Por Flávio Chaves*
Num tempo em que a política internacional ainda insiste em tratar as vozes femininas como notas de rodapé, Sheikha Moza bint Nasser se ergue como corpo de texto principal. Sua presença não se mede pelo barulho do mundo, mas pela densidade que sua figura impõe ao espaço que ocupa. Há nela a força das marés que avançam sem pressa, mas que ninguém consegue deter. Sua elegância não é ornamento, é disciplina estética; sua firmeza não é rigidez, é consciência do peso que cada gesto pode carregar; sua escuta não é subserviência, é forma refinada de autoridade.
Fundadora da Education Above All Foundation, Sheikha Moza transformou a educação em ferramenta de insurgência contra a barbárie. Cada escola aberta em zonas esquecidas do mapa global não é apenas tijolo e cimento: é farol aceso em regiões que o mundo preferia manter na sombra. Cada menina alfabetizada é mais do que estatística: é como um campo florescendo em pleno deserto, um milagre social que prova que a vida insiste em nascer mesmo quando os impérios decretam silêncio. Ali onde outros enxergam apenas números, ela enxerga destinos. Onde outros projetam relatórios, ela constrói sementes de futuro.
Leia maisNas tribunas da ONU e nos encontros multilaterais, Sheikha Moza não disputa os microfones pelo volume da voz, mas pelo alcance da palavra. Sua fala é contida, mas carrega o peso de milhões. É como o golpe certeiro de uma flecha: não precisa ser ensurdecedora, precisa apenas atingir o centro. Ao defender a educação como pilar de paz, ela não argumenta com retórica abstrata; apresenta a urgência concreta de crianças privadas do amanhã, de juventudes enterradas antes de florescer. Sua palavra não é eco vazio, é martelo que forja civilidade.
O feminismo de Sheikha Moza não se escreve em slogans ocidentais nem em bandeiras de ocasião. É um feminismo subterrâneo e enraizado, que brota de valores próprios e se manifesta em gestos que não precisam de espetáculo para transformar. É como a seiva que alimenta a árvore: invisível aos olhos, mas indispensável à vida. Ela emancipa sem confronto estéril, governa sem alarde, protege sem precisar gritar. É justamente essa inteligência tática que a torna referência global: a capacidade de mostrar ao mundo que é possível ser mulher, muçulmana, poderosa e transformadora sem renunciar à identidade, sem pedir licença para existir inteira.
No palco internacional, Sheikha Moza não é convidada coadjuvante. Ela escreve o roteiro. Não é exceção que confirma a regra, mas prenúncio de um futuro possível. Um futuro em que as mulheres não apenas participam da política, mas a pensam; não apenas ocupam espaços, mas fundam instituições; não apenas sonham com igualdade, mas moldam nações. Sua atuação é a prova viva de que educar não é apenas ensinar a ler e escrever: é um ato radical de poder, é escrever a história no plural, é redistribuir a dignidade como quem planta trigo em terra devastada.
E assim, no tablado do mundo, Sheikha Moza revela sua verdadeira dimensão: a rainha do gesto contido que, paradoxalmente, se torna soberana no palco expandido da humanidade. Onde houver uma menina sem escola, ali ecoará sua missão como um sino que desperta aldeias. Onde houver um povo em ruína, ali se anunciará sua chama, como fogo que aquece sem destruir. Sheikha Moza bint Nasser é a imagem de um poder feminino que não precisa se exibir como espetáculo para ser eterno.
*Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras
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