Por Letícia Lins
Do Oxe Recife
Espetáculo tão importante para o Ciclo Natalino e o turismo em Pernambuco quanto o “Drama da Paixão” para a Semana Santa, o “Baile do Menino: Uma Brincadeira de Natal” chega em 2024 recheado de novidades. José, pai de Jesus, será interpretado por um sanfoneiro (Lucas Dan) que recitará versos de Manuel Bandeira (1886-1968). A cirandeira Lia de Itamaracá participa pela primeira vez. E dois badalados e conhecidos maestros do Recife – Spok e Forró – dividem o palco da ópera popular, que será encenada a partir dessa segunda-feira (23/12), no Marco Zero do Recife. Também haverá encenações no mesmo horário, nos dias 24 e 25 de dezembro. O início da apresentação é 20h, e o acesso é gratuito.
“Baile do Menino Deus” foi escrito há 41 anos por Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com músicas de Antônio Madureira. Suas primeiras e singelas encenações ocorriam em teatros fechados, e divertiram crianças e adultos nos anos 80 do século passado. Minhas filhas, por exemplo, até hoje cantam todas as músicas do espetáculo porque, aos finais de ano, sempre o assistiam. Também havia um “LP” com todas as músicas que eram muito ouvidas em casa. São lindas, e levam a assinatura de Antônio Madureira. Há 21, a ópera popular ganhou montagem grandiosa, ao ar livre, com tecnologias modernas, uma verdadeira “Broadway” natalina.
Já ganhou versão em livro, com 700 mil exemplares já publicados. O título tornou-se paradidático distribuído pelo Ministério da Educação (MEC). A peça inspira, todos os anos, inúmeras montagens Brasil afora. Já ganhou duas versões em filme (ambas disponíveis no YouTube, assim como o espetáculo de 2023). O interessante do “Baile” é que ao invés de repetir as tradições europeias – neves, trenós, renas, Papai Noel – a montagem se destaca pelo reforço da identidade nacional em geral e da nordestina, em particular. A história cristã é reproduzida – Jesus, Maria, José, Reis Magos – mas com reforço das nossas manifestações populares.
Assim, maracatu, frevo, caboclinho, reisados, pastoris, figuras do folclore nacional, revivências da tradição oral e popular também são protagonistas do espetáculo. E esse, talvez, seja o segredo do seu tão grande sucesso. A montagem inclusive virou Patrimônio Cultural Imaterial do Recife.