cobre os canaviais ao entardecer.
A excelência da Pitú não nasce por acaso. É cuidada, medida e sentida em cada etapa – da cana recém-cortada ao copo do consumidor. Nos laboratórios da fábrica, a ciência se alia à tradição: o aroma é avaliado com rigor no Laboratório de Análise Sensorial; no Central, os técnicos examinam cada detalhe físico e químico; e no de Produção, todos os insumos passam por controle minucioso antes do envase. Um ritual moderno que garante que cada garrafa conserve o mesmo sabor que atravessa gerações.
O sol engarrafado que ilumina a Europa
Na Alemanha, agora, a Pitú é vista como artigo de prestígio. Lá, ela divide espaço nas prateleiras com uísques e vodkas de renome. No exterior, o mercado alemão é o principal destino da bebida, responsável por quase todas as exportações da marca.
A parceria com uma empresa familiar de Berlim levou a cachaça pernambucana a ganhar corpo europeu – mesmo longe da cana, ela continua brasileira na alma.
Neste país europeu, a marca lançou a Caipirinha Pitú, pronta para beber, voltada especialmente aos jovens que buscam praticidade sem abrir mão do sabor. A campanha – leve, divertida e moderna – tem feito sucesso nas redes sociais, traduzindo em outra língua o mesmo espírito de espontaneidade e calor que nasceu em Vitória de Santo Antão.
Neste ano, as campanhas “Feel Pitú” e “líder do mercado europeu no segmento de cachaça” conquistaram o público jovem com humor e espontaneidade. O saxofonista André Schnura, que virou meme durante a Eurocopa de 2024, é um dos rostos da nova fase da marca. É o Brasil em ritmo de festa, mas sem caricatura.
Tradição que não se acomoda
A Pitú aprendeu a modernizar sem se perder. Do sabor puro da tradicional às versões mais sofisticadas, como a Premium e a Vitoriosa – homenagem à cidade natal –, ela continua fiel à sua origem e ostenta a liderança do mercado Norte e Nordeste.
Recentemente, a Pitú ampliou seu portfólio com novidades que unem tradição e frescor: o coquetel alcoólico Pitú Mel e Limão, de sabor marcante e tropical, e a linha Pitú Remix, que traz versões ice pensadas para um público mais jovem e urbano, com tom cosmopolita, sem trair suas raízes.
O ouro líquido do Nordeste
A Pitú é mais que cachaça. É metáfora engarrafada de um povo que aprendeu a destilar o próprio calor. É o líquido que carrega o som do frevo, o suor do canavial, a ternura da beira de rio. Tem gosto de festa, mas também de memória. Tem a força do interior e o frescor do litoral.
Por isso, quando alguém em outro país diz “caipirinha”, eu sorrio.
É como ouvir o Recife falar em outra língua.
O sol líquido de Pernambuco continua atravessando oceanos – e cada gole é um lembrete de quem somos.
PS: Beba com moderação!
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