O outro lado dos Estados Unidos que não apoia Jair Bolsonaro
Por Larissa Rodrigues – Repórter do blog
As atitudes do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump (Republicano), contra o Brasil, em protesto pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, podem levar a crer que toda aquela nação apoia medidas como as tarifas, por exemplo, e que a população em geral estadunidense acredita na narrativa bolsonarista de perseguição.
Entretanto, uma carta de deputados do partido Democrata foi publicada na noite da última quinta-feira (11), após o fim do julgamento de Jair Bolsonaro e de mais sete aliados no Supremo Tribunal Federal (STF).
Leia maisNo texto, os parlamentares acusam Donald Trump de usar a guerra comercial contra o Brasil para proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chamam de “seu colega golpista”. A carta é assinada pelos deputados Gregory W. Meeks, membro sênior do Comitê de Relações Exteriores da Câmara; Joaquin Castro, membro sênior do Subcomitê do Hemisfério Ocidental; e Sydney Kamlager-Dove, copresidente da Bancada Brasileira.
Politicamente, o gesto dos deputados norte-americanos é uma ducha de água fria no discurso dos aliados de Bolsonaro, inclusive do próprio filho dele, Eduardo Bolsonaro (PL), que está nos EUA em busca de sanções contra o Brasil como retaliação ao julgamento do pai.
Fica claro que nem todo mundo nos Estados Unidos caiu na falsa narrativa de que Jair Bolsonaro sofre perseguição política em solo brasileiro. Tampouco todos os norte-americanos acreditam nas abobrinhas que os aliados do ex-presidente gostam de repetir, de que o Brasil vive um estado de exceção ou ditadura.
Os deputados são de oposição a Donald Trump e afirmaram que o país deveria “apoiar o povo brasileiro enquanto este começa a superar essa ameaça à sua democracia”. “Esse caminho, no entanto, foi prejudicado pelos esforços do governo Trump para interferir nas instituições democráticas brasileiras, tendo imposto uma tarifa ilegal de 50% ao país para manipular esse processo judicial”, enfatizaram.
A carta dos Democratas desmascara a estratégia bolsonarista, que tenta passar uma imagem à militância brasileira de apoio total dos Estados Unidos a Jair Bolsonaro, inclusive com o uso da força. Eduardo Bolsonaro, inclusive, chegou a dizer esta semana ao site Metrópoles que os EUA podem enviar “caças F-35 e navios de guerra” para o Brasil, ignorando completamente que, mesmo sob Donald Trump, naquele país há forças divergentes das atitudes do presidente republicano.
Além de mostrar que uma parte da política norte-americana não comprou a narrativa do ex-presidente, a carta demonstra a fragilidade do apoio estadunidense a Bolsonaro, restrito apenas ao tempo que durar o governo Trump.
Famílias americanas prejudicadas – O texto dos parlamentares Democratas alerta para os prejuízos das ações de Trump contra o Brasil também para os norte-americanos. “O fato de Trump ter travado uma guerra comercial para defender seu colega golpista não só rompeu as relações EUA-Brasil, como também foi feito às custas das famílias americanas impactadas pelo que são, na prática, impostos”, diz a carta.

EUA perdem e China ganha – Os parlamentares manifestaram preocupação com a aproximação do Brasil com a China, graças às sanções de Trump. “Os interesses econômicos e de segurança nacional dos Estados Unidos sofreram danos colaterais, à medida que o Brasil exporta cada vez mais seus produtos para a China em detrimento dos Estados Unidos”, alerta a mensagem. O texto se encerra pedindo ao presidente americano que “ponha fim às tarifas ilegais”. “Apelamos a Trump para que encerre imediatamente seus esforços para minar a democracia brasileira e ponha fim a essas tarifas ilegais que impactam a economia americana. Só então poderemos trabalhar para reconstruir esta parceria crucial.”
Contra a anistia – A equipe de articulação política do governo Lula (PT) está trabalhando para evitar que a anistia aos condenados por atos golpistas, que pode beneficiar Jair Bolsonaro, avance na Câmara. A meta principal do Palácio do Planalto é que nem a urgência, instrumento que acelera a votação do projeto, seja pautada. Os governistas, no entanto, admitem o cenário em que a pressão do bolsonarismo e de parte do Centrão possa fazer com que a medida seja colocada em votação e, pensando nisso, há ameaça de retirada de cargos daqueles que votarem a favor.
Articulação no STF – Os aliados de Bolsonaro articulam, além do projeto de anistia no Congresso, a abertura de diálogo com ministros do STF em busca de sinais de receptividade a uma eventual lei que possa beneficiar tanto o ex-presidente quanto os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. O movimento é conduzido por integrantes da cúpula do PL, a exemplo do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da bancada do partido na Câmara.

Alckmin faz reconhecimento público ao STF – O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou ontem (12) que o Brasil deve “reconhecimento” ao STF após a Corte ter condenado Jair Bolsonaro na ação do plano de golpe de Estado. “Entendo que o Brasil deve um reconhecimento justo e necessário à Polícia Federal, à PGR e ao STF pelo cumprimento exemplar da sua missão de defender as liberdades, defendendo a democracia”, disse Alckmin ao ser questionado sobre o julgamento.
CURTAS
João Campos bota pé na estrada – O prefeito do Recife, João Campos (PSB), bota o pé na estrada neste fim de semana. Vai para a Missa do Vaqueiro de Canhotinho, no Agreste. O evento chega à sua 23ª edição, hoje e amanhã, prometendo reafirmar o caráter de “acontecimento político” que tem sido observado nos últimos anos.
Silvinho e Miguel também vão – A mais importante manifestação cultural e religiosa do Agreste Meridional, a Missa do Vaqueiro de Canhotinho, vai receber também o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (RP), e o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (UB), ambos citados como possíveis concorrentes ao Senado na chapa de João Campos.
Álvaro recebe todos – Os três, assim como as demais autoridades convidadas para o evento em Canhotinho, serão recebidos pelo presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), deputado Álvaro Porto (PSDB), pela prefeita de Canhotinho, Sandra Paes (RP), e pelo pré-candidato a deputado federal Gabriel Porto (PSDB), filho de Álvaro.
Perguntar não ofende: Vai adiantar os bolsonaristas conversarem com ministros do STF sobre anistia?
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