Por Rinaldo Remígio*
Há perguntas que não pedem licença. Invadem a mente, cutucam a consciência e se impõem como um incômodo necessário. A que me veio à cabeça, depois de ler as últimas notícias, é simples e devastadora: Em que situação está o nosso país?
O Brasil parece caminhar, dia após dia, em direção a um abismo ético onde o absurdo já não causa espanto. A nação inteira paga um preço alto quando um dos órgãos mais importantes da República — o INSS, responsável pela dignidade de milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas — é comandado por gestores que mais representam um dano do que uma solução.
Li recentemente, em alguns blogs:
Leia maisO ex-presidente do INSS durante a gestão Lula não recebia uma “mesada” de 250 mil reais, mas sim de 500 mil reais mensais. Meio milhão. Todo mês. E não era um salário, não era uma bonificação, não era mérito. Eram pagamentos paralelos, clandestinos, revelados pela Polícia Federal durante a CPMI. Não bastasse isso, outro gestor, o ex-coordenador-geral de pagamentos e benefícios, deixou o depoimento direto para a prisão, depois de nove horas de evasivas, contradições e silêncio estratégico.
É de cortar o coração ver que a instituição encarregada de amparar o trabalhador virou, na mão de alguns, um balcão de negociatas. E aqui faço questão de dizer: alguns. Porque há servidores sérios, dedicados, massacrados por dentro por verem o nome da casa manchado por quem deveria honrá-la.
Mas o fato é que, diante de tantos escândalos, fica impossível não repetir, quase como um desabafo coletivo: que situação está o nosso país?
Como esperar que as contas fechem, que o povo confie, que o Estado funcione, se, onde deveria haver zelo, há descontrole; se, onde deveria existir ética, floresce a esperteza criminosa; se, onde o cidadão comum aguarda por meses um benefício legítimo, outros, lá dentro, se fartam com cifras milionárias?
Não podemos naturalizar isso. Não podemos aceitar que a corrupção vire paisagem. O Brasil é maior do que seus maus gestores. A população que levanta cedo, paga impostos, enfrenta filas, sofre na pele a morosidade do INSS, não merece ser tratada com tamanho descaso.
O episódio desta semana é mais um alerta — mais um entre tantos. Um sinal de que precisamos urgentemente reconstruir a confiança, revisar nossas escolhas, cobrar rigor, exigir transparência e responsabilização. O país não tem mais espaço para “jeitinhos” em gabinetes; o povo já paga caro demais.
Sim, temos problemas antigos. Sim, a política brasileira carrega suas velhas doenças. Mas também temos homens e mulheres de bem, instituições que funcionam e uma sociedade que, quando quer, muda destinos.
E é justamente por isso que essa pergunta precisa ecoar:
Em que situação está o nosso país?
A resposta — dura, mas necessária — é que estamos num ponto em que não dá mais para fingir que está tudo normal. Mas também num ponto em que ainda é possível virar o jogo.
Para isso, é preciso olhar de frente, sem paixão partidária e sem fanatismo, para o que está errado. E ter coragem de corrigir.
Porque o Brasil merece — e pode — ser muito melhor do que aquilo que alguns insistem em fazer dele.
Professor universitário aposentado, administrador, contador (FACAPE-Petrolina-PE) e mestre em economia (UFC-Fortaleza-CE)*
Leia menos

























