No artigo, intitulado “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”, o economista americano diz que a nova lei americana “abre caminho para futuras fraudes e crises financeiras”.
Além disso, os EUA também aprovaram uma lei que impede as autoridades americanas de criarem uma moeda digital do banco central (Central bank digital currency, ou CBDC). Essas moedas são inspiradas nas criptomoedas como os bitcoins, mas com uma diferença fundamental: sua emissão é centralizada pelo Banco Central, ao contrário das bitcoins, cuja emissão é descentralizada.
O economista americano diz que os parlamentares republicanos — grandes adversários das moedas digitais de bancos centrais — alegam preocupações com privacidade para barrar a iniciativa, mas que sua verdadeira preocupação é que muitas pessoas optariam por ter moedas digitais do banco central, em vez de contas correntes em bancos privados.
“Mas e quanto à possibilidade de criar uma CBDC parcial? Poderíamos manter contas bancárias privadas, mas fornecer um sistema eficiente e público para fazer pagamentos a partir dessas contas?”, questiona Krugman
“Sim, poderíamos. Sabemos disso porque o Brasil já o fez.”
Existe no Banco Central brasileiro um estudo para criação de uma moeda digital que possa servir de alternativa ao real em papel e moeda, coexistindo com ele.
Analistas dizem que um dos primeiros passos em direção a esse “real digital” seria o cadastramento da população no PIX.
“A maioria das pessoas provavelmente não considera o Brasil um líder em inovação financeira. Mas a economia política do Brasil é claramente muito diferente da nossa — por exemplo, eles realmente julgam ex-presidentes que tentam anular eleições”, escreve Krugman.
“O Brasil, de fato, planeja criar uma CBDC. Como primeiro passo, em 2020, o país lançou o PIX, um sistema de pagamento digital administrado pelo Banco Central.”
Krugman escreve que “pelo que entendi, o PIX é uma espécie de versão pública do Zelle, o sistema de pagamento operado por um consórcio de bancos privados americanos”.
“Mas o PIX é muito mais fácil de usar. E, embora o Zelle seja grande, o PIX se tornou simplesmente enorme, sendo usado por 93% dos adultos brasileiros. Parece estar rapidamente substituindo dinheiro em espécie e cartões”, diz.
O Prêmio Nobel de Economia elogia o PIX por ser quase instantâneo e por ter custos de transação baixos.
E diz que o sistema brasileiro de pagamentos está “conseguindo de fato o que os defensores de criptomoedas alegaram, falsamente, ser capaz de se alcançar por meio do blockchain — baixos custos de transação e inclusão financeira.”
“Compare os 93% de brasileiros que usam o PIX com os 2%, isso mesmo, 2% de americanos que usaram criptomoedas para comprar algo ou fazer um pagamento em 2024”, diz o economista.
“Ah, e usar o PIX não cria incentivo para sequestrar pessoas e torturá-las até que entreguem suas chaves de criptografia. Então, teremos um sistema semelhante ao PIX nos Estados Unidos? Não. Ou pelo menos não por muito tempo.”
Krugman afirma que a indústria financeira americana é poderosa demais para permitir a criação de uma moeda digital de banco central no país, e que os republicanos não confiam em uma iniciativa pública no lugar de uma tecnologia privada.
“Outras nações podem aprender com o sucesso do Brasil no desenvolvimento de um sistema de pagamento digital. Mas os EUA provavelmente permanecerão presos a uma combinação de interesses pessoais e fantasias cripto”, conclui.
Recentemente Krugman fez fortes críticas ao aumento de tarifas anunciadas pelo presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil. Ele disse que essas tarifas representam um “programa de proteção a ditadores”.
Segundo o especialista, nos EUA, a última cartada de Trump “marca um novo rumo” das políticas tarifárias, que ele classifica de “demoníacas e megalomaníacas”.
Krugman entende que o presidente dos EUA “nem sequer disfarça que exista uma justificativa econômica para sua decisão”.
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