Por Angelo Castello Branco
O metrô de Nova Iorque transporta diariamente cerca de 6,2 milhões de pessoas, a um custo médio de US$ 2,70 por bilhete. Isso representa uma arrecadação diária superior a US$ 16 milhões, ou algo em torno de US$ 450 a 500 milhões por mês – um dos sistemas de transporte público mais movimentados e caros do mundo para se manter.
O recém-eleito prefeito Zohran Mamdani, figura notável por vários motivos – o primeiro muçulmano, o primeiro nascido na África e o mais jovem prefeito de Nova Iorque desde 1892 – assumiu o cargo com uma promessa ousada: tornar o transporte público gratuito.
Leia maisA proposta, à primeira vista, é socialmente sedutora. Quem não gostaria de poder se deslocar por uma das maiores cidades do planeta sem pagar passagem? No entanto, o que parece ser um presente à população é, na realidade, um desafio colossal para os cofres públicos.
Um serviço de transporte “gratuito” não deixa de ter custos: manutenção da frota, operação das estações, salários dos funcionários, segurança, limpeza e expansão da rede exigem recursos consideráveis. Alguém, inevitavelmente, terá de arcar com essa conta.
No Brasil, esse dilema não é novidade. Políticos populistas costumam prometer passagens gratuitas em ônibus, metrôs e trens urbanos nas grandes cidades. A diferença é apenas geográfica: em Nova Iorque, o prefeito enfrenta o problema em escala internacional; no Brasil, o desafio ocorre nas capitais e regiões metropolitanas, com pressões semelhantes sobre orçamentos já apertados.
Em ambos os casos, a promessa de gratuidade seduz a população, mas raramente vem acompanhada de um detalhamento claro de quem paga e de como o serviço será sustentado.
Prometer transporte gratuito sem apresentar um modelo econômico viável é colocar o problema para o futuro ou, pior, transferir o custo para setores que nem sequer participaram da decisão.
Na prática, seja em Nova Iorque ou no Brasil, o subsídio não desaparece: ele é arcado pelo erário público, pelas tarifas indiretas, por cortes em outras áreas ou por aportes da iniciativa privada. A ilusão de gratuidade esconde uma realidade inevitável: serviços públicos custam caro, e alguém precisa financiar esse custo.
O caso de Zohran Mamdani serve, portanto, como um alerta. Ele terá de explicar à população não apenas a boa intenção de reduzir o peso das tarifas, mas também de onde sairão os recursos para sustentar um sistema gigantesco e complexo.
Da mesma forma, políticos brasileiros que seguem a mesma linha – prometendo transporte urbano gratuito – terão que enfrentar o mesmo dilema: a política da gratuidade atrai aplausos imediatos, mas não pode ignorar a lógica econômica.
Ao final, a reflexão é clara: o transporte público “gratuito” é uma promessa que exige responsabilidade, planejamento e transparência. A sedução da ideia não substitui a necessidade de soluções sustentáveis. O bilhete pode não ter preço para o usuário, mas o boleto existe, e alguém terá de pagá-lo.
Leia menos


















