O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (11) que o governo federal vai trabalhar contra o projeto de anistia a condenados por atos golpistas que está sendo costurado no Congresso Nacional.
A declaração do presidente Lula foi dada em entrevista exclusiva ao Jornal da Band. A entrevista foi gravada horas antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão no julgamento da trama golpista. As informações são do g1.
Leia maisAo ser questionado sobre se os partidos da base que hoje tem assento no governo insistirem na anistia, o presidente afirmou: “O governo vai trabalhar contra a anistia. É importante você saber”, disse Lula.
O governo intensificou, nesta semana, as articulações para barrar a aprovação de uma anistia pelo Congresso Nacional.
A equipe do presidente Lula acionou os ministros da Frente Ampla para segurar a votação na Câmara dos Deputados.
No começo da semana, a ministra Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação política do governo, se reuniu com 11 ministros – entre eles, de partidos do Centrão.
Voto de Fux
Durante a entrevista, ao ser questionado sobre o voto do ministro Luiz Fux para absolver o ex-presidente Jair Bolsonaro de todos os crimes, o presidente Lula afirmou que “se o ministro Fux não quiser provas, problema dele”.
“O Bolsonaro tentou dar um golpe nesse país e tem dezenas e centenas de provas. Agora, cada juiz é aquilo que quer ver. Eu só acho que os juízes tem que ver a verdade. Se a verdade estiver nos autos e for comprovada, é assim que as pessoas vão ser julgadas”, afirmou o presidente. “Se o ministro Fux não quiser provas, problema dele. Eu acho que as provas estão fartas e o ex-presidente, covardemente, articulou tudo, pensou tudo e foi embora.”
Ao votar pela absolvição de Bolsonaro, Fux afirmou que críticas às urnas não configuram crime, minimizou a minuta do golpe e argumentou que Bolsonaro não tinha obrigação de desmobilizar manifestantes.
Lula afirmou que não poderia dar uma opinião pública sobre o voto do ministro, mas que tem uma tese pessoal.
“Eu não posso ter uma opinião pública sobre o voto de cada ministro. Não é recomendável que o presidente da República ficar dando palpite sobre voto de ministro da Suprema Corte. Eu tenho uma tese pessoal, mas não posso dar. A Suprema Corte vai decidir segundo os autos do processo. E cada ministro entenda aquilo que querer entender e dar o voto que queira dar”, disse.
Novas sanções de Trump
Durante a entrevista ao Jornal da Band, o presidente Lula afirmou não temer novas sanções do presidente dos EUA, Donald Trump, com o julgamento do ex-presidente Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal.
A entrevista foi gravada na manhã desta quinta-feira, antes da condenação de Bolsonaro. Lula também afirmou que o governo brasileiro vai reagir “na medida” em que forem anunciadas novas ações dos EUA contra o Brasil.
“Não temo, não temo (novas sanções)”, disse Lula. “As acusações contra o Brasil são todas falsas e o presidente Trump sabe disso. Não tem déficit comercial, é arrogância dele não querer que a Justiça brasileira julgue alguém que cometeu um crime, o presidente de um país não pode ficar interferindo nas decisões de outro país soberano. Se ele vai tomar outras atitudes, é um problema dele.”
Nesta quinta, Donald Trump classificou como “terrível” e disse estar “muito insatisfeito” com a condenação de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. O secretário de Estado do país, Marco Rubio, prometeu resposta por parte dos EUA.
Trump comentou o caso enquanto deixava a Casa Branca para embarcar para Nova York, onde deve assistir a um jogo de beisebol. O presidente americano comparou a condenação de Bolsonaro com processos judiciais que ele próprio enfrentou.
“Isso é muito parecido com o que tentaram fazer comigo, mas não conseguiram de jeito nenhum. Mas só posso dizer o seguinte: eu o conheci como presidente do Brasil e ele é um bom homem”, afirmou Trump. “Estou muito insatisfeito com isso. Eu conheço o presidente Bolsonaro, não tão bem, mas o conheço como líder de um país. E sempre o considerei muito correto, de fato muito notável, na verdade, como homem, um homem muito notável. Acho que é uma coisa terrível. Muito terrível. Acho que é muito ruim para o Brasil.”
O presidente dos EUA não disse se pretende aplicar novas sanções ao Brasil em razão da condenação.
No entanto, em um post na rede social X, o secretário de Estado, Marco, Rubio prometeu que os EUA “responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”.
“As perseguições políticas do violador de direitos humanos Alexandre de Moraes, sancionado, continuam, já que ele e outros membros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram injustamente pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”, afirmou.
Em manifestação também publicada em uma rede social, o Itamaraty disse que “ameaças não intimidarão” o país.
“Ameaças como a feita hoje pelo Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, em manifestação que ataca autoridade brasileira e ignora os fatos e as contundentes provas dos autos, não intimidarão a nossa democracia”, diz a manifestação do ministério.
Leia menosO ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou à Polícia Federal (PF) a abertura de uma investigação sobre ameaças contra ele nas redes sociais. O pedido foi formalizado em ofício enviado nesta quarta-feira, 11.
Dino afirmou que passou a ser alvo de ameaças “imediatamente após” votar na terça-feira, 9, pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado. As informações são do Estadão.
Leia maisMuitas das mensagens mencionam o incêndio que matou a esposa de ex-primeiro-ministro do Nepal, ocorrido em meio a protestos que levaram à renúncia dele ao cargo.
Entre os comentários das redes, que constam no ofício, há frases como “temos que fazer igual no Nepal” e “Nepal tá ensinando direitinho como se faz”.
“Como sabemos, há indivíduos que são conduzidos por postagens e discursos distorcidos sobre processos judiciais, acarretando atos delituosos – a exemplo de ataques ao edifício-sede do STF, inclusive com uso de bombas”, destacou Dino no ofício.
Ele também afirma que o voto foi proferido “no regular cumprimento da função pública que exerce”. Na terça-feira, 9, ele seguiu o relator do caso, Alexandre de Moraes, em seu posicionamento pela condenação dos oito réus por todos os crimes imputados.
Dino descreveu Bolsonaro como líder de organização criminosa que agiu de forma violenta contra as instituições e reiterou a tentativa de golpe, defendendo penas mais altas para ele e Braga Netto, por maior participação.
Não é a primeira vez que o ministro enfrenta episódios de hostilidade. Na última semana, quando estava embarcando para o julgamento em Brasília, Dino foi hostilizado por uma passageira do voo em que estava. A PF indiciou a mulher por injúria qualificada e incitação ao crime.
Leia menosA Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou, nesta quinta-feira (11/9), o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) a 16 anos e um mês de prisão por tentativa de golpe de Estado.
O ministro relator Alexandre de Moraes fixou a pena em 17 anos e sim a 16 anos e 1 mes e 15-dias. A ministra Cármen Lúcia interviu, sinalizando que na sua dosimetria, a pena seria de 16 anos. Moraes acatou. As informações são do Metrópoles.
Leia maisMoraes foi seguido pelos ministros Flávio Dino e pelo presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin.
O ministro Luiz Fux votou para absolver Ramagem, por isso não participou da dosimetria.
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) fechou em 4 a 1 o julgamento da trama golpista, condenando o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados dele por crimes como organização criminosa e golpe de Estado. É a primeira vez que um ex-presidente do Brasil é condenado por crimes contra a democracia.
Após o voto do ministro Luiz Fux, que discordou dos colegas de Supremo Alexandre de Moraes e Flávio Dino, os ministros Cármen Lúcia e Cristiano Zanin votaram, na tarde desta quinta, e fecharam a condenação pelo placar de 4 a 1.
Leia menosO deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) apresentou na Câmara dos Deputados um projeto de lei que destina ao Fundo Nacional de Saúde os recursos arrecadados com o chamado “Imposto do Pecado”, criado na reforma tributária para tributar produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e açucaradas. A proposta, já distribuída para comissões da Casa, busca ampliar o financiamento do tratamento do câncer no Sistema Único de Saúde (SUS), diante de dados que apontam que, a cada R$ 1,00 de lucro da indústria do cigarro, o Brasil gasta mais de R$ 5,00 com doenças relacionadas e perda de produtividade.
A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitou o perdão judicial ao tenente-coronel Mauro Cid, como benefício máximo à colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), na tentativa de reforçar o posicionamento da Corte contra uma eventual anistia aos condenados pelo plano de golpe.
Os ministros seguiram o relator Alexandre de Moraes, que indicou o benefício de pena mínima de dois anos em regime semiaberto para Cid. A delação foi alvo de questionamento das defesas dos demais réus.
Ao votar, Moraes reafirmou a validade da delação do ex-ajudante de ordens, dizendo que as informações passadas à PF (Polícia Federal) saíram “a fórceps”. Admitiu que houve omissões, mas não contradições nos depoimentos. As informações são da CNN Brasil.
Leia maisO ministro disse que perdão judicial, anistia e indulto “são espécies do mesmo gênero clemência constitucional”.
“Assim como não cabe indulto pelo presidente, não cabe anistia pelo Congresso Nacional, não cabe perdão judicial pelo Poder Judiciário em crimes contra a democracia, em crimes que atentem contra o Estado Democrático de Direito, crimes que atentem contra cláusulas pétreas da Constituição, como o Supremo Tribunal Federal já decidiu”, disse.
Moraes foi seguido pelos demais ministros. Flávio Dino disse que adotou o benefício para honrar o acordo feito pelo Estado.
“Na dosimetria, eu tinha chegado a um outro patamar mais alto, mas considero que as razões de política criminal que o senhor mencionou são muito relevantes. Houve um acordo do Estado com esse senhor e, apesar da reprovabilidade alta das condutas, creio que, do ponto de vista ético, deve-se honrar o acordo”, disse.
Além de pegar a pena mínima de dois anos, Cid teve atendidos os outros pedidos do seu acordo, como a devolução de bens e valores apreendidos e a extensão dos benefícios para pai, esposa e filha maior, no que for compatível.
Acordo
O acordo de colaboração premiada foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes em 9 de setembro de 2023. Ao firmar o acordo, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro deixou a prisão. Ele estava preso desde 3 de maio do mesmo ano, depois de ser alvo de investigação que apura a inserção de dados falsos nos cartões de vacina do ex-presidente.
No primeiro depoimento da delação, o ex-ajudante de ordens citou nove dos 40 indiciados pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
O ex-ajudante de ordens, por duas vezes, esteve ameaçado de perder os benefícios da delação. Em março de 2024, Mauro Cid ficou sob risco de perder a delação premiada após áudios vazados em que ele critica Alexandre de Moraes e a Polícia Federal (PF).
Após prestar depoimento a Moraes no dia 22 daquele mês para explicar o vazamento dos áudios publicados pela revista Veja, o militar foi preso novamente. Ele passou mal e chegou a desmaiar na audiência.
Mauro Cid foi solto em 3 de maio do ano passado por decisão de Alexandre de Moraes, que manteve integralmente o acordo de delação premiada.
Na decisão, o ministro citou que o ex-ajudante de ordens reafirmou a “voluntariedade e legalidade do acordo” e ressaltou que os áudios divulgados pela revista Veja “se tratavam de mero ‘desabafo’”.
Em novembro de 2024, o ex-ajudante de ordens teve de prestar esclarecimentos ao ministro Alexandre de Moraes após a Polícia Federal apontar contradição em suas declarações.
O acordo foi mantido após Mauro Cid dar detalhes da participação do general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro na disputa pela Presidência em 2022.
O ex-ministro da Casa Civil e da Defesa acabou sendo preso em dezembro pela Polícia Federal e está detido em uma unidade do Exército no Rio de Janeiro.
Leia menosA Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou uma pena total de 19 anos para o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército Brasileiro no governo Jair Bolsonaro (PL), pela condenação pela trama golpista.
O regime inicial do cumprimento da pena é o fechado.
Além disso, foram fixados 84 dias multa para Paulo Sérgio Nogueira. Um dia multa equivale ao valor de um salário mínimo. As informações são do g1.
Leia maisA pena por cada crime fixada pela Primeira Turma foi:
A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) condenou nesta quinta-feira (11) o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Augusto Heleno a 21 anos de prisão, em regime inicial fechado.
Além da prisão, Heleno também foi condenado a 84 dias multa no valor de um salário mínimo o dia. O ministro Alexandre de Moraes sugeriu a pena levando em consideração a idade avançada do general como fator atenuante. As informações são da CNN Brasil.
Leia maisEle foi acompanhado por Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. Luiz Fux, por ter votado pela absolvição do réu, decidiu não participar da definição de pena.
Por ser militar, Heleno está sob o risco de perder a patente e terá caso avaliado pelo Superior Tribunal Militar.
Leia menosA Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou, nesta quinta-feira (11/9) o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos (foto em destaque) a 24 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Do total, 6 meses em reclusão, 2 anos e seis meses de detenção. As informações são do Metrópoles.
O ministro relator Alexandre de Moraes fixou a pena em 24 anos, sendo 21 e seis meses em reclusão, 2 anos e seis meses de detenção e 100 dias-multa.
Moraes foi seguido pelos ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e o presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin.
O ministro Luiz Fux votou para absolver Torres, por isso não participou da dosimetria.
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta quinta-feira (11) o ex-ministro da Justiça Anderson Torres a 24 anos de prisão no julgamento da Trama Golpista. A dosimetria da pena foi definida após a maioria dos ministros considerarem o ex-auxiliar de Jair Bolsonaro culpado em todos os cinco crimes apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Por 4 votos a 1, o colegiado concluiu que Torres participou da organização que tentou impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e promover uma ruptura democrática entre o fim de 2022 e o início de 2023. As informações são do g1.
A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) condenou nesta quinta-feira (11) o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Walter Braga Netto a 26 anos de prisão, com início em regime fechado.
Além da prisão, Braga Netto também foi condenado a 100 dias-multa no valor de um salário mínimo o dia. Ele foi acompanhado por Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Luiz Fux, por ter votado para condenar o ex-ministro apenas por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, abriu divergência e fixou a pena em sete anos. Ficou vencido. As informações são da CNN Brasil.
Leia maisFlávio Dino havia sugerido 30 anos e 2 meses de prisão em razão da gravidade dos atos imputados ao ex-ministro, principalmente a participação em plano para matar autoridades. No entanto, acabou aderindo ao valor sugerido por Moraes ao considerar que sairia vencido.
Leia menosA prefeita de Olinda, Mirella Almeida, recebeu nesta quinta-feira (11) a CEO do MIMO Festival, Lú Araújo, para alinhar os últimos detalhes da edição que promete movimentar a cidade com música, cinema e experiências culturais. O evento, reconhecido nacionalmente, terá apoio da Prefeitura e será realizado em diferentes pontos do município, reunindo moradores e turistas em uma grande celebração artística.
Durante o encontro, Mirella destacou o compromisso da gestão em garantir infraestrutura adequada e acolhimento ao público. “Olinda é um lugar que respira arte e cultura, e o MIMO é uma oportunidade única de celebrar essa identidade. Estamos trabalhando para que todos, moradores e visitantes, vivenciem o melhor que a cidade tem a oferecer”, afirmou a prefeita.
Com shows gratuitos, exibições de filmes e vivências culturais, o MIMO Festival terá a cidade histórica como cenário para apresentações de artistas consagrados e novos talentos. “Estamos preparando algo muito especial, com o intuito de transformar Olinda em um centro de arte e acolhimento durante todo o festival”, ressaltou Lú Araújo. A Prefeitura também anunciou esquemas especiais de segurança, mobilidade e orientação ao público.
Por Flávio Chaves*
Carpina amanhece hoje com a pompa de suas 97 velas acesas, celebrando oficialmente sua emancipação política, declarada pela Lei Estadual nº 1.931, de 11 de setembro de 1928, quando a antiga Chã do Carpina, já rebatizada Floresta dos Leões, libertou-se do domínio de Paudalho e Nazaré da Mata para assumir o destino com as próprias mãos.
Nascia o município, instalado no ano seguinte, como fruto de uma luta coletiva, marcada por nomes que jamais devem ser esquecidos: Armando Gayoso, o deputado que empurrou a história no papel; Francisco José Chateaubriand, que cunhou a identidade simbólica; Odair Santana, Antônio Bezerra de Menezes, entre tantos outros herdeiros da coragem que ergueram o berço de uma cidade que não queria ser apêndice de ninguém.
E, no entanto, quase cem anos depois, Carpina parece devolvida à casa de onde lutou para sair. Não por decreto, mas por ausência. Por um silêncio cívico que permitiu que a governança de hoje fosse entregue nas mãos de políticos paudalhenses, homens que não conhecem a alma dessa terra, que não carregam na fala o sotaque da memória, que não pisaram descalços no chão quente da praça Joaquim Nabuco nem ouviram seus avós contar as histórias da ferrovia, da cana, da feira, da floresta.
Leia maisO hino da cidade, em seu entusiasmo fundacional, soa hoje como uma peça irônica. “Ontem escrava embora, hoje liberta sou” , entoa o verso com voz altiva, mas o eco nos devolve uma dúvida inquieta. Libertos de quem, se hoje somos novamente conduzidos por mãos de fora? Que liberdade é essa que não conhece o rosto dos que governa?
O progresso de Carpina não raiou por inteiro quando é gerido por estranhos afetivos, homens que veem esta terra como uma extensão de sua ambição política, não como lar, não como raiz, não como semente.
Seria cômico, não fosse trágico, que após quase um século de luta por autonomia, a cidade tenha sido entregue novamente à lógica de uma dominação externa, por mãos que não cultivaram a identidade carpinense, que não entendem a simbologia do nome Floresta dos Leões, que confundem liderança com tutela. Carpina não é colônia.
Não é satélite. Não é distrito. E no entanto, o que vemos? Um povo governado por ausentes históricos, por herdeiros de outra bandeira, que não têm nenhum compromisso sentimental com a construção dessa terra.
Como se sentiriam hoje os que lutaram por essa liberdade? Aqueles homens que enfrentaram a burocracia da província, os que reuniram assinaturas, escreveram abaixo-assinados, articularam com deputados e autoridades, que ergueram esse município com as próprias mãos, como se esculpe uma ideia no barro?
Sentiriam vergonha, talvez. Sentiriam revolta. Ou um tipo mais fino de mágoa: a de ver que sua luta foi esquecida, e que as instituições que nasceram para preservar a autonomia agora se calam diante da presença de forasteiros no poder. Seriam esses os mesmos que sonharam o hino que hoje entoamos?
O mesmo que, com esperança sincera, proclamava o nascimento da justiça, da liberdade, da esperança, depois de um tempo de escravidão? Há ironias que a história escreve com tinta cruel. A maior delas talvez seja esta: após 97 anos de independência, Carpina volta a ser governada pelos mesmos senhores do passado, sem que um só grito ecoe com a força dos leões.
Dói ao coração perceber que os destinos de Carpina estejam, hoje, nas mãos de quem um dia a escravizou, não apenas politicamente, mas simbolicamente, negando-lhe o direito de sonhar com os próprios olhos.
Onde estão agora os ecos das serenatas na Rua da Igreja, os passos apressados de quem descia da Estação Ferroviária com a marmita de alumínio, os sorrisos largos dos domingos no Clube dos Lenhadores, Espanadores e Colonial?
Onde ecoam os gritos da juventude nas arquibancadas do Estádio Oswaldo Freire, o brilho das noites dando voltas pela cidade para de soslaio olhar para a sua paquera ou amor platônico, as vozes encantadas dos alunos do Colégio Santa Cruz e da Escola Salesiana e do Josê de Lima Júnior?
Em que canto se esconderam as cores dos carnavais que tingiam as ruas de canções e gritos embriagados de sonhos e de amores. Era frevo dentro do coração dos foliões, e os estandartes que arrepiavam o frevo nas avenidas? Como esquecer as missas na Matriz de São José, o alarido das feiras no centro, os abraços nas calçadas da Praça Joaquim Nabuco, onde cada banco era um ponto de encontro e cada esquina, uma memória viva?
Carpina é feita de gente que tem nome, cheiro, afeto e lembrança. Gente como Dona Tila, como Seu Pirulito, como mestre Solon do mamulengo, senhor Marcolino do fandango, doutor Gentil, como tantos outros que, mesmo sem mandatos, governavam com ternura o cotidiano dessa terra.
E é essa Carpina profunda, amorosa e invisível que hoje chora em silêncio, ao ver que os que a comandam não sabem pronunciar sua alma, não reconhecem seus fantasmas doces, não carregam na fala o barro antigo do qual essa cidade foi moldada.
Ainda assim, há tempo. O tempo de despertar não é só o da comemoração, mas da consciência. Que esta data, 11 de setembro, não seja apenas número e fanfarra, mas um chamado à memória e à dignidade.
Que os filhos desta terra reconheçam que liberdade se cuida, se exerce, se protege. E que a Floresta dos Leões, ainda que silenciada por um instante, segue viva na lembrança de seus verdadeiros guardiões , os que sentem Carpina não como território, mas como sangue, chão, história.
Porque não há hino, nem data, nem governador que resista ao grito de um povo que decide, uma vez mais, não ser governado por quem nunca o amou.
*Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras
Leia menos