“Nós não aceitamos que, em nome da liberdade de expressão, você fique utilizando [as plataformas] para fazer agressão, fazer mentira, para prejudicar, [estimular] violência contra a criança, ódio entre as crianças, violência contra as mulheres, os negros, LGBTQIA+. Aqui a gente não vai permitir, porque o dono do Brasil é o povo brasileiro”, discursou.
Lula criticou diretamente Trump e disse que não aceita “ordem de gringo”, mas reiterou que o governo brasileiro tem disposição de negociar. Ele culpou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de “patriota falso” e “traidor da pátria”, pela medida dos EUA.
O presidente descartou a possibilidade de recuo no julgamento do ex-presidente e de aliados por tentativa de golpe de Estado no país, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) — condição imposta pelo governante americano para que a tarifa seja suspensa.
“Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República”, disse Lula, após relembrar sua trajetória desde Pernambuco até o Palácio do Planalto. “Nós vamos responder da forma mais civilizada possível e da forma que um democrata responde. A primeira coisa é que nós não aceitamos que ninguém de nenhum país fora do Brasil se meta nos nossos problemas internos”.
Lula mencionou o ineditismo do julgamento que atinge membros da cúpula das Forças Armadas. “Essa gente vai ser julgada. Não vai ser julgada porque o Lula quer que eles sejam julgados. Eu não sou juiz, mas [essa gente] vai ser julgada porque eles mesmos se autodelataram.” Ele ainda afirmou que o antecessor também terá que ser responsabilizado por mortes na pandemia de covid-19.
O presidente disse que está com “muita tranquilidade” em relação ao tarifaço porque acredita na busca de acordos. “O Brasil gosta de negociação, respeita negociação e diálogo e não tem contencioso com nenhum país do mundo.” Segundo ele, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, estão empenhados nas negociações tarifárias com os EUA há mais de dois meses, com uma carta enviada em 16 de maio.
“Eu nasci aprendendo a fazer negociação. Eu tenho certeza que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na vida”, afirmou Lula, acrescentando que o Brasil é um defensor do multilateralismo.
“O Brasil tem déficit comercial com os EUA. Por isso, a gente não aceita a carta do presidente americano”, acrescentou Lula, que repudiou a maneira atípica como Trump comunicou a medida, publicando uma carta via rede social, o que ele disse ser inaceitável e desrespeitoso. “A carta não fala em negociação. A carta é o seguinte: ou dá ou desce”, afirmou.
Ele também declarou que Trump “certamente seria julgado e poderia ser preso” se “morasse no Brasil e tentasse fazer aqui o que ele fez no Capitólio”.
Família Bolsonaro
Lula vinculou a medida anunciada por Trump à família do ex-presidente e voltou a ironizar o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), responsável pelas articulações do bolsonarismo em solo americano. “Liberta meu pai, liberta meu pai”, disse o presidente, simulando um tom de súplica e insinuando que o parlamentar pressiona Trump a pedido de Bolsonaro.
“Eles têm que ser tratados por nós como os traidores do século 20 e do século 21 da história do nosso país”, afirmou Lula, dizendo que os adversários “se escondem na sua covardia” e não deixam o Brasil viver em paz.
“Eles [família Bolsonaro] não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer à indústria, à agricultura, ao , aos serviços e ao povo brasileiro”, prosseguiu, sob aplausos dos participantes do congresso da UNE.
Lula empunhou as bandeiras do nacionalismo e do patriotismo, dentro do tom que vem sendo adotado pelo governo brasileiro à ameaça de taxação. “A bandeira verde e amarela vai voltar a ser do povo brasileiro”, disse. “Aqui quem manda somos nós, brasileiros. […] Esse país só é soberano porque o povo brasileiro tem orgulho desse país”, acrescentou.
Depois, falou sobre a necessidade de países desenvolvidos contribuírem financeiramente para que o Brasil “mantenha as florestas de pé”, já que os recursos naturais “deles” já foram consumidos. “Nós não aceitamos que ninguém venha nos dar lição. Conselho a gente até aceita, mas lição nós não aceitamos”, discursou.
O presidente usou um boné azul com a frase “Brasil soberano nos une”, peça também vestida pelos ministros que o acompanharam no ato e pela primeira-dama, Janja da Silva.
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