Por Tales Faria – Correio da Manhã
Para os articuladores políticos do governo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Progressistas-PB), está usando a votação do Projeto de Lei Antifacção com o objetivo de forçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a ajudá-lo na campanha eleitoral da Paraíba em 2026.
O pai de Motta é o prefeito da cidade de Patos, Nabor Wanderley. Ele é pré-candidato ao Senado pelo Progressistas. O problema é que Nabor concorre contra dois nomes que contam com o apoio de Lula: o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e o atual governador, Joao Azevedo (PSB).
Leia maisA estratégia de campanha do pai de Hugo Motta é conquistar a vaga de senador como segunda opção do eleitorado de cada um dos seus dois principais adversários na corrida eleitoral.
Em 2026, cada estado elegerá dois senadores. O eleitor colocará nas urnas duas opções de sua escolha. Se figurar como o segundo voto da maioria dos eleitores, Nabor Wanderley acredita que acabará superando, na soma de votos, pelo menos um dos dois que têm aparecido como preferidos.
Já houve eleições para o Senado em que o candidato que constava como segunda opção na preferência dos eleitores acabou superando os adversários na soma total de votos.
Segundo as pesquisas na Paraíba, o pai de Hugo Motta tem boas chances de ficar com o segundo voto de parte dos eleitores de Veneziano e com a quase totalidade do segundo voto de João Azevedo. Sendo assim, ele só não será eleito se o presidente Lula fizer campanha no estado para seus adversár
Motta entende que Lula teria dificuldades em apoiar abertamente seu pai contra o governador, que é do PSB, e contra Vital do Rego, com quem mantém aliança histórica no estado. Mas o presidente da República já ajudará muito a Nabor Wanderley caso se mantenha distante da campanha eleitoral na Paraíba.
É em busca dessa ajuda que Hugo Motta tem feito demonstrações de força contra o governo federal. Na prática ele está dizendo: “Tenho poder como presidente da Câmara para prejudicar o governo federal se vocês atrapalharem a eleição de meu pai na Paraíba”.
Uma demonstração de poder que ele deixou bem clara nesta segunda-feira, 10, quando respondeu às críticas que recebeu do líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), por ter escolhido Guilherme Derrite como relator do PL Antifacções. Ele disse: “O presidente da Câmara escolhe quem ele quiser.”
Na verdade, Motta já lançou mão antes dessa estratégia de esticar a corda para demonstrar poder. Foi na votação do decreto do governo federal que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Ele surpreendeu o Palácio do PLanalto colocando a derrubada do decreto em pauta, diferentemente do que havia combinado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O ministro reclamou, disse que houve quebra de acordo, mas o presidente da Câmara simplesmente o ignorou. Nem sequer atendeu telefonemas de Fernando Haddad.
Ali ele já tinha dado um primeiro aviso ao governo federal. Agora os articuladores políticos do Planalto veem nessa nova esticada de corda, apenas o segundo aviso.
O governo ainda não decidiu como reagir. As avaliações no Congresso são de que, se bater de frente, Hugo Motta terá o apoio do centrão. Então, o jeito será negociar a votação de um texto menos nocivo, ou conseguir que o presidente da Câmara protele a votação do relatório de Guilherme Derrite.
Mas, para isso, Lula terá que dar uma mão zinha a Nabor Wanderley na Paraíba. Mesmo que por baixo dos panos.
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