Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Havia nos bastidores da reunião dos parlamentares de oposição convocada pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), uma certa sensação de desânimo. A reunião em pleno recesso parlamentar era uma marcação de posição. Mas, a essa altura, o único efeito prático é esse mesmo.
Já não há mais a menor possibilidade, avaliavam, de reversão do quadro que em muito pouco tempo levará o ex-presidente Jair Bolsonaro à condenação pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e à prisão em seguida. Na sexta-feira (18), ainda havia em alguns a expectativa de que conseguiriam reverter o recesso. Ontem, a oposição constatava: mesmo quanto a isso não há menor possibilidade.
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Segundo as informações preliminares, vieram a Brasília 54 parlamentares nesta segunda. Somente o PL tem 88 deputados federais. Ou seja, a mobilização conseguiu trazer à cidade somente pouco mais da metade dos deputados do partido de Bolsonaro.
O próprio Bolsonaro ficou tolhido pela decisão de Moraes, que avisou que ele poderia ser preso caso participasse da entrevista ao final, uma vez que está proibido do uso de redes sociais, e a entrevista seria transmitida. Bolsonaro perdeu seu maior porta-voz, ele mesmo.
Uma brincadeira circulava no Salão Verde antes e depois da entrevista da oposição. Era uma paródia ao slogan que a esquerda lançou nos momentos da prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Ninguém solta a mão de ninguém”. Na frase parodiada, a brincadeira era dizer que, agora, “ninguém segura a tornozeleira de ninguém”. Por um lado, parte da direita a essa altura já trata mais de construir alternativas eleitorais diante da constatação, cada vez mais forte, de que Bolsonaro – inelegível e prestes à condenação – estará fora da sucessão presidencial de 2026. Por outro lado, o reforço da constatação de que Bolsonaro e família só pensam em si mesmos.
O tarifaço ameaçado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, muito longe de ter sido uma solução, tornou-se um problema. A oposição tenta descolar Bolsonaro da decisão de Trump, mas avalia que a toda hora Eduardo Bolsonaro trabalha no sentido contrário.
O próprio Eduardo Bolsonaro, constatavam, acabará por perder seu mandato. Ainda que não renuncie, em alguns meses acabará cassado por faltas, até porque decisão semelhante foi tomada recentemente quanto ao mandato de Chiquinho Brazão.
Tudo isso gera dúvidas sobre a capacidade de pressão que possa vir de Trump. Comentava-se sobre outro setor extremamente prejudicado: o pesqueiro. Segundo se comentava, 70% do pescado importado que os EUA consomem vem do Brasil.
Voltava-se a pregar que mais efetiva poderia ser a possibilidade de sanções individuais aos ministros do STF. A aplicação da tal Lei Magnitsky, que permite sanções econômicas. Mas, de novo: qual seria o efeito prático na ação contra Bolsonaro? Faria o STF parar?
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