Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Um interlocutor próximo do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, classificou ao Correio Político como “tosca” a estratégia usada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para lançar seu nome à Presidência da República. Se a ideia era lançar seu nome para negociar a vaga depois, Flávio acabou explicitando isso cedo demais, ao declarar que a retirada da sua candidatura tinha um “preço” apenas dois dias depois de se lançar.
Se, ao contrário, era uma candidatura para ser levada a sério, ao fazer a tal declaração colocando um “preço” para a retirada, Flávio estabeleceu de cara que não era algo com muita probabilidade para ser levada adiante. Flávio só liberou o jogo para a direita construir sua alternativa.
Leia maisO lançamento ainda precipitou a senha de que o ex-presidente Jair Bolsonaro já entendeu que está fora do páreo. Ou seja, está aberto o jogo do campo conservador para pavimentar seus caminhos. E se aquele com o sobrenome Bolsonaro já disse que entrou para sair, abre-se a chance para que a alternativa não tenha ninguém do clã. Esse é o cenário ideal desejado especialmente pelo Centrão.
Nem Armando Corrêa foi tão rápido quanto Flávio para dizer que sua candidatura era para negociar depois. Em 1989, ele lançou-se candidato à Presidência pelo PMB, até abandonar a candidatura e entregar a sigla à aventura de lançar o apresentador de TV Sílvio Santos em seu lugar. A candidatura de Sílvio acabou depois impugnada pelo TSE. Flávio teria deixado explícito demais que sua postulação era um “bode na sala” para inibir movimentações à revelia do clã. Seja do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seja da sua madrasta, Michelle.
A forma do lançamento já foi interpretada como um voo solitário. É a primeira vez que o mundo político viu uma candidatura ser lançada a partir de uma postagem nas redes sociais. Sem reunião. Sem entrevista. Sem anúncio formal. Sem festa. Sem convenção. Sem nenhuma outra declaração além da do próprio postulante. O anúncio de Flávio pode ainda precipitar outros movimentos.
Movimentos que estavam congelados na disputa pelas vagas ao Senado no Rio de Janeiro. Flávio tem uma das vagas do PL reservadas para ele. A outra é do governador Cláudio Castro. Ao dizer que é candidato à Presidência, Flávio assanha a ambição de outros pretendentes a uma dessas vagas.
Se Flávio abrirá mão da vaga de senador, abrem-se as portas para as pretensões do senador Carlos Portinho (PL) e do deputado Altineu Côrtes (PL). Como no caso de Flávio, o mandato de Portinho termina agora (quem no Rio ainda tem quatro anos é Romário). Altineu também cobiça a vaga.
Outro ponto que Flávio pode ter calculado mal no lançamento da sua candidatura diz respeito à força do sobrenome Bolsonaro. O filho 01 talvez tenha imaginado que somente por ser Bolsonaro seria guindado a uma posição competitiva. Não levou em conta que há também rejeição alta ao sobrenome.
Se Jair Bolsonaro pudesse ser candidato, Lula teria 41%, e ele 29%. A intenção de voto no ex-presidente caiu, mas ele ainda é um ativo forte. Mas há um problema: a rejeição ao nome de Jair Bolsonaro é de 45%, maior ainda que a rejeição ao nome do próprio Lula, que é de 44%. Assim, a unção do ex-presidente leva talvez consigo essa rejeição.
Michelle, a essa altura, pode já ter conseguido obter um capital próprio para além do sobrenome do marido. Ela chega a ter no primeiro turno um desempenho ligeiramente melhor do que Tarcísio de Freitas. Contra ambos, Lula ficaria com 41%. Mas Tarcísio teria 23% e Michelle teria 29%. Michelle, avalia-se, larga bem.
Enquanto isso, uma insistência na candidatura de Flávio poderia ser o caminho mais fácil para Lula talvez obter uma inédita, para ele, vitória presidencial ainda no primeiro turno. Na simulação que o Datafolha fez com o senador como o nome principal da direita para a disputa em 2026, Lula teria 49%, e ele 22%.
Leia menos





















