Fotos: Francisco Silva/DP Foto
Mesmo após desembolsar R$ 80 milhões para desapropriar o terreno do Colégio Americano Batista, no Recife, em fevereiro de 2023, o Governo Raquel Lyra passou dois anos e meio sem mover uma palha para dar uma destinação ao imóvel. A promessa de instalar um complexo escolar da rede estadual se perdeu na falta de projetos, a etapa mais básica de qualquer empreendimento desse porte. O descaso e o abandono cobraram seu preço. Na segunda-feira (4), cerca de 200 pessoas do Movimento Moradia Digna ocuparam o espaço, e a promessa é de que mais 300 se juntem ao grupo nos próximos dias.
Os manifestantes são de municípios como Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, todos, curiosamente, administrados por prefeitos aliados da governadora Raquel Lyra (PSD). Eles alegam que o terreno está abandonado e usam o movimento para chamar atenção para a falta de moradia.
Leia maisO Governo de Pernambuco não comentou o caso publicamente, mas, nos bastidores, interlocutores já falam que a ocupação agravou ainda mais o imbróglio em torno do imóvel, que já havia sido desapropriado em meio a demandas trabalhistas e tem problemas estruturais até mesmo em segmentos do muro externo, pondo em risco pedestres que circulam no entorno sem que qualquer ação emergencial tenha sido adotada pelo governo.

Em audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) em abril deste ano, o secretário de Educação, Gilson Monteiro Filho, renovou a promessa de que o Americano Batista teria uma destinação voltada à rede estadual, mas evitou falar de prazos. Relatório da pasta que ele comanda, porém, indica que o próprio governo parece não saber o que fazer com o imóvel, que é alocado entre as despesas de manutenção da sede da secretaria, e não no item referente à modernização da rede escolar. Significa que nem mesmo a equipe da governadora Raquel Lyra trata o espaço como uma futura escola.
Os R$ 80 milhões empregados na desapropriação do imóvel também contrastam com outras despesas da área. Construir uma escola técnica, por exemplo, demanda entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, conforme dados da própria Secretaria de Educação. Ou seja, o mesmo recurso usado para deixar o Americano Batista parado por dois anos e meio poderia ter sido usado na construção de, pelo menos, quatro escolas técnicas, beneficiando mais estudantes em diferentes regiões do estado.
Agora, com a ocupação do terreno por pessoas sem teto, mais recursos públicos certamente serão demandados, já que o espaço está sujeito a sofrer alterações e depreciações que podem agravar suas condições estruturais em relação ao estado que tinha no momento em que foi desapropriado, em 2023, o que pode encarecer eventuais projetos feitos para o local.
Leia menos