A Semana Santa celebra os últimos dias do filho de Deus até a ressurreição. Seu sangue derramado na cruz simboliza a vida. Ele morreu para nos salvar e nos dar a vida eterna. Fui criado em Afogados da Ingazeira sob a admoestação dessa fé passada pelos meus pais. Nos meus tempos de menino, a Semana Santa era um silêncio sepulcral em memória de Cristo. O Sertão virava uma Jerusalém em Domingo de Ramos.
Beata, mamãe baixava seus decretos invioláveis: nada de bebida, com exceção de um vinho moderado. Carne, nem pensar! Reza de joelhos, todos os dias, do Domingo de Ramos ao domingo da Páscoa. De tudo isso, entretanto, o que nunca esqueci foi o sacrifício da Quarta-feira de Trevas.
Leia maisEla e papai, este mais vigilante, decretavam a proibição do banho. Herdaram a crença dos seus avós sertanejos de que tomar banho na quarta de trevas era o passaporte para o corpo entrevar. Papai Gastão e mamãe Margarida formaram uma prole grande, nove filhos. Obedientes, a gente não lavava nem o sovaco, com medo de entrevar.
Mas certa quarta-feira de trevas, atrevidos, sem que nossos pais soubessem, eu e Marcelo, meu irmão encangado, tomamos banho no Poço de Benedito, pertencente ao meu tio de mesmo nome, irmão do meu pai.
Não é que o diabo atentou e quase morro num afogamento? Deus escreve certo por linhas tortas, repetia mamãe, que nunca tomou conhecimento desse fato. O poço de Benedito, no leito do Rio Pajeú, era fundo, rodeado de pedras. Desafiar as suas profundezas, só os bons nadadores, como o meu primo Marcos Porroia, que Deus já chamou, nossos amigos Beto e Luciano, de Miguel Jacó, hoje morando no Rio.
A Semana Santa já não é mais a mesma. Virou referência comercial devido o alto consumo de peixe, vinho e ovos de chocolate, sem a consciência da necessidade de uma aproximação do Deus vivo em nossas vidas nos 365 dias do ano. Infelizmente, a maioria das pessoas encara a Semana Santa apenas como um feriadão e não como um tempo de paz e de reconciliação entre os irmãos, para juntos então comemorarmos, amanhã, domingo, a Páscoa da Ressurreição!
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