O primeiro erro de Rodrigo
A ausência de candidatos em debates constitui-se há muito tempo numa discussão que divide muitas opiniões. No Brasil, a tese de quem lidera, seja presidente, governador ou prefeito, de não comparecer nos duelos de primeiro turno com os adversários porque a soma do que se perde é maior do que se ganha, se alastrou e acabou virando um mantra.
Mas não é bem assim. Na campanha para o Governo de Pernambuco em 2022, a então líder absoluta nas pesquisas, Marília Arraes (SD), nem no da Globo, na reta final do primeiro turno, deu as caras. Perdeu a eleição no segundo turno para Raquel Lyra (PSDB). Mesmo que a derrota tenha sido interpretada pela comoção, decorrente da morte do marido de Raquel no dia da eleição no primeiro turno, mais tarde Marília reconheceu que errou ao seu afastar dos debates.
A rádio Liberdade de Caruaru, líder no ranking de audiência entre as emissoras da região, promoveu, ontem, o primeiro debate entre os candidatos a prefeito do município. Tudo caminhava para se constituir em algo factual e rotineiro de campanha, não fosse a ausência do prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB), que virou, naturalmente, alvo da pancadaria por parte de todos os adversários presentes.
Leia maisCandidato do PL, Fernando Rodolfo chegou a classificar o prefeito de fraco, frouxo e até covarde. Na verdade, Rodrigo errou em se ausentar, até porque sua dianteira nas sondagens eleitorais para Zé Queiroz (PDT), com quem polariza, é de apenas oito pontos, com cenário de segundo turno, segundo a última pesquisa do Instituto Opinião, em parceria com este blog.
Se estivesse bem distanciado, com os ventos soprando na direção de que estaria eleito no primeiro turno, Rodrigo teria razões para ignorar o debate. Caruaru, que o tucano administra desde a renúncia de Raquel quando prefeita em 2022, para disputar o Estado, tem tudo para se transformar na maior incógnita das eleições municipais no Estado.
PAULEIRA GERAL – Candidato a prefeito de Caruaru pelo Solidariedade, Armandinho, da banda Fulô de Mandacaru, também foi na mesma linha de Fernando Rodolfo nos ataques ao prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) por ter se ausentado, ontem, do debate promovido pela Rádio Liberdade. “Prefeito fujão, pipoqueiro, está vazia a sua cadeira”, afirmou. Zé Queiroz (PDT), por sua vez, afirmou que Rodrigo deu demonstrações de que não tem compromisso e nem respeita o povo de Caruaru.
João salva a esquerda – Pelo levantamento do site Poder360, apontando a queda das candidaturas de prefeito de partidos de esquerda nas eleições municipais, João Campos (PSB), do Recife, é apontado como o único de perfil ideológico, entre as capitais, que pode ser reeleito logo no primeiro turno. Nas demais cidades, os candidatos esquerdistas estão bem-posicionados (lideram ou estão próximos do líder) apenas em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Teresina.
Ideologia de ladeira abaixo – Segundo o Poder360, mais da metade dos municípios brasileiros não têm candidatos filiados a siglas de esquerda concorrendo à prefeitura em 2024. Essa é a situação em 2.859 das 5.569 cidades nas quais há eleições em 2024, de acordo com o levantamento do site feito com dados do TSE. A proporção é muito superior à de cidades que não têm concorrentes filiados a partidos de direita (21% do total). Essa é a menor presença de partidos esquerdistas em disputas municipais em 20 anos. A retração é acompanhada de resultados ruins de candidatos de esquerda em disputas recentes e de um prognóstico de dificuldades para o grupo ideológico nestas eleições.
Em 2000 foi pior– O menor percentual registrado nos últimos 24 anos foi o do ano 2000. Naquelas eleições, as siglas de esquerda disputaram a prefeitura em só 42% dos municípios. O cenário mudou depois de Lula se tornar presidente, em 2003. Nas eleições municipais seguintes, a esquerda esteve presente em 56% dos municípios e cresceu até 2012, quando 63% das cidades brasileiras tinham ao menos um candidato filiado a um partido de esquerda concorrendo no pleito. Desde 2016, no entanto, esse número cai. A queda foi precedida pelas revelações da operação Lava Jato e pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
No lugar certo – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, ontem, que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito ajuste fiscal no “lugar certo” e contribuído para o aumento dos investimentos. Segundo ele, o equilíbrio das contas públicas será feito pela primeira vez sobre “grupos econômicos” e “campeões nacionais” que não pagam imposto. Em entrevista à GloboNews, afirmou que o FMI (Fundo Monetário Internacional) aumentou de 1,5% para 2,5% a taxa de crescimento potencial do país. Classificou o fundo internacional como “insuspeito” para fazer o cálculo.
CURTAS
MELHOR – O melhor resultado eleitoral da esquerda nos últimos 24 anos foi registrado em 2012. Naquele ano, as siglas esquerdistas tiveram 1.523 prefeitos eleitos. Depois, foi queda livre. Em 2016, foram 1.184 prefeitos eleitos e, nas últimas eleições, só 852. Os resultados de anos anteriores podem ser vistos como baliza para o que esperar em 2024.
MENORES – Os partidos de esquerda estão bem mais ausentes em cidades de até 10 mil habitantes. Só 37% desses municípios têm um candidato a prefeito filiado a partidos esquerdistas concorrendo nas eleições de 2024. O PT foi um dos partidos que mais perderam gordura eleitoral.
MAIORES – As siglas esquerdistas estão na disputa em 96% dos municípios com mais de 200 mil habitantes. Já no grupo de 103 cidades que terão 2º turno (aquelas com mais de 200 mil eleitores), só uma, Parauapebas (PA), não tem uma sigla esquerdista no páreo. Mais de dois terços das cidades do Rio Grande do Norte, Goiás e Mato Grosso do Sul não têm partidos esquerdistas concorrendo à Prefeitura. Na outra ponta está o Ceará, com 87% das cidades sendo disputadas por esquerdistas.
Perguntar não ofende: O que houve com a esquerda brasileira para definhar tanto?
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