Do jornal O Globo
O número de mortos em Mianmar após o terremoto de magnitude 7,7 que atingiu o país na última sexta-feira (28) subiu para 1.644, segundo o último balanço divulgado hoje pela junta militar no poder, que indicou também ao menos 3.408 feridos. O forte tremor foi sentido na Tailândia e na China, provocando pânico e destruição. Equipes de resgate correm contra o tempo em busca de sobreviventes entre os escombros enquanto começa a chegar ajuda internacional enviada por vários países. A ONU já emitiu um alerta de que a “falta severa de medicamentos” está prejudicando os esforços de assistência.
O terremoto destruiu prédios, derrubou pontes e danificou estradas em Mianmar, que declarou estado de emergência nas seis regiões mais afetadas. Em um grande hospital na capital, Naypyidaw, os médicos foram forçados a tratar os feridos ao ar livre. A junta militar apontou que a maioria dos mortos se concentra em Mandalay, a segunda maior cidade de Mianmar, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, onde foram relatados danos severos.
De acordo com a Cruz Vermelha, mais de 90 pessoas podem estar soterradas nos escombros de um prédio residencial de 12 andares que desabou parcialmente e onde muitas pessoas escavam os escombros com as próprias mãos. Uma moradora foi retirada após 30 horas presa no que restou do prédio, sob aplausos de quem estava no local. — No início, eu não acreditava que ela estaria viva — celebrou marido.
Leia maisO comunicado oficial do governo de Mianmar sugeriu que a quantidade de vítimas fatais no país deve seguir aumentando ao informar que “números detalhados ainda estão sendo coletados”. Além disso, 139 pessoas seguem desaparecidas.
Com as comunicações prejudicadas tanto pelo terremoto como pela censura imposta pela ditadura para coibir a dissidência, com cortes de internet e de acesso às redes sociais, o quadro da tragédia em Mianmar só aos poucos deve ficar mais claro, mas o Serviço Geológico dos EUA (USGS, na sigla em inglês) prevê que o número total de mortes pode chegar a 10 mil. O modelo usado pelo USGS leva em consideração a proximidade de áreas povoadas e a vulnerabilidade da infraestrutura nesses locais. Mandalay fica muito perto do epicentro, por exemplo.
O aeroporto de Mandalay foi fechado devido ao desabamento do teto, que não deixou feridos, segundo as autoridades, mas isso pode complicar as operações de resgate em um país onde a guerra dizimou o sistema de saúde e isolou seus líderes do resto do mundo. O presidente da junta, Min Aung Hlaing, pediu assistência internacional e convidou “qualquer país, qualquer organização” a vir e ajudar.
Na vizinha Tailândia, que também sofreu danos e declarou estado de emergência, as autoridades da capital, Bangcoc, disseram que até agora seis pessoas foram encontradas mortas, 26 feridas e 79 ainda estavam desaparecidas, a maioria em um canteiro de obras perto do popular mercado Chatuchak, onde um edifício de 30 andares em construção desabou. Declarações anteriores disseram que 10 foram confirmados mortos e cerca de 100 estão desaparecidos.
— Não consigo descrever como me sinto. Tudo aconteceu num piscar de olhos — conta o pedreiro Khin Aung, imigrante de Mianmar que trabalhava no local e saiu minutos antes do terremoto ao fim de seu turno. — Todos os meus amigos e meu irmão estavam lá quando desabou. Estou sem palavras.
O terremoto ocorreu por volta das 12h50 (3h50 em Brasília) e o Serviço Geológico dos EUA indicou que o epicentro foi localizado a uma profundidade considerada “rasa”, de 9,6 quilômetros, a noroeste de Sagaing, perto de Mandalay. Um tremor secundário, de magnitude 6,7, foi registrado 12 minutos depois. Foi o maior terremoto a atingir Mianmar em mais de um século, com efeitos fortes na vizinha Tailândia. As autoridades da capital tailandesa disseram que enviarão mais de 100 engenheiros para inspecionar a segurança dos edifícios após receberem mais de 2 mil relatos de danos.
Com a gravidade da tragédia, a ajuda internacional começou a chegar ao país, já mergulhado num conflito civil que deslocou cerca de 3,5 milhões de pessoas, de acordo com a ONU, que também estimou que 15 milhões de pessoas corriam risco alimentar em 2025. As Nações Unidas alocaram US$ 5 milhões para iniciar os esforços de socorro. Uma equipe de 37 socorristas da província chinesa de Yunnan chegou à cidade de Yangon, antiga capital de Mianmar, na manhã de sábado com detectores de terremoto, drones e outros suprimentos, informou a agência oficial de notícias Xinhua. O presidente Xi Jinping falou com o chefe da junta, Min Aung Hlaing, enquanto a mídia estatal relatou que ele havia “expressado profunda tristeza” pela destruição.
O Ministério de Emergências da Rússia enviou dois aviões transportando 120 socorristas e suprimentos para a região, de acordo com uma reportagem da agência de notícias estatal Tass.
Índia, França e União Europeia se ofereceram para fornecer assistência, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que estava se mobilizando para preparar suprimentos para ferimentos por trauma. A Índia informou que enviou uma equipe de busca e resgate e uma equipe médica, bem como provisões, enquanto o Ministério das Relações Exteriores da Malásia disse que o país enviaria 50 pessoas no domingo para ajudar a identificar e fornecer ajuda às áreas mais atingidas.
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