MONTANHAS DA JAQUEIRA — Senhores e senhoras, caldeirões e caçarolas — todos estão lembrados de quando, nas dobras de janeiro, ao receber convite para participar da posse de Donald Trump, Bolsonaro recebeu um não taxativo para viajar até Washington. Bolsonaro implorou, mas levou novo fora — a menos que quisesse viajar no lombo de burro ou de cavalo para economizar combustível. Desistiu. Preferiu economizar capim.
Também estão lembrados de quando Lady Janga, a finesse em pessoa, desafiou Elon Musk para uma briga de foice e mandou que ele roçasse as ostras. Mandou bloquear o perfil dele, que falava mal do chefão. Multas de $28,6 milhões para o X de Musk, mais multas de $8 milhões, mais multas diárias de $15 mil, mais $5 mil para fulano Beltran. Assim foi criado, alimentado e anabolizado o boi de fogo entre o governo do Brasil e o governo dos EUA.
O secretário Marco Rubio cantou a pedra há mais ou menos dois meses. Trump não é um bananão esquerdejoso feito Biden. E mais: Eduardo Bolsonaro estava lá, botando lenha na fogueira. O cara sabe trabalhar.
A mídia nacional está enfocando, em primeiro plano, o conteúdo e a repercussão econômica das medidas de Trump contra o governo do Brasil. Este é o dado mais relevante, sem dúvida. Deve-se ressaltar que, no caso do Brasil, o fator gerador foi motivação ideológica e política.
Em primoroso artigo na sexta-feira passada (11/07) no blog de Magno Martins, o jornalista Tonico Magalhães relembra episódios mais ou menos recentes de supostas interferências dos ianques na política brasileira, vistas com bons olhos verdes pela caterva vermelha.
PLANO COHEN — Foi divulgado, no governo Vargas, em 1937, um suposto golpe de Estado chamado Plano Cohen, atribuído aos comunistas, com o objetivo de matar autoridades e implantar um regime ditatorial de esquerda. Na realidade, o plano nunca existiu; a divulgação serviu apenas para o governo prender e reprimir opositores.
A Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, por meio da Secretaria de Assistência Social, lançou a ação “Cabo Bem Cuidado” para reforçar o acompanhamento de famílias em situação de vulnerabilidade cadastradas no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). O programa prevê visitas domiciliares e escuta ativa, com planejamento individualizado para mapear e atender as demandas específicas de cada núcleo familiar.
O conjunto de benefícios inclui a entrega de cestas básicas, auxílio-natalidade e auxílio-moradia, entre outros. A iniciativa também visa aperfeiçoar critérios de seleção, garantindo foco em pessoas com deficiência, mães solo e demais grupos em maior risco social, e evitando a dispersão de recursos.
“Nosso pessoal técnico está preparado para fazer um trabalho completo e eficiente através de visitas domiciliares, escuta ativa, planejamento individualizado e concessão de benefícios. Nosso compromisso é responder efetivamente às necessidades reais das famílias cabenses que mais precisam do poder público”, afirmou o prefeito Lula Cabral.
Há 112 anos, saia do Porto do Rio de Janeiro o navio que levaria o poeta pernambucano Manuel Bandeira à cidade montanhosa de Davos, (Suíça), para uma temporada de tratamento contra a tuberculose. O ar, o clima, a paisagem alpina, onde poderia se curtir o visual de cair o queixo, eram tidos milagrosos para quem sofria dessa doença. Foi talvez o período mais difícil na vida do jovem poeta, celebrado como um dos mais representativos do movimento modernista de 1922. Seu poema Os Sapos foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna, uma sátira ao movimento Parnasiano.
No mesmo período em que Bandeira fora internado no sanatório Schatzalp, o ambiente era frequentado pelo Nobel da Literatura, Thomas Mann, em visita à sua esposa, Katharina Hedwig Mann, internada desde 1913 “para cura de uma tuberculose”, segundo um dos seus biógrafos. (Na verdade, foi acometida de uma exaustão física e mental, causada por estresse prolongado e excessivo, era além de esposa secretária do escritor).
Foi nesse local que o marido buscara inspiração para escrever o clássico A Montanha Mágica, traduzido em numerosos idiomas. Foi no Schatzalp “sem a menor esperança de sobreviver”, conforme Manuel Bandeira confessara posteriormente no poema Pneumotórax, (do livro Libertinagem), onde o poeta da Rua da União (Recife) se tornaria amigo de Paul Éluard, também internado. (Éluard ficou conhecido como um dos expoentes do movimento de vanguarda Dadaísmo).
Juntos, ele e Bandeira liam poemas de Gerard de Nerval, Baudelaire e Apollinaire. Nesse ambiente, creio que Manuel Bandeira teria como se aproximar de Thomas Mann sabendo que a mãe dele era brasileira de Paraty, a senhora Júlia da Silva Mann. (No livro de Teolinda Gersão, a autora portuguesa, minha cara amiga, conta a saga da brasileira em solo alemão).
Se não houve um encontro entre os dois escritores, cabe a um bom ficcionista “inventar” esse prodigioso acontecer. Tão em uso nas biografias romanceadas, como as que guardo como referências: a biografia de Lou-Andreas Salomé, escrita pela pernambucana de Garanhuns, Luzilá Gonçalves Ferreira, e a de Frida Kahlo, feita pela mexicana Rauda Jamis, ambas baseadas em boas fontes de documentação.
O escritor pernambucano Vamireh Chacon, autor do livro Thomas Mann e o Brasil, se tornaria amigo da viúva de Thomas Mann, a senhora Katharina Hedwig Mann, a entrevistou. Lembro, além de Chacon, os pioneiros escritos, no Recife, sobre a obra de Thomas Mann: Gilberto Freyre, Luiz Costa Lima, César Leal, João Alexandre Barbosa, José Rodrigues de Paiva, Ormindo Pires Filho, Janilto Andrade. Paulo Gustavo, Paulo Fernando Craveiro, Gilberto e o escritor gaúcho Érico Veríssimo, muito se empenharam para realizar a vontade de Thomas Mann de conhecer a sua “casa mater”, em Paraty (RJ), o que infelizmente não aconteceu.
Não são apenas os levantamentos do Palácio do Planalto que têm mostrado melhora na popularidade de Lula após o governo abraçar o discurso de “ricos contra pobres” e reagir ao tarifaço de Trump. As pesquisas eleitorais estaduais que têm chegado ao PL, partido de Jair Bolsonaro, também mostram o presidente crescendo cerca de dois pontos percentuais no último mês.
Para não criar pânico no partido, a leitura que vem sendo feita é que o movimento de crescimento não deve passar muito desses números.
No PL, no entanto, os reflexos do quanto o tarifaço de Trump pode recair sobre Jair Bolsonaro e seus aliados ainda são uma incógnita e despertam preocupação.
A atividade econômica brasileira recuou 0,74% em maio, mostram dados divulgados hoje pelo IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), indicador do BC (Banco Central) conhecido por antecipar o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto). As informações são do UOL.
Como foi o IBC-Br
Economia nacional encolheu 0,7% no mês de maio. A oscilação positiva leva a prévia do PIB aos 108,9 pontos na série dessazonalizada (livre de influências). O patamar interrompe a série de recordes consecutivos das últimas edições do IBC-Br, indicador divulgado desde janeiro de 2003.
Agropecuária guia desempenho negativo no mês. Com queda de 4,2%, o segmento foi acompanhado pela perda de força da indústria (-0,5%). Já o setor de serviços, aquele de maior peso na economia nacional, permaneceu estável e foi o único que permanece no maior patamar da série histórica.
Todas as comparações permanecem positivas. Segundo o IBC-Br, o nível da atividade econômica em abril subiu 3,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado em 12 meses, a alta totaliza 4%. No acumulado dos primeiros cinco meses de 2025, a variação positiva é de 3,4%.
O que é o IBC-Br Indicador é calculado a partir de uma base similar à do IBGE. Com divulgações mensais, a coleta de dados do Banco Central é classificada como a “prévia do PIB” por antecipar o andamento da atividade econômica. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apresenta os dados sobre o desempenho da economia somente a cada período de três meses.
Resultado do primeiro trimestre teve diferença de 0,1 ponto percentual. Os dados oficiais mostram que o PIB brasileiro avançou 1,4% entre os meses de janeiro e março. No IBC-Br, foi contabilizada uma alta de 1,3% da atividade econômica no mesmo intervalo.
João Vicente Goulart, filósofo e presidente da Fundação João Goulart, sediada em Brasília, é o convidado de amanhã do meu podcast em parceria com a Folha de Pernambuco, o ‘Direto de Brasília’. Filho do ex-presidente João Goulart, ele tem dedicado grande parte de sua vida a resgatar a memória do pai — autor do livro Jango e eu: Memórias de um exílio sem volta — e agora traz à entrevista novas evidências de que Jango pode ter sido vítima de envenenamento, e não apenas de um ataque cardíaco, em 6 de dezembro de 1976.
Em depoimento à Comissão da Verdade Vladimir Herzog, João Vicente apresentou documentos que apontam reuniões secretas entre agentes americanos e autoridades brasileiras para planejar a eliminação de seu pai, além do relato do agente uruguaio Mario Leira Barreiro, que testemunhou esses encontros. A família já pediu a exumação dos restos mortais de Jango, a oitiva de agentes dos EUA e o acesso a arquivos do Departamento de Estado norte-americano, em busca de provas que confirmem essa versão.
Ao longo de sua trajetória política, João Vicente foi deputado estadual pelo Rio Grande do Sul (1983–1987) pelo PDT. Passou também pelo PGT e pelo PPL, chegando a concorrer à Presidência da República em 2018 como candidato do PPL. Desde 2019, é filiado ao PCdoB e atua como dirigente da legenda no Distrito Federal.
O podcast vai ao ar das 18h às 19h, com transmissão pelo YouTube da Folha e do meu blog, e alcance em cerca de 165 emissoras de rádio no Nordeste. São parceiros do programa a Gazeta News (Grupo Collor/AL); a Rede Mais Rádios (25 emissoras na PB); a Mais-TV, do mesmo grupo (sob a apresentação de Heron Cid); e a Rede ANC (mais de 50 estações no CE). Também apoiam o projeto o Grupo Ferreira de Santa Cruz do Capibaribe, a Autoviação Progresso, o Grupo Antonio Ferreira Souza, a Água Santa Joana e a Faculdade Vale do Pajeú.
Desde abril, Petrolina conta com o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), gerido pela Secretaria de Segurança Pública e pela Autarquia Municipal de Mobilidade (AMMPLA). Reequipado e modernizado, o espaço funciona 24 horas por dia e centraliza operações de segurança urbana e gestão de trânsito, unificando monitoramento de ruas e coordenação de equipes em um único hub.
Com 100 câmeras instaladas em pontos estratégicos, o CICC realiza videomonitoramento em tempo real, permitindo respostas mais ágeis a crimes e acidentes. Cinco servidores acompanham as imagens e dados operacionais, mapeando áreas de maior incidência de ocorrências, identificando congestionamentos e orientando ações da engenharia de tráfego. A tecnologia também viabiliza o acionamento imediato das equipes de fiscalização e atendimento em situações emergenciais, com impacto direto na fluidez do tráfego e na prevenção de incidentes.
Navegar pelas 300 páginas do Projeto de Lei nº 04, de 2025, em tramitação no Senado, é algo estimulante. O PL foi elaborado por comissão de juristas instituída pelo Senado para revisar o Código Civil (Lei 10.406/2002). A comissão foi presidida pelo ministro do STJ Luís Felipe Salomão e teve como relatores gerais Rosa Maria Nery e Flávio Tartuce.
O PL está aguardando despacho do presidente do Senado para definir se vai tramitar como projeto de lei ordinária ou como projeto de código. Está a um longo caminho de virar lei. Até porque, quando chegar na Câmara, vai sofrer alterações que o remeterão de volta para nova tramitação no Senado.
O PL atualiza nosso Código Civil numa quadra de grandes alterações tecnológicas, comportamentais e econômicas. Traz grandes avanços. A direção geral do texto é a tentativa de destravar a vida das pessoas e dos negócios. Busca uma harmonização com marcos legais como LGPD, ECA, Estatuto do Idoso e decisões do STF. Fortalece a coerência do ordenamento jurídico e sua aderência ao constitucionalismo contemporâneo. Mas seria ingênuo supor que o Congresso Nacional não vai modificar o texto da comissão de juristas.
Muitas deformações poderão ser introduzidas. O atual CN parece mais interessado em sua autorreprodução e tem andado de costas para os interesses da maioria do povo. Ainda bem que o tema deve ficar para o próximo. Problema é a qualidade do próximo. Ademais, o PL tem sido criticado por especialistas que apontam alguns riscos de insegurança jurídica que decorreriam do excessivo recurso a conceitos vagos que causariam muita judicialização.
Por isso, pode ser mais viável examinar em separado algumas das inovações do PL. Em um país tão dividido, poderíamos identificar alguns temas específicos com mais chances de apoio transversal. Nas eleições de 2026 poderiam surgir candidaturas de diferentes partidos que adotassem algumas propostas. Embriões de bancadas com candidaturas comprometidas com certos temas. Difícil, não é? Mas em alguns temas concretos podemos tentar alguns consensos parciais.
Como na questão das inovações tecnológicas e da internet. O PL acrescenta ao CC um livro específico sobre direito digital. Definem-se os direitos das pessoas físicas e jurídicas no ambiente digital. Os direitos patrimoniais puros se transmitem aos herdeiros. Ao contrário dos direitos personalíssimos. Os bens digitais do falecido, de valor economicamente apreciável, integram a sua herança. Portanto, transmitem-se aos herdeiros senhas, dados financeiros, perfis de redes sociais, contas, arquivos de conversas, vídeos e fotos, arquivos de outra natureza, pontuação em programas de recompensa ou incentivo e qualquer conteúdo de natureza econômica, armazenado ou acumulado em ambiente virtual.
Já os direitos da personalidade, tais como privacidade, intimidade, imagem, nome, honra e dados pessoais, inclusive mensagens privadas, são protegidos por leis específicas. O PL também define regras sobre a exclusão de conteúdo, a responsabilização das plataformas digitais e o controle de conteúdos ilícitos. Com alguns conceitos que acabam de ser incorporados pelo STF no Tema 987 sobre o Marco Civil da Internet.
No direito de família, o PL confere proteção jurídica à definição ampliada de família, formada por vínculos conjugais e não conjugais nas seguintes modalidades: i) casais que tenham convívio estável, contínuo, duradouro e público; ii) famílias formadas por mães ou pais solos; e iii) grupos que vivam sob o mesmo teto e possuam responsabilidades familiares. O PL reconhece a união homoafetiva, assegurando à população gay o direito à união civil que antes ocorria apenas na jurisprudência.
Tanto a sociedade conjugal (a tradicional, entre cônjuges) quanto a sociedade convivencial (a união afetiva, que passaria a se dar entre conviventes) podem ser homoafetivas.
No tema do direito empresarial, o PL visa destravar negócios. Amplia a liberdade para grandes negócios. O PL também inova ao estabelecer uma nova relação jurídica para os animais. Eles serão reconhecidos juridicamente como seres sencientes e capazes de ter sentimentos e direitos. Protegidos pelo vínculo afetivo. Supera-se o tradicional tratamento dos animais como bens móveis.
É impossível imaginar uma coalizão de candidaturas que se comprometam com inovações na área da regulamentação das plataformas a fim de harmonizar a liberdade de expressão/informação com outros direitos fundamentais? Ou com algumas inovações no direito empresarial para melhorar o ambiente de negócios?
Ou no enfrentamento do preconceito contra a comunidades LGBTQIA+ ou afrodescendentes? Ou para ampliar o conceito de família? Esse o desafio que está posto. Mais do que um novo código, podemos introduzir conceitos que integram o texto do PL 04/202. Pode-se forjar uma coalização em defesa desses avanços. Ainda que os atores pertençam a campos ideológicos distintos.
*Advogado, professor de Direito Constitucional da Unicap, PhD pela Universidade Oxford
O recente alerta do Tribunal de Contas de Pernambuco ao prefeito de Gravatá, Joselito Gomes, por, supostamente, usar o São João para promover a imagem da primeira-dama Viviane Facundes, que cantou ao lado de Wesley Safadão e João Gomes, não bastou para frear ações semelhantes em outras cidades — gestores seguem tratando festas financiadas com recursos públicos como vitrines privadas.
Em Araripina, o humorista Tirulipa, contratado como apresentador de uma das noites do São João, protagonizou o momento mais comentado do festejo ao beijar a boca do prefeito Evilásio Mateus no palco. O espaço ocupado por Tirulipa, que costuma apresentar eventos de projeção nacional, como as lives do cantor Wesley Safadão, normalmente, é destinado a artistas locais. O papel do apresentador é entreter o público entre um show e outro.
No primeiro final de semana do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no sábado (12), o cantor Zeca Baleiro criticou a longa passarela que distancia o público do artista, revelando um “espaço vip” para autoridades. O prefeito Sivaldo Albino subiu ao palco durante o show de Hungria para justificar a estrutura. “Teve artista que tocou aqui e estava reclamando da passarela. Artista que não consegue andar para ficar perto do público, não dá pra estar tocando. A passarela é grande justamente para isso: rodar, contagiar, sentir o calor de vocês”, defendeu o gestor.
Em Sertânia, na 51ª Expocose, na quinta-feira (10), a prefeita Pollyana Abreu foi convidada a beber uísque diretamente do gargalo durante o show À Vontade, de Luan Estilizado, Raí Saia Rodada e Zezo Potiguar.
E em Glória do Goitá, nos 148 anos do município, o prefeito Jaiminho subiu ao palco com a banda Os Tralhas para dançar o “passinho”. Em todos os casos, a linha que separa evento público de celebração particular é simplesmente ignorada.
Diante da mais grave ameaça à soberania e à economia brasileiras em muitos anos, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), fez um silêncio ensurdecedor, que é também, e acima de tudo, revelador. Enquanto o presidente Lula se posicionava firmemente em defesa dos interesses nacionais contra a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump, contando com o apoio quase uníssono das instituições públicas, privadas e da sociedade civil, a chefe do governo de Pernambuco, cujo estado seria drasticamente afetado, optou por uma inexplicável mudez.
O que poderia justificar tal omissão? Os sinais apontam para o cálculo político que sobrepõe o futuro do seu partido às necessidades urgentes do povo de Pernambuco (e do Brasil).
A medida anunciada por Trump em carta direta a Lula é um ataque direto à indústria e ao comércio do Brasil. Para Pernambuco, que luta para expandir suas exportações e fortalecer seu parque industrial, uma barreira de 50% num dos maiores mercados consumidores do mundo é um atentado. Setores vitais para a economia local, da fruticultura irrigada no Vale do São Francisco aos produtos manufaturados que partem do Porto de Suape, estão sob ameaça iminente.
Seria o dever primário da governadora liderar a reação por aqui, mobilizar sua base e defender os interesses econômicos do estado que a elegeu. Contudo, o que se vê é um vácuo de liderança onde ela deveria estar atuando.
Adicionando um tom ainda mais grave ao cenário, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) divulgou um levantamento que quantifica o desastre iminente. Segundo a autarquia, a tarifa de Trump pode gerar uma perda de R$ 16 bilhões por ano para o Nordeste, valor equivalente ao total exportado pela região aos Estados Unidos em 2024.
Pernambuco, especificamente, enfrenta um prejuízo potencial de US$ 205 milhões. Produtos-chave da pauta de exportação do estado, como o açúcar, as uvas do Vale do São Francisco e estruturas de aço, que tiveram os EUA como segundo maior comprador no último ano, seriam diretamente atingidos. O superintendente da SUDENE, Danilo Cabral, classificou a medida como prejudicial para ambos os lados, destacando a ironia de que o mercado nordestino importou quase R$ 33,5 bilhões em produtos norte-americanos em 2024, sugerindo que uma retaliação brasileira baseada na reciprocidade produziria perdas significativas também para os Estados Unidos.
Estes dados concretos da SUDENE não deixam margem para dúvidas sobre a urgência do problema, tornando o silêncio da governadora ainda mais indefensável.
Este vácuo, no entanto, pode não ser fruto do acaso, mas de uma complexa teia de alianças que amarra a governadora. Raquel Lyra pertence ao PSD, partido presidido nacionalmente por Gilberto Kassab. O mesmo Kassab que, sem qualquer pudor, já anunciou publicamente a intenção de sua legenda em apoiar o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) para a Presidência da República em 2026, mesmo tendo indicado três ministros no governo Lula: Carlos Fávaro (Agricultura), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e André de Paula (Pesca). O último, lembre-se, tem uma filha empregada por Raquel na (infelizmente) insignificante secretaria de Cultura.
Tarcísio, o afilhado político de Jair Bolsonaro e atual governador de São Paulo, teve a audácia de propor ao STF que o ex-presidente inelegível fosse autorizado a viajar aos Estados Unidos para “negociar” com Trump. A manobra, prontamente rechaçada, expõe a estratégia do grupo: em vez de defender o Brasil de forma soberana, a aposta é na subserviência e na “amizade” pessoal entre Bolsonaro e Trump para resolver uma crise de Estado, dando ao causador da crise (Bolsonaro enviou o filho aos EUA para pedir a Trump que tomasse medidas contra o Brasil para que Jair escapasse da punição pelos seus crimes) a chance de fugir das barras da Justiça.
Ou seja, o candidato que o partido da governadora pretende apoiar em 2026 busca uma solução que passa por um alinhamento com a própria figura que hoje ataca a economia brasileira e pela impunidade ao grupo político-familiar que atentou contra o Estado Democrático de Direito no Brasil.
Fica a incômoda, porém inevitável, pergunta: o silêncio de Raquel Lyra é uma tentativa de não desagradar Gilberto Kassab e o projeto presidencial de Tarcísio? Estaria a governadora evitando um confronto direto com a retórica de Trump para não criar atritos com o campo político do qual seu partido dependerá em 2026?
Pernambuco não pode ser refém de jogos palacianos e ambições futuras de quem sempre utiliza a estratégia de se acovardar nos momentos mais decisivos. Os empresários, trabalhadores e toda a população pernambucana merecem uma governadora que os defenda sem hesitação. Ao se calar, Raquel Lyra não apenas falha em seu dever como líder estadual, mas também envia uma mensagem direta de que, na balança entre os interesses de Pernambuco e os conchavos de seu partido, a segunda opção parece pesar mais. O estado espera uma posição firme, e a ausência dela é, por si só, uma resposta. E uma resposta muito decepcionante.
Termina nesta segunda-feira (14) o prazo para que a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresente suas alegações finais na ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus.
Todos integram o chamado “núcleo 1”. Eles são investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações são da CNN Brasil.
Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens
Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Defesa e da Casa Civil
Alexandre Ramagem, deputado e ex-diretor da Abin
Almir Garnier, almirante e ex-comandante da Marinha
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF
Augusto Heleno, general e ex-ministro do GSI
Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa
O parecer de Paulo Gonet Branco é a última manifestação da acusação antes do julgamento do mérito e consolida todas as provas colhidas durante a instrução.
O documento vai expor o posicionamento do procurador-geral pela condenação ou absolvição dos acusados e pode sugerir as penas aplicáveis, conforme os crimes atribuídos a cada réu.
Bolsonaro e os demais réus respondem por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão em regime fechado.
O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) é a única exceção. Ele teve duas das acusações suspensas pelo Congresso e responde agora somente por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito e organização criminosa.
Depoimentos e provas Durante a fase de instrução, a PGR colheu depoimentos que devem pesar na avaliação final. A maior parte das testemunhas afirmou que Bolsonaro estava abatido com a derrota nas eleições e pronto para entregar o governo.
Algumas confirmaram o descontentamento do ex-presidente e de aliados com o resultado das urnas, mas negaram discussões sobre um plano de golpe.
Por outro lado, os ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, confirmaram que houve articulações para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter Bolsonaro no poder.
Também há relatos de uso político da PRF (Polícia Rodoviária Federal) nas eleições. O ex-coordenador de inteligência da corporação, Adiel Pereira Alcântara, afirmou que houve ordens para a PRF “tomar um lado” no pleito de 2022.
Em interrogatório, o próprio Bolsonaro admitiu que discutiu “possibilidades” para contestar o resultado eleitoral, mas disse que tudo ocorreu dentro dos limites da Constituição. Segundo ele, foram cogitadas ações como o uso de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) diante de bloqueios de rodovias e protestos em quartéis.
O ex-presidente confirmou ainda que, em 7 de dezembro de 2022, foram projetados os considerandos de uma minuta de decreto durante reunião com comandantes das Forças Armadas, no Palácio da Alvorada, mas alegou que a proposta “nasceu sem força” e não avançou.
Próximos passos Depois das alegações finais da PGR, Moraes vai intimar o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do esquema, a apresentar o seu memorial, também em 15 dias.
Em seguida, as defesas dos demais réus também terão 15 dias – simultâneos – para enviar suas alegações finais, pedindo ao Supremo a absolvição de seus clientes.
Com todas as manifestações apresentadas, o relator do caso poderá elaborar seu voto e liberar o processo para julgamento.
A expectativa é que o julgamento ocorra em setembro. A data será marcada pelo presidente da Primeira Turma do STF, ministro Cristiano Zanin, após a análise dos demais ministros.
Sob o ponto de vista econômico, o tarifaço de 50% imposto aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, pelo diabólico presidente americano Donald Trump, terá impacto profundo na indústria nacional. Os Estados Unidos são um importante mercado para produtos como aço, petróleo e aviões. Apenas nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil vendeu aos americanos o equivalente a 20 bilhões de dólares.
Com a taxação, as mercadorias ficarão mais caras para quem importa e as transações comerciais entre os dois países tendem a diminuir, desorganizando toda a cadeia produtiva. Sob o ponto de vista político, a confusão também promete ser de grandes proporções. Pego no contrapé, o governo reagiu à ofensiva seguindo o protocolo indicado para uma guerra comercial.
Anunciou que pretende sobretaxar na mesma proporção as importações oriundas dos EUA, enquanto tentará resolver o impasse por meio dos canais diplomáticos. O problema é que, a exemplo de uma guerra convencional, o lado mais frágil tende a levar a pior quando não há equilíbrio de forças. E o Brasil é o lado mais fraco dessa disputa.
Em 2 de abril, quando Trump anunciou as novas taxas de importação que seriam cobradas sobre os produtos de cada um dos países com os quais os Estados Unidos mantêm relações comerciais, o Brasil tinha se dado bem, aparentemente. As exportações para os Estados Unidos pagariam “apenas” os 10% de alcance universal, ou seja, a tarifa básica à qual todas as nações seriam submetidas.
O fato de Trump ter definido alíquotas muito mais altas para parceiros como Vietnã (um total de 46%) ou China (34%, que escalaram para mais de 100% depois) foi entendido até mesmo como uma oportunidade para empresários brasileiros ocuparem espaços no mercado americano. De uma hora para a outra, a conta mudou completamente. A taxa imposta agora ao Brasil é a mais alta de todas as que foram anunciadas para mais de vinte países. Na prática, foi um golpe americano na soberania brasileira.
Inicialmente poupado do pior, o Brasil passou a ser o mais atingido pela guerra tarifária do demônio em forma de gente. Não há nenhuma justificativa econômica para isso. A raiz do conflito é outra: uma investida em assuntos comerciais associada a um jogo vergonhoso e sujo na tentativa de salvar o ex-presidente Bolsonaro da cadeia, o curso mais natural do processo que se afunila no STF.
PROMESSA CONCRETIZADA – Trump, como se sabe, cultua uma certa admiração pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Antes mesmo de ser oficializado como candidato ao governo dos Estados Unidos, em 2024, ele disse a Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três do capitão, que a situação jurídica do ex-presidente seria tratada como prioridade caso retornasse à Casa Branca. Faria, enfim, o que fosse possível para ajudar Bolsonaro a se livrar do processo que tramita no STF, onde é acusado de tramar um golpe de Estado no fim de seu governo.
Eduardo mobilizou parlamentares americanos – Desde que tomou posse, em janeiro, Trump enviou recados por meio de seus assessores e aliados indicando que estava disposto a cumprir a promessa. Autoexilado nos Estados Unidos a pretexto de fugir da “perseguição” promovida pelo STF na figura de Alexandre de Moraes, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) mobilizou parlamentares americanos, distribuiu dossiês com um inventário de decisões do ministro tidas como controversas e manteve contatos durante todo esse tempo com a Casa Branca. Numa entrevista à revista Veja chegou a dizer que Moraes se comportava como “um tirano” e que o Brasil estava vivendo sob um regime de exceção.
Peixes retidos em Suape – Apenas 24 horas após Donald Trump anunciar tarifas de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil, empresários norte-americanos suspenderam a compra de pescados brasileiros. Por isso, 58 contêineres de peixes, lagostas e camarões foram desembarcados de três dos principais portos do Nordeste, os de Salvador, Pecém (CE) e Suape. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, 70% das exportações feitas pelo setor têm como destino os EUA, o que torna os produtores vulneráveis. Para ele, a situação vai na contramão da relação comercial que o Brasil tem com os EUA historicamente.
Preços devem subir – Os tempos sombrios na política de exportação não se restringem ao setor de pescados e já atinge outras regiões e produtos do País. A economista Regiane Vieira alerta que as cadeias produtivas que são mais sensíveis à exportação para Estados Unidos, como pescado, pode ter um reflexo na redução de empregos caso o Brasil não consiga abrir novos mercados. A economista disse, ainda, que, como primeiro efeito do tarifaço, os preços dos produtos devem subir.
Tarcísio recua na besteira que falou – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mudou o tom de aliado bolsonarista. No sábado, disse que é necessário unir “esforços” para “resolver a questão” da tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano). Na prática, a declaração representa uma mudança de comportamento depois de ele responsabilizar, em 9 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela taxação do governo norte-americano. Tarcísio havia dito que não adiantava o petista “se esconder atrás de Bolsonaro”.
CURTAS
PREFEITOS 1 – A revista Veja desta semana traz uma ampla reportagem sobre a polarização antecipada entre Raquel e João nas eleições estaduais de 2026, mas comete um equívoco: afirma que a governadora se fortalece porque está atraindo um exército de prefeitos para garantir a sua reeleição.
PREFEITOS 2 – Prefeito não tem influência nenhuma em eleição majoritária. Miguel Arraes tinha no seu palanque 150 prefeitos e perdeu a eleição para Jarbas. Eduardo Campos, por sua vez, derrotou Mendonça Filho, este no exercício do cargo e contando igualmente com mais de 100 prefeitos ao seu lado.
LANÇAMENTOS – Retomo por Flores, no próximo dia 23, a agenda de lançamentos do meu livro Leões do Norte. No dia 24, estarei em Floresta e no dia 25 em Serra Talhada. Triunfo e Afogados da Ingazeira, que também tiveram suas noites de autógrafos adiadas por causa da morte da minha cunhada Socorro Martins, serão agendados para agosto.
Perguntar não ofende: Trump vai antecipar uma conversa com Lula?
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse neste domingo (13) que o Brasil buscará abrir mercados com outros países como uma alternativa às taxações dos EUA (Estados Unidos), que impôs tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros vendidos ao país norte-americano a partir de 1º de agosto.
“Vários produtos são chamados commodities, são aqueles produtos padrões. Exemplo de petróleo, café, carne, que facilmente você consegue destinar a outros países. Nós vamos buscar abrir outros mercados de outros países para colocar nossos produtos. E, eventualmente, se essa taxa se mantiver, nós vamos aplicar a reciprocidade com várias medidas. Não serão só apenas taxas, outras medidas serão adotadas”, declarou o ministro durante entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, em Salvador (BA). As informações são do Poder360.
O ministro baiano classificou como “absurda” a carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que “chega a ser inacreditável”.
“Quando a gente viu a notícia, ninguém acreditou. Tivemos que confirmar com a embaixada se aquilo era verdade ou não. Todo mundo achava que um hacker tinha invadido a conta do presidente da República norte- americana, porque isso nunca aconteceu na história da diplomacia internacional, seja no método de um presidente da República pegar uma carta e enviar para outro através de uma rede social. Nem enviou por e-mail, nem por fax, e a carta até hoje não chegou, nem fisicamente, ou seja, isso não existe”, afirmou.
O chefe da Casa Civil declarou que o ministro do Mdic (Ministério, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), o da Fazenda, Fernando Haddad, e a da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), Gleisi Hoffmann, vão criar um grupo de trabalho nesta semana para preparar medidas de reciprocidade aos EUA até 1º de agosto.