Por Letícia Lins*
Entre os anos 1979 e 1985, o Recife viveu uma época de efervescência literária, que terminou impondo uma necessidade para toda uma geração de escritores e poetas. Como publicar uma produção tão grande? O que fazer para dar vazão a tantos textos e versos? Como organizar a resistência cultural e democratizar a literatura? Tudo isso passa pelo Edições Pirata, movimento libertário que abriu espaço para diferentes vozes no nosso estado, com publicações em prosa e verso. Toda essa história chega hoje à telona, com “Edições Pirata, o filme”, que estreia às 19h dessa segunda-feira, na Sala Derby do Cinema da Fundação, no Campus Ulysses Pernambucano.
Naquele período tão conturbado de nossa vida política, o Edições Pirata publicou “somente” 319 livros. E uma das casas que abrigou o movimento foi justamente o então Instituto Joaquim Nabuco (IJPS), hoje transformado em Fundação Joaquim Nabuco (atual Fundaj). É que alguns dos líderes e participantes do movimento trabalhavam lá, entre eles Jaci Bezerra, Andrea Mota e Nilza Lisboa. Na verdade, apesar do imenso grupo que congregava, o Pirata era liderado pelos poetas Jaci Bezerra, Alberto Cunha Melo (integrantes da Geração 65, ambos já falecidos) e também por Eugênia Menezes (foto abaixo). O filme é financiado pela Lei Paulo Gustavo e conta com apoio do Ponto de Cultura Nordestina Letras & Artes, que funciona no Poço da Panela. O documentário resulta de curso de cinema promovido pela Academia de Formação Audiovisual (AFA Filmes), e que contou com aulas no campus Derby da Fundaj.
Leia maisEntre os depoimentos prestados sobre o Pirata, encontram-se Tarcísio Pereira, fundador da Livro 7, que sempre apoiou a turma do movimento. O livreiro faleceu de Covid-19, em 2020. Também falam: Eugênia Menezes, Luzilá Gonçalves Ferreira, Andréa Mota, Marco Polo, Jomar Muniz de Brito, Cida Pedrosa, Raimundo Carrero, Cláudia Cordeiro. O documentário conta, ainda, com vídeos recuperados com falas de integrantes já falecidos do movimento: Alberto Cunha Melo, Celina de Holanda, Geninha da Rosa Borges, Jaci Bezerra. Prolífero, o movimento tinha um braço dedicado ao público infanto-juvenil, através do qual lançou a Coleção Piratinha. Dos doze lançamentos coletivos organizado pelos dirigentes do movimento, três foram da Piratinha.
Foram editados, ainda, vários outros autores, catálogos, o jornal “Cultura e Tempo”. Este chegou a ter correspondentes no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Paraíba, Sergipe, Argentina e Estados Unidos (na Universidade do Colorado). “Apesar de não ter participado ativamente do Movimento Pirata, o roteirista Paulo Lins foi capaz de apreender o espírito do movimento, transformá-lo em cenas memoráveis e trazê-lo com maestria para as telas do cinema”, diz Salete Rego Barros, da Cultura Nordestina, e que atuou como articuladora e pesquisadora cultural do documentário.
Para ela, o filme transmite “as emoções vividas por aqueles intelectuais que acreditavam na literatura como forma de transformar a realidade que permaneceu por 21 anos assombrando os ideais libertários do povo brasileiro”. Ela se refere à ditadura militar vigente, então, que impunha a censura e amordaçava boa parte da produção literária e artística do país.
*Do site Oxe Recife