Por Julierme Veras de Moura*
Hoje é dia 15 de novembro, dia em que se comemora a Proclamação da República, e normalmente em datas comemorativas fazemos reflexões de como foi conduzida nossa caminhada até os dias atuais, e como será o nosso futuro a curto e a longo prazo. Dito isso, precisamos fazer uma reflexão de qual rumo nossa república está tomando.
Há uma semana, na última sexta-feira dia 08 de novembro, Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, foi executado na entrada do aeroporto mais movimentado do País, o aeroporto de Guarulhos em São Paulo, atribui-se o atentado a facção criminosa que atua no país e que já possui ramificação em, praticamente, todos os seus estados. As primeiras informações são de que a ação teria ocorrido como “queima de arquivo”, em virtude da vítima ter feito um acordo de delação premiada, no qual repassava informações que comprometia, e muito, as finanças dessa facção.
Leia maisEsse atentado tem trazido aos debates o questionamento de se o Brasil já vive em condições análogas a de um Narcoestado, muito em virtude do nível de poder e de ramificação das facções criminosas em todo o território nacional, pois antes o que era restrito aos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, já assume capilaridade em diversas localidades rurais e urbanas em quase todos os 27 estados da federação.
Atualmente, cidades como Fortaleza, Manaus e João Pessoa já despontam como novos focos de atuação dessas facções, desafiando a noção de que o crime organizado seria restrito às maiores metrópoles brasileiras. Essa expansão é um indicativo de que as facções estão diversificando sua presença geográfica e buscando consolidar o controle sobre novas áreas. Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), destaca que o processo de nacionalização do crime organizado no Brasil vem ocorrendo desde o início dos anos 2000.
Ainda no mês de setembro desse mesmo ano , uma investigação da Polícia Civil do estado de São Paulo revelou que o PCC havia criado um banco digital, o 4TBank, com sede em Mogi das Cruzes e teria movimentado R$ 8 bilhões e, segundo os investigadores, os valores eram movimentados por membros do PCC para financiar campanhas de candidatos em diferentes cidades do estado de São Paulo, para que quando eleitos direcionassem os contratos públicos para empresas ligadas à organização criminosa, que utilizavam os serviços para lavar dinheiro.
Um dia após o atentado do aeroporto de Guarulhos a desembargadora do TJSP Ivana David, em entrevista à CNN Brasil destacou que “ o Brasil deixou de ser apenas um corredor de drogas para se tornar o segundo maior consumidor de cocaína do mundo”, esse fato por si só muda completamente a realidade nacional em torno do tamanho do mercado, da quantidade de pessoas integrantes das facções responsáveis por essa atividade, e ainda a quantidade de dinheiro movimentada por aqui decorrente do comércio ilícito de entorpecentes e armas internacionais utilizadas para a defesa desse empreendimento delituoso.
Nessa mesma linha, o Procurador de Justiça do Estado de São Paulo, afirmou no último dia 11 desse mesmo mês que “O Brasil está muito perto de se tornar um Narcoestado. Isto é, comandado pelo crime organizado voltado para o tráfico de drogas.”
Mas afinal, o que seria um Narcoestado? Historicamente atribui-se o uso do termo pela primeira vez para descrever a o governo da Bolívia após o golpe de Luis García Meza, o qual foi financiado principalmente com a ajuda de narcotraficantes, e o surgimento de poderosas organizações criminosas (cartéis) na Colômbia, tudo isso na década de 1980.
A definição mais comum de Narcoestado diz que é aquele onde o tráfico de drogas tem relevância dentro da sua atividade econômica, e ainda cujas instituições políticas se encontram significativamente influenciadas pelo tráfico.
*Bacharel em Direito e especialista em gestão de políticas de segurança pública
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