Capítulo 21
Marco Antônio de Oliveira Maciel, ou simplesmente Marco Maciel, foi batizado no singular pelos pais José do Rego Maciel e Carmem Sílvia Cavalcanti, mas viveu no plural e exercitou a pluralidade nas ideias até a morte, em 2021. Garoto, herdou do pai uma dupla vocação – de advogado e político.
Leia maisMas na política, enquanto viu o pai abrir mão da Promotoria de Justiça para integrar a equipe do ex-governador Agamenon Magalhães como secretário e, pelo voto, chegar à Câmara dos Deputados, foi mais além. Em voo de águia, exerceu os cargos mais invejados e cobiçados por quem entra na vida pública em busca do poder.
Na condição de presidente da República interino, substituindo Fernando Henrique Cardoso, comandou o País 85 vezes, mais tempo que Jânio Quadros, que renunciou. Exerceu a política como uma ação missionária, como encarava a vida pública, mas nunca estimulou seus três filhos a ingressar na política. Gisela Maciel de Sant’Anna Braga, Maria Cristiana Maciel Guimarães e João Maurício Ferreira Maciel, seus três filhos, nesta ordem de nascença, só herdaram dele e do avô o gosto pela advocacia.
Todos são bacharéis em Direito. Concursada, Gisela é assessora do Tribunal de Contas de Goiás, onde mora. Cristiana, também concursada, é assessora jurídica no Conselho Nacional de Justiça, em Brasília, enquanto João Maurício, o caçula, mantém escritório de advocacia em Brasília. Talvez o destino tivesse levado João Maurício a suceder o pai na política.
Desde cedo, com apenas cinco anos, já acompanhava as caravanas do pai governador de Pernambuco, entre os anos de 1979 e 1982, entregando obras, vistoriando projetos e assinando novas ordens de serviços. “Eu via tudo aquilo com profunda admiração, mas nunca pensei em ingressar na política, porque, ao longo do tempo, aprendi com papai que política é vocação e eu não tenho essa vocação”, revela o caçula e único filho homem de Maciel.
Além de não entrarem para o ofício da política, Gisela, Cristiana e João Maurício nunca exerceram cargos públicos por apadrinhamento do pai, mas mediante concurso público, como ocorreu com as duas primeiras herdeiras. “Jamais passou pela cabeça do meu pai empregar filho em serviço público. Ele dizia que a política tem que ser exercitada como princípio, tendo o desenvolvimento como objetivo e a participação como instrumento de ação e não paternalismos”, disse João Maurício.
Dos filhos, Marco Maciel ganhou cinco netos – João Pedro, Luiza, Maria Isabel, Marco Antônio Maciel Neto e Eduardo. Perguntei a João Maurício, pai de Marco Maciel Neto, se o herdeiro teria vocação para preencher o vácuo da continuidade da obra do avô, em razão de ter na pia batismal recebido o nome do seu pai. “Ele tem apenas 15 anos, gosta de ler muito, acompanha o noticiário, mas ainda não despertou sua vocação”, conta o pai coruja.
Originalmente, Maciel teria sido o nome de uma família originária da França, mas desde o século XII ficou bastante utilizado em Portugal. Genealogistas dizem que o sobrenome teve origem nobre e antiga, remontando a um cavaleiro francês que teria se fixado em Portugal bem no início do País, na época do reinado de D. Afonso I, considerado o fundador do Reino de Portugal.
Os etimologistas classificam o nome Maciel, dentro da onomástica, como um nome toponímico, ou seja, um nome que surgiu por causa de um lugar. No caso do nome Maciel, acredita-se que tenha surgido por causa de uma propriedade rica em macieiras (plantação de maçãs). Mas o que essa história não fala é que, pelo menos no Brasil, ao Maciel foi acrescida a virtude da coragem.
“Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco. Se perdeu a honra, perdeu muito. Se perdeu a coragem, perdeu tudo”, dizia Marco Antônio de Oliveira Maciel, para quem “o sábio procura a sabedoria, o tolo encontrou-a.” Marco Maciel vem de uma escola política rígida, herdada do pai, cujo nome está eternizado no estádio do Santa Cruz, o Arrudão, no bairro do Arruda, no Recife.
José do Rego Maciel foi promotor de justiça e juiz. No pleito de outubro de 1954, elegeu-se deputado federal por Pernambuco na legenda da Frente Democrática Pernambucana, composta pelo PSD e pelo Partido Democrata Cristão (PDC), Partido Social Progressista (PSP), Partido Libertador (PL) e Partido de Representação Popular (PRP). Assumiu o mandato em fevereiro de 1955, e no mês de maio, passou a presidir o diretório regional do PSD, substituindo Etelvino Lins, que se demitira do cargo por discordar da candidatura de Juscelino Kubitschek à Presidência da República.
Ele também não concordava com a indicação e continuou a apoiar a candidatura de Juarez Távora, mesmo depois de assumir o novo cargo. Essa atitude ocasionou a intervenção no diretório pernambucano, de cuja presidência José do Rego foi afastado no mês de julho. Em 11 de novembro de 1955, estourou um movimento militar, liderado pelo general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra demissionário, visando, segundo seus promotores, barrar uma conspiração em preparo no governo e assegurar a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek.
O movimento provocou o impedimento dos presidentes da República Carlos Luz, em exercício, e Café Filho, licenciado, empossado na chefia da nação o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos. Como parlamentar, José do Rego Maciel votou contra o impedimento do presidente Carlos Luz e contra a decretação do estado de sítio, solicitada pelo Poder Executivo.
No seu último ano desta legislatura, participou dos trabalhos parlamentares como vice-presidente da Comissão de Serviço Público. Concluiu o mandato em janeiro de 1959, não mais retornando à Câmara. Em outubro do ano anterior, candidatou-se a vice-governador de Pernambuco na chapa do PSD encabeçada por Jarbas Maranhão, mas não se elegeu.
Como o filho Marco Maciel, estudou no Colégio Nóbrega e bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1930. A partir de 1939, José do Rego ocupou o cargo de secretário da Fazenda. Nesta condição, assessorou o interventor Agamenon Magalhães (1937-1945) na reunião de interventores federais no Nordeste em que foi aprovado que se recomendasse à União o aproveitamento da cachoeira de Paulo Afonso.
Tomou parte no Congresso dos Secretários da Fazenda, em 1941, de cuja sessão de instalação foi orador oficial. Permaneceu na Secretaria da Fazenda até novembro de 1945, sendo que, por um breve período, neste ano, ocupou interinamente também a de Justiça.
“Nosso berço político é muito forte e há quem ache estranho papai não ter deixado um herdeiro na política como é tradição forte no Brasil, mas eu te confesso uma coisa: papai nunca nos pressionou por nada. O que ele ensinou a vida inteira é que a gente optasse, profissionalmente, pelos caminhos da vocação”, revela João Maurício. Ele guarda os ensinamentos do pai em seu escritório de advocacia.
“Deve, o político – como aprendi com o padre Lebret – procurar andar mais depressa que os acontecimentos, ver com antecipação e realidade e agir prontamente sobre a causa dos problemas.” Este é um deles, como outros, entre os quais: “Sou dos que acreditam no poder transformador e inovador da Política, a que me dediquei desde os bancos da universidade, sem que tivesse motivos de arrependimento ou desesperança.”
Maestro da redemocratização, vice-presidente da República, ministro, governador de Pernambuco, presidente da Câmara dos Deputados, senador, deputado estadual e líder estudantil, Marco Maciel nunca deixará, segundo o filho, de ser uma referência na formação de quadros da política que servem à sociedade.
“Ele era um ser admirável e muito simples, nunca deixou se embriagar pelo poder”, atesta João Maurício, lembrando uma frase lapidante do pai: “Todo político é sempre um político provinciano. Por mais universal que seja a vocação de cada um, é na terra em que nascemos que buscamos força, inspiração e alento.”
No dia 8 de agosto de 2016, Marco Maciel foi homenageado em sessão solene na Assembleia Legislativa de Pernambuco pelos 50 anos de atuação política. Já afastado da vida pública por conta do Mal de Alzheimer, diagnosticado em 2014, Maciel foi representado por sua esposa Anna Maria Maciel e pelo filho João Maurício. Maciel faleceu em Brasília no dia 12 de junho de 2021 em decorrência de complicações do Mal de Alzheimer.
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