PSD, escolha errada e precipitada
Há muito, a governadora Raquel Lyra andava insatisfeita com o PSDB, numa posição desconfortável. Tudo porque a legenda faz oposição ao Governo Lula, de quem se aproximou tão logo foi recebida com tapete vermelho no Palácio do Planalto e viu os cofres do Estado serem recheados de verbas federais.
Seu grande padrinho no Planalto é o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que já a convidou para se filiar ao PT. O ex-governador baiano tem conversado com ela para abrir um segundo palanque para Lula em Pernambuco nas eleições presidenciais do ano que vem, mesmo sabendo que o aliado preferido do presidente é o prefeito João Campos (PSB).
À procura de um partido integrante da base do Governo no Congresso, Raquel flertou primeiro com o PSD, que chegou a discutir uma fusão com o PSDB sem sucesso, porque os caciques tucanos acabaram preferindo o Podemos, já num processo de incorporação bastante avançado. Em seguida, a governadora bateu na porta do MDB, legenda que incorporaria o PSDB.
Leia maisEsbarrou nas dificuldades da província. Presidente estadual do MDB, o ex-deputado Raul Henry, agora secretário de Relações Institucionais da Prefeitura do Recife, disse que iria resistir a qualquer tentativa da ainda tucana de ingressar na legenda. Isso forçou a governadora a retomar as negociações com Kassab. Prosperaram, é verdade. Na próxima segunda-feira, num grande ato no Recife, ela assina a ficha de filiação ao partido abonada pelo próprio Kassab.
O PSD, entretanto, não vira uma militância confortável e definitiva para Raquel. Ontem, numa entrevista exclusiva a este colunista, publicada com exclusividade na edição impressa de hoje da Folha de Pernambuco, Kassab disse que o partido terá candidato próprio à Presidência da República, o que, de imediato, contraria o projeto da governadora. Ao ingressar na legenda, Raquel optou por ficar na base de Lula, evidentemente com o intuito de abrir um duplo palanque ao petista, já que o palanque número um será o de João, seu provável adversário.
Na mesma entrevista, Kassab citou dois nomes em potenciais que o PSD pode entrar na corrida presidencial: os governadores Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, respectivamente de São Paulo e do Paraná, alternativas fora do radar da governadora. Kassab diz que nas tratativas com Raquel a sucessão presidencial ficou de lado, o que, convenhamos, é uma forma de despistar. Afinal, tudo em 2026 passa pela sucessão de Lula.
Se o novo partido de Raquel terá candidato próprio ao Planalto, longe de contar com o apoio e a simpatia dela, certamente ela não terá feito a melhor escolha, isso levando em consideração seu desejo de apoiar a reeleição de Lula. A governadora entra numa legenda já sabendo de antemão que tende a abrir uma dissidência na eleição presidencial, caso Kassab banque Tarcísio ou Ratinho, para quem ela torce o nariz.
POSTURA CONTRADITÓRIA – Na entrevista exclusiva a este colunista, Gilberto Kassab foi contraditório. Elogiou a opção de Raquel por um partido da base de Lula, mas reforçou que o seu partido terá candidato próprio. “Se ela optou pelo PSD para ficar mais próxima do presidente Lula, acertou, porque o nosso partido, hoje, está na base do Governo e ocupa ministérios. Se ela optar por uma outra candidatura em 2026, como a de Lula, isso não será problema, porque existem casos assim em outros Estados”, afirmou. Segundo Kassab, a governadora, em nenhum momento, impôs alguma dificuldade em relação a 2026. “O que estamos comemorando, neste momento, é a filiação de uma governadora. Isso nos fortalece, fortalece o partido e, sendo do Nordeste, nos dá envergadura na região”, disse.

Carta branca – Kassab disse, ainda, que deu carta branca para Raquel e que, se ela vier a assumir a presidência do PSD no Estado, será honroso para ele e para o partido. “Mas isso eu deixei nas mãos de André de Paula. Ele vai se entender com a governadora e saber dela o que pensa sobre o assunto e qual o melhor caminho”, afirmou. Sobre o ato da próxima segunda-feira, Kassab disse que está com a expectativa de ser bastante prestigiado, inclusive por ministros do partido e lideranças de todas as regiões do País, principalmente do Nordeste. “Faremos um grande evento, do tamanho e da dimensão da governadora”, destacou.
Aposta de Kassab – O presidente nacional do PSD disse, por fim, que a governadora Raquel Lyra é uma grande aposta da legenda para sua reeleição em 2026. “Ela passou por alguns momentos de dificuldades, mas já vi pesquisas que está melhorando. Como em Pernambuco a eleição será polarizada com o prefeito João Campos (PSB), acho que isso vai favorecer ela”, disse, apostando no crescimento de Raquel nas pesquisas na medida em que o povo pernambucano passar a ter, segundo ele, a exata compreensão do governo da nova aliada.
Ratinho, pré-candidato, no ato de filiação – Além de Gilberto Kassab e lideranças do partido no Nordeste, outras autoridades devem comparecer ao ato de filiação da governadora Raquel Lyra, na próxima segunda-feira, no Recife. Estão confirmados o governador do Paraná, Ratinho Júnior, citado por Kassab como um dos nomes ao Planalto, e o ex-governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto. A presença de aliados do governo federal na cerimônia reforça a intenção da governadora de estreitar ainda mais os laços com o presidente Lula. Nos últimos meses, Lyra tem intensificado a articulação em Brasília, fortalecendo sua relação com o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), a quem considera um amigo. Em Pernambuco, o PT está dividido: enquanto a ala estadual apoia Raquel Lyra, o diretório municipal mantém aliança com o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Fundo eleitoral e tempo de TV mais robustos – Embora tenha se tornado a legenda com mais prefeituras em Pernambuco (32 no total), o PSDB, o agora ex-partido de Raquel, enfrenta dificuldades em nível federal. No PSD, a governadora terá acesso ampliado a recursos partidários, o que é considerado estratégico para sua candidatura à reeleição em 2026. Outro fator relevante é o tempo de propaganda eleitoral. Com 42 deputados federais e a maior quantidade de prefeituras do País, o PSD oferecerá a Raquel Lyra um tempo de televisão significativamente maior.
CURTAS
APELIDO – “JJ”. É assim que a primeira-dama Janja Silva, que se chama Rosangela, é chamada no Palácio do Planalto. O apelido é usado não só por assistentes diretos de Janja e do próprio presidente Lula, como está na boca de praticamente todos os funcionários do Palácio e até de alguns ministros. Ninguém, porém, costuma se dirigir à primeira-dama como “JJ”.
GASTANÇA – O Tribunal de Justiça da Paraíba vai gastar R$ 234 milhões com o pagamento da chamada “indenização por acúmulo de acervo” a juízes da ativa e aposentados. O termo é usado para definir o pagamento extra a juízes que assumem processos deixados por outros magistrados por aposentadoria, falecimento ou vacância. A decisão do tribunal foi tomada depois de uma ação da AMPB (Associação dos Magistrados da Paraíba) entrar com ação pedindo que o pagamento fosse retroativo.
CRIME – Um ex-vereador de Tupanatinga, no Agreste, foi flagrado por uma câmera de segurança atirando contra uma mulher dentro de um motel localizado às margens da BR-424, em Garanhuns. O crime aconteceu na madrugada de ontem, e o autor dos disparos foi identificado como Luciano de Souza Cavalcanti, de 60 anos.
Perguntar não ofende: E se o PSD lançar Tarcísio Freitas para presidente, Raquel larga o partido ou abre dissidência?
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