Por José Adalbertovsky Ribeiro, periodista, escritor e quase poeta
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Milagre é efeito sem causa, dizem os manuais científicos. Existem os milagres de fé, os milagres relativos e os milagres tipo falsiê, ou milagres fake, no dizer atual. Atribui-se ao pecador Delfim Neto o milagre econômico brasileiro da década de 1970. Ele seria quase uma Santa Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus, uma Irmã Dulce.
Vou tentar resumir em poucas letras o milagre delfiniano em economia. Década de 1970, indústria automobilística em expansão, os petrodólares davam no meio da canela no mercado financeiro. “Vamos abrir a porta da esperança. Quem quer petrodólares?”, diriam os árabes no programa de Sílvio Santos. Poderoso ministro civil da Fazenda de 1967 a 1974, Delfim Neto pegou na palavra. Botou os bilhões de petrodólares no bolso e levou para o ministério.
Leia maisNaqueles tempos o País era muito carente de infraestrutura (ainda hoje é, em menor escala). Com a dinheirama de bilhões de petrodólares, foram construídas hidrelétricas, pontes, rodovias, saneamento básico. Entre as obras mais simbólicas temos a ponte Rio-Niterói (13 km), a hidrelétrica binacional de Itaipu, Usinas do Xingu, de Belo Monte, no Pará, pintou até uma grana para a SUDENE e para Suape. No período de 1968 a 1973 o PIB do País cresceu de 8 % até 14 %. Eis o milagre.
Com estas obras, a infraestrutura de Pindorama deu um salto olímpico. Na década de 1970 aconteceu também uma expressiva mobilidade social. Jovens de classe média e de classe média baixa, graduados na maioria em universidades públicas, eram logo absorvidos no mercado de trabalho. Chesf, SUDENE, Banco do Brasil, Petrobras abriam as portas para a juventude. A atual geração de 60, 70 e 80 anos comprova essa realidade.
As super obras de infraestrutura mudaram a face de Pindorama. Mas, existem sempre outras faces, a vida é um caleidoscópio. Os sem face do Norte e Nordeste continuaram no atraso. No campo político, jovens da ultraesquerda, inspirados no ideário da “revolução” de Cuba, então em voga, migraram para a clandestinidade e promoveram a luta armada contra o regime. O líder comunista Carlos Prestes era contra a aventura armada. Aconteceu a guerrilha do Araguaia, uma batalha suicida.
Sob a égide do aterrorizante AI-5, o governo desencadeou repressão feroz contra as esquerdas. Houve torturas, mortes, censura, cassações, o clima das ditaduras. Impossível ao exército de Branca Leone tupiniquim enfrentar as forças oficiais superaparelhadas.
Em 1973, no governo Geisel, em meio à revolução islâmica no Irã, guerras em Israel e no mundo árabe, pipocou a crise do petróleo. O preço do barril do óleo pulou de 2,90 para 11,65 dólares. A crise abalou as economias mundiais. O óleo negro chegou a valer 90 dólares o barril. Acabou-se o que era doce. O ex-ministro passou a ser chamado de gordinho sinistro.
Deste então este reino de Pindorama navega na mediocridade, recessão e corrupção. Santa Madre Paulina do Coração Agonizante do Brazil, rogai por nós!
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