A guerra do Brazil contra o Brazil

Por José Adalbertovsky Ribeiro*

O meu Brazil é com Z porque eu nasci no tempo do Império. Dizem que o S entre duas vogais tem o som de Z. Eu vou direito no Z. Sou um libertário das regras gramaticais.

MONTANHAS DA JAQUEIRA –  Todas as guerras são iguais, porém diferentes. Existem guerras entre nações e guerras de nações contra si mesmas. A Rússia está em guerra contra a Ucrânia. O Brazil está em guerra contra o Brazil. O serviço de meteorologia prevê rajadas de metralhadoras, tempestades de calibre 9 milímetros e tiros de misericórdia nos peitos, nas cabeças e nos cérebros do Brazil. O sangue escorre nas veias, nas ruas e nos ares. Na guerra do Brazil contra o Brazil todos são soldados, soldados dos batalhões e soldados na batalha diária pela sobrevivência.

O governadorzinho de um grande Estado confessou estar “extremamente satisfeito” com a operação policial que resultou no extermínio de um policial das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar e 16 moradores na cidade de Guarujá. Uma curiosidade: o nome das tropas das tropas de choque é uma homenagem ao militar e político Rafael Tobias de Aguiar, vivente no século 19, marido da virtuosa senhora Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, amante do Imperador Dão Pedro I. Domitila era uma lady extremamente amorosa. Tobias Aguiar era um marido extremamente manso. Os soldados da Rota são extremamente ferozes.

As chacinas se repetem com dezenas de mortos no Rio de Janeiro e na Bahia. O massacre do Carandiru, em 1992, que resultou na execução de mais de 100 detentos, fez escola.

Em Moscow o czar Vladimir Putin ficou extremamente satisfeito quando um míssil russo explodiu num prédio residencial em Kiev e estourou os miolos de dezenas de ucranianos. Os senhores das armas e das guerras, em Guarujá, em Moscow e Washington e na Síria são filhos de Caim. Russos e ucranianos são irmãos das raízes soviéticas, assim feito Caim e Abel eram irmãos. 

A guerra começou nos tempos primevos quando Caim lançou uma bomba atômica no peita de Abel. E nunca mais houve paz no seio da humanidade adâmica. Caim soprou no ouvido do cientista Oppenheimer a fórmula da fissão nuclear (bombardeio dos átomo para gerar energia) e assim foi construída a bomba atômica. Elvis vive! Caim vive! Oppenheimer vive!

O massacre de Carandiru, a operação em Guarujá, a chacina em Jacarezinho e tantas outras foram feitas em nome da lei e da ordem. No passado o extermínio dos índios aconteceu em nome do avanço da civilização. As torcidas organizadas agridem, depredam e vandalizam em nome da paixão pelo futebol. O nome disto é barbárie. Os novos bárbaros se arvoram de civilizados porque nasceram depois da descoberta da pólvora e assistem televisão. Haverá novas chacinas, está escrito no sangue dos herdeiros da escravidão.

A multidão é manada e Matrix comanda os corações: vistam-se todos de cor-de-rosa, consumam pipocas de isopor e assistam ao filme da Barbie. Na próxima temporada todíssimos os femininos, masculinos e neutrinos irão obedecer ao comando para comer capim. Be happy! E sejam felizes! A multidão solitária que navega na onda da Barbie é a mesma multidão anestesiada que se comporta como manada e elege nossos governantes. Não venham reclamar de voto de cabresto.

*Periodista, escritor e quase poeta

Gustavo, Fabrizio e Duque no PSDB

O caminho partidário natural dos deputados Luciano Duque, Gustavo Gouveia e Fabrizio Ferraz, eleitos pelo Solidariedade, é desembocar no PSDB, da governadora Raquel Lyra, a quem passaram a se aliar, reforçando a base de sustentação do Governo na Assembleia Legislativa.

O quarto deputado eleito pelo SD, o ex-prefeito do Cabo, Lula Cabral, diz que da parte dele não há nenhum acordo para compor a base do Governo. É provável que espere uma conversa com a governadora ou se mantenha fiel ao grupo da presidente estadual do Solidariedade, Marília Arraes.

O fato é que não há mais condições dos três parlamentares permanecerem no SD, depois que aderiram ao Governo sem o menor diálogo com a direção estadual, especialmente Luciano Duque, líder na Assembleia, que fez o comunicado na rádio Folha, sem falar antes com Marília.

Isso criou um clima muito ruim dentro do partido, o que obriga Duque e os demais a saírem da legenda. Como a legislação proíbe mudança de partido para quem ocupa mandato eletivo, Duque, Fabrizio e Gustavo terão que entrar num entendimento com Marília para não serem cassados.

A saída é a presidente estadual assinar uma carta de anuência, conforme o PSB fez com o deputado estadual Jarbas Filho, que debandou de volta para o MDB antes mesmo de completar um ano no exercício do mandato na Alepe eleito pela legenda socialista. Se Marília não der anuência, o trio terá que permanecer no Solidariedade num ambiente nada agradável, já que a linha do partido e a orientação da sua direção é de oposição ao Governo Raquel Lyra.

Rabo de cavalo – A alternativa PSDB não é a melhor em termos de futuro partidário para os deputados rebeldes do Solidariedade. Crescendo feito rabo de cavalo, ou seja, para baixo, a legenda tucana pode perder a sala de liderança do partido no Senado se não conseguir filiar ao menos mais um nome até 22 de setembro. Tudo porque o regimento interno da Casa Alta cita a necessidade de a sigla ter, pelo menos, três senadores para contar com o espaço. Atualmente, a legenda só tem dois: Izalci Lucas (DF) e Plínio Valério (AM). Os tucanos contam com um gabinete de liderança no Senado desde 1988, ano da Constituinte, e ocupam um dos melhores gabinetes há anos.

Diálogo de mudos – Dos quatro deputados do Solidariedade, Lula Cabral tem sido o único a falar grosso, com coerência e transparência nesse jogo de adesão ao Governo. “Não posso falar nada do que não sei, do que não houve e do que não estou a par em absolutamente nada”, disse Cabral, referindo-se ao anúncio do líder Luciano Duque, incluindo o seu nome entre os que iriam aderir à gestão de Raquel.

Convocação – O ministro da Educação, Camilo Santana, poderá ter de ir à Câmara dos Deputados explicar o bloqueio temporário de R$ 332 milhões que o orçamento do MEC sofrerá por decisão do presidente Lula. Na sexta-feira passada, o deputado bolsonarista Capitão Alberto Neto (PL-AM) protocolou um requerimento para que Santana seja convocado a esclarecer o bloqueio na Comissão de Educação da Casa. A área do MEC mais atingida será a educação básica, cujo bloqueio no orçamento previsto chega a R$ 201 milhões.

Queda de receitas – Os Estados e cidades tiveram saldo positivo de R$ 25,3 bilhões nas contas públicas do primeiro semestre de 2023. O valor é 64,1% inferior ao registrado em 2022. O resultado primário das cidades caiu quase 90% no período. A queda do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) por causa da desoneração dos combustíveis é uma das principais razões para o resultado do 1º semestre de 2023.

O novo Marco Maciel – Confirmado pelo ministro da Articulação, Alexandre Padilha, provavelmente na pasta de Esporte, o deputado pernambucano Silvio Costa Filho (Republicanos) alcança voo de águia bem antes do que imaginava na cena nacional. Tudo por mérito próprio. Silvinho, como é mais conhecido, é o novo Marco Maciel: habilidoso, apagador de incêndios, articulado e extremamente educado. Sabe engolir sapo e abrir diálogo, tudo isso com voz mansa e poder de sedução.

CURTAS

PIOR DA SÉRIE – A soma dos resultados de Estados e municípios teve superávit de só R$ 130 milhões nos primeiros seis meses de 1998, o pior ano da série. No período, foi registrado também o pior resultado da série histórica para os Estados. Tiveram saldo negativo de R$ 1,26 bilhão.

NOS ESTADOS – Os governos das cidades tiveram o pior resultado em 2020, quando registraram superávit de R$ 50,2 milhões. Foi o primeiro ano da pandemia de covid-19. Somados, nunca registraram saldo negativo. “O problema é mais localizado em Estados. No primeiro ano do atual mandato dos governadores, eles deveriam estar começando a gerar poupança”, disse o economista José Roberto Afonso, professor do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), em entrevista ao Poder360.

Perguntar não ofende: Quando Lula anuncia a minirreforma ?